A Argentina está nas manchetes. E nem falo da "invasão" do "Clarin" pelos fiscais de Kirchner. Sobre isso escrevo mais adiante.

Tenho uma simpatia imensa pela Argentina. Adoro Buenos Aires. Meu irmão viveu lá, e por indicação dele conheci lugares fora do roteiro comum dos brasileiros que vão de férias pra lá. Como a “Reserva Costanera Sur”. Um parque na beira do Rio da Prata, meio escondido atrás dos prédios do centro financeiro da capital portenha.
Tive a sorte, também, de conhecer razoavelmente bem o interior do país.
Em 2004, com meu irmão e meus dois filhos mais velhos, aventurei-me pelo oeste e o norte da Argentina, num “motorhome” (espécie de casa sobre rodas).
Que belo país. E que povo acolhedor.
Mendoza foi nossa primeira parada. Cidade encantadora. Calma, planejada. Bem ao lado fica Lujan del Cuyo, terra das vinícolas (sim, os famosos vinhos de Mendoza, na verdade, são de Lujan del Cuyo). Passeamos pelos vinhedos, provando vinhos deliciosos e baratíssimos.
Dos vinhedos, a gente via o paredão dos Andes se agigantando no horizonte. Subimos até lá, e fomos a um lugar conhecido como “Puente Del Inca” (lugar onde ficava um Hotel de águas termais, hoje abandonado; com zero graus, tomamos banho de águas termais nas ruínas do velho hotel).
Depois, tomamos o rumo do norte: ali a Argentina fica com uma cara mais indígena. Muito interessantes as províncias de Salta e Jujuy, especialmente.
Em 2007, escolhi outra rota. Fui com a família toda para a Península Valdez, começo da Patagônia. Que maravilha! Os pingüins, elefantes-marinhos. E, de novo, um povo acolhedor – nos cafés, restaurantes, nas estradas e nas cidades.
Por isso, não entendo essa implicância com os argentinos.
“Ah, mas eles são arrogantes”, dizem. Juro que não concordo.
Sempre que estive na Argentina (e foram muitas vezes nos últimos dez anos), fui bem tratado.
Eles admiram muito os brasileiros. Em 2002, logo depois da crise do “corralito” (quando a grana sumiu e os bancos quebraram), fui fazer uma reportagem em Buenos Aires sobre “A vida sem dinheiro”.
Os portenhos haviam criado “clubes de trocas”. Sem dinheiro, dentistas trocavam horas de trabalho por tortas de carne ou empanadas. Cabeleireiras trocavam cortes de cabelo por calças e blusas de lã.
Antes das trocas começarem, num imenso galpão abandonado da periferia de Buenos Aires, o povo lá cantou o hino nacional. Foi emocionante. Aquela gente, na pior, estufando o peito e tentando encontrar orgulho sabe-se lá onde, no meio daquela crise horrível.
Quando a cantoria acabou, comentei com o argentino que nos servia de guia: “você são patriotas, hem”. E ele: “não, patriotas são os brasileiros, que não precisam cantar o hino nacional toda hora, e que souberam preservar suas empresas, suas estatais, sem vender tudo para os estrangeiros”.
Fiquei a pensar nisso. Os argentinos são - na aparência – mais “politizados”, mais “patriotas”. Os brasileiros parecem menos fervorosos nessas coisas. Mas os argentinos acham que somos mais práticos. Acham que, sem fazer tanto barulho, sabemos ( os brasileiros) defender melhor o “interesse nacional”.
Será?
Há outras diferenças. Lá, eles punem (ou tentam) seus torturadores. No Brasil, fazemos de conta que nada aconteceu. Aí, eu invejo os argentinos.
Também os invejo por terem uma capital tão agradável. Buenos Aires é uma delicia, uma cidade feita para o trabalho, mas também para flanar, sem pressa, olhando o movimento das ruas.
No futebol, grande fonte de nossas rivalidades, penso que as coisas são mais equilibradas. Em Copas do Mundo, levamos vantagem clara. Em 90, foi doída aquela derrota pro time comandado por Maradona, com o gol de Canigia. Mas, cá entre nós, o time deles era muito melhor. Foi uma vitória merecida.
Mas, nas Copas Libertadores, eles nadam de braçada.
Torço para que os argentinos estejam na Copa da África do Sul. Não para “bater neles em jogo de Copa” – como ouvi de um radialista dia desses. Mas porque gosto dos argentinos, e sei como seria dolorido pra eles ficar fora da Copa.
Também torço pelo Maradona. Personalidade menos linear e menos óbvia do que a do nosso grandioso Pelé.
E torço – voltando ao tema de abertura desse texto – para que os Kirchner vençam a queda de braço com o grupo “Clarin”. Trata-se de um grupo que (como ocorre aqui no Brasil) é dono de jornais, TVs, rádios, um poder absurdo. São oligarcas da imprensa.
Os Kirchner têm muitos defeitos. Personalismo e centralismo são alguns. Mas é preciso entender o que está em jogo. A imprensa brasileira tenta transformar essa queda de braço em uma disputa entre “liberdade de imprensa” e “autoritarismo”.
Não é nada disso. Trata-se de um capítulo da luta pela libertação da América Latina. A turma do “Clarin” está do lado daqueles que gostariam de ver nossos países transformados em novas colônias.
Torço para que a Argentina se liberte. Torço para que a Argentina seja grande e feliz. Dentro de campo e fora dele.
Do Blog do Rodrigo Viana
Do Blog do Rodrigo Viana
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