Permitam-me, ao melhor estilo do Sapo Barbudo, uma alegoria futebolística.
Na primeira metade dos anos 80, o Atlético-MG era um dos três times mais fortes do Brasil, junto com o Flamengo e o São Paulo--ou o Grêmio, dependendo do momento que você tome. Hexacampeão mineiro, sistematicamente semifinalista ou finalista do Campeonato Nacional, convidado todos os anos aos torneios de verão da Europa (que, naquela época, tinham um prestígio que não têm hoje), o Galo acreditou no conto do vigário de que só havia um time grande em Minas. Nosso único rival, dizíamos, era o Flamengo, já que o Cruzeiro não existia, era um time pequeno.
Claro que o papo é legítimo como provocação de torcedor, mas quando a diretoria do seu clube começa a acreditar nele, pode ter certeza de que se avizinha um desastre. Embriagado por sucessos que nem eram tão grandes assim—afinal, o sonhado bicampeonato brasileiro e a Libertadores não vieram--, o Galo vendeu metade de uma Seleção Brasileira por milhões que jamais apareceram nos cofres do clube, elegeu péssimas diretorias, foi saqueado e não entendeu a transição para o futebol global. Em menos de dez anos, o Cruzeiro havia virado o jogo. Hoje não há atleticano fora dos sanatórios que acredite que competimos com o Cruzeiro em igualdade de condições. Já são quinze anos de supremacia azul no estado e onze clássicos sem vitória (dez derrotas e um empate). Nós nos vemos anualmente lutando contra o rebaixamento ou, no máximo, brigando no pelotão intermediário da tabela. Não há reversão desse quadro no horizonte, porque nosso presidente é um falastrão que personifica a Verneinung freudiana: aquele estágio de cegueira completa em que o sujeito acredita, com todas as forças, que negar a realidade é suficiente para que ela deixe de existir.
Pois bem. Petistas, comunistas, trabalhistas e socialistas: mirem-se no exemplo daqueles alvinegros de Minas. Ainda não ganhamos nada. A esquerda-esquerda (PT, PcdoB, PSB, PSOL e um naco do PDT) não possui sequer 40% do Congresso Nacional, todos os grandes jornais e a TV que domina o mercado nos são abertamente hostis, pelo menos dois Ministros do Supremo Tribunal Federal não perdem uma só oportunidade de nos atacar, e mesmo assim se dissemina, tanto no campo oposicionista, em tom melancólico, como no campo governista, em tom eufórico, o meme de que “está tudo dominado”.
Merval Pereira fala em tsunami, Eliane Cantanhêde, grunhindo contra os “cães da internet”, delira que a imprensa é “o último reduto do contraditório”, e mesmo em blogs de esquerda não é incomum ler coisas como “a oposição será varrida do mapa” ou “o PSDB vai virar um partido nanico”. Eu não sei em que realidade paralela vive essa gente. Na que eu observo, o aecismo está virando o jogo em Minas, Alckmin ainda lidera com folga em São Paulo, um dos melhores senadores petistas, Paulo Paim, está numa briga de foice para não ceder a vaga a uma sub-Miriam Leitão, Beto Richa lidera no Paraná e já sabemos com certeza que perderemos nossa única senadora catarinense. Claro que vários outros contra-exemplos poderiam ser citados, a começar pelo banho de votos que Dilma, pelo que parece, dará em Serra. Vamos crescer e eles vão encolher, isso é fato. Mas mirem-se, por favor, na serenidade de Dilma:
Eles oscilam entre a retórica da aniquilação do adversário e a retórica de que o adversário quer aniquilá-los. Esse jogo não interessa à esquerda. São 500 anos de governo do PFL que nós mal começamos a reverter. Não nos esqueçamos da lição de Telê Santana: 3 x 0 no placar? É hora de partir pra cima e fazer o quarto.
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