sexta-feira, 27 de novembro de 2009

TV Globo quer um Itamaraty de vira-latas


O sabujismo diplomático foi formulado pelo Farol de Alexandria

Ontem à noite, consegui ver o Jornal Nacional da tevê Globo. Admito que se continuar cometendo essa imprudência, em poucos dias mais estarei definitivamente convertido ao lulismo de resultados. É inevitável, a estupidez da Globo provoca o efeito contrário ao pretendido por seus editores, joga o espectador nos braços gordinhos de Lula. Se o sujeito não for Homer Simpson ao-pé-da-letra, se tiver o lampejo mais adiantado - pouca coisa - que as governadoras Yeda Rorato e Sarah Palin, se não zurrar agudo e não andar de quatro, vira lulista no ato. Inverte-se, assim, a intenção original da Globo. [Aliás, suspeito que aí mora um dos motivos da popularidade exponencial de Lula.]

A tevê da família Marinho está atacando o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. É que o ministro afirmou que o Brasil não vai reconhecer as eleições de Honduras, marcadas para o próximo domingo. Já o governo dos Estados Unidos defende que o reconhecimento do resultado das eleições presidenciais em Honduras pode ajudar a colocar um fim à crise política que se instalou no país desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho passado.

Se vocês desconfiam que o presidente Lula é conciliador, tenham a mais absoluta certeza que o presidente Obama incorpora no fundo cavo de sua nobre alma a quintessência da própria conciliação. Obama está convicto que eleições, qualquer eleição, têm propriedades mágicas de "branquear" (a ótima expressão é de Marco Aurélio Garcia) a sujeira e a vileza de um golpe de Estado, como o golpe que foi desfechado contra Manuel Zelaya em Honduras, meses atrás. Obama acredita nisso porque quer proteger os interesses dos 10 ou 15 bilhões de dólares que empresas norte-americanas têm aplicados em Honduras, especialmente, em suspeitos business de maquiagem de mercadorias. Obama quer combinar variáveis inconciliáveis de interesses multitudinários: democracia formal com golpe sujo com eleições fake com investidores inescrupulosos com pose de detentor de Nobel da paz com anti-Bush com oligarquias fascistas centro-americanas... Quer harmonizar num bolo único dezoito ou setenta fios desencapados. Só isso.

O que a tevê Globo está propondo ao Itamaraty, da forma mais desavergonhada e vira-latas, é que o Brasil siga com subserviência e abnegação a política externa do Departamento de Estado dos EUA.

Quem é o formulador da política sabuja de acompanhar os Estados Unidos em todos os âmbitos da sua política externa? Ora, o nosso Farol de Alexandria, o príncipe dos sociólogos, o homem que estudou anos a fio o Rio Grande do Sul e jamais suspeitou que aqui tivesse havido um processo de revolução modernizadora, no final do século 19.

Dias atrás esteve no Brasil o chefe de Estado de um país emergente da Ásia, com um mercado de 70 milhões de pessoas, e a tevê Globo orientou os seus Homers espalhados pelo território brasileiro a manifestarem seu protesto contra o tal líder. Em Porto Alegre, eu vi uma dúzia de sionistas, se tanto, e o untuoso vereador Alceu Brasinha, atendendo o chamado da Globo. Fiquei comovido.

Essa é a política externa que a Globo e o Farol querem para o Brasil.

Não vejo mais a Globo. Caso contrário, daqui a pouco irei pendurar no peito um bótom com os dizeres: Volta Zé Dirceu!

Coisas da vida.

Do Diário Gauche

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