segunda-feira, 21 de março de 2011

A visita de Obama mostra que Dilma está no caminho certo


Passados 100 dias de governo, a presidenta aparece fortalecida na primeira pesquisa de opinião, apesar das ressalvas de setores da esquerda

Os primeiros 100 dias da presidenta Dilma Rousseff tem gerado estranhamento, principalmente entre os setores posicionados mais à esquerda no espectro político brasileiro. As críticas têm sido direcionadas ao que seriam recuos e capitulações “desnecessárias” diante da direita. Entre estes, estaria a mudança de inflexão na política internacional, com a retomada de um diálogo mais forte com os Estados Unidos, o tratamento considerado duro dado aos trabalhadores na questão do salário mínimo e do reajuste da alíquota do Imposto de Renda, e uma série de pequenas questões, como a que envolve a ministra Ana de Hollanda e sua defesa do direito autoral.

Já registrei aqui neste espaço o fato de Dilma estar obrigada a administrar uma reação conservadora ao seu governo (diferentemente de Tarso, no Rio Grande do Sul). Num primeiro momento, me pareceu que a presidenta estava jogando muito retrancada, mas hoje vejo que não. Exceto pelo fato (no mínimo lamentável) de Obama ter dado ordem de ataque à Líbia em meio à visita ao Brasil, nossa presidenta conquistou num único lance um novo patamar de relação internacional.

O estranhamento que os setores postados à esquerda vêm tendo também tem surgido à direita. Um amigo que circula no meio empresarial paulista me alertava há cerca de 20 dias que muitos opositores de Lula estavam ficando surpresos positivamente com Dilma. Ou seja, em que pese o combate radical dos jornalões e a campanha selvagem do segundo turno, muito rapidamente o empresariado estaria se reposicionando e aderindo ao projeto de desenvolvimento do país, que tem no PAC sua alavanca de propulsão e em Dilma sua liderança.

Os índices da primeira pesquisa de opinião sobre o governo federal, publicados neste domingo pelo Datafolha, mostram que os movimentos da presidenta Dilma até agora têm sido corretos. Com um mundo globalizado, afetado por tsunamis econômicos e climáticos, desregulado por revoltas, em geral positivas, porque orientadas contra ditaduras, mas sem uma condução política precisa, ameaçado pela recidiva frequente de uma crise profunda do capitalismo, Dilma precisa mesmo reposicionar o Brasil no contexto mundial.

Daí, receber um Obama enfraquecido e cercado por uma direita americana belicista e reacionária, lutar por uma alteração e um assento no Conselho de Segurança da ONU, defender o fim das barreiras a produtos brasileiros no mercado americano, estabelecer a paz mundial como meta, é um passo além do que fez Lula, e é um passo que este também daria, sem nenhuma dúvida.

Se externamente a situação é complexa, internamente Dilma não pode permitir o mesmo que Obama em seus primeiros dois anos de governo. Obama, ao invés de ampliar e fortalecer o campo da mudança, que o elegeu, permitiu que a direita crescesse e o cercasse por todos os lados. A presidenta Dilma, nestes 100 dias, está completando o processo de afirmação de sua eleição, cercando os adversários e se acercando dos principais problemas. Estão aí os números do Datafolha para provar. Dilma cresceu depois da eleição.

Acho que é de Marx a ideia de que fazemos história em condições adversas. O Brasil hoje chama a atenção do mundo, mas não apenas pelas suas riquezas materiais. Somos um país que tem tudo para vencer em meio à turbulência internacional. É neste mundo atual, do século XXI, e não no mundo do século XX, que estamos destinados a nos tornar uma grande nação.

A visita de Obama abre um novo cenário para o país. O quadro internacional é o primeiro motivo para me fazer concordar com Dilma nos primeiros 100 dias. O quadro nacional, que sucede uma campanha em que a direita tentou abrir terreno para o velho golpismo e autoritarismo, é controverso e turbulento, e exige serenidade para construir o futuro. O governo federal, até o momento, tem se mostrado à altura dos desafios externos e internos.

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