Fonte: Inovação Tecnológica
Editor: Eduardo Patriota Gusmão Soares
Introdução: Recentemente temos vistos, finalmente, protestos de americanos que parecem acordar agora do sonho americano, percebendo que ele está sendo inviabilizado por uma força opressora, corrupta e gananciosa. Citando Paul Krugman,
O que nós poderíamos dizer sobre esses protestos [Occupy Wall Street]? Primeiro, o mais importante: a visão dos manifestantes de que Wall Street é uma força destrutiva, tanto sob o aspecto econômico quanto político, está totalmente correta.Um cinismo cansativo e a crença em que a justiça jamais será feita tomaram conta de grande parte do nosso debate político – e, sim, eu próprio em determinados momentos sucumbi. Durante esse processo, tem sido fácil esquecer o quão ultrajante é de fato a história dos nossos infortúnios econômicos. Portanto, para quem esqueceu, isso foi uma peça em três atos.
No primeiro ato, os banqueiros se aproveitaram da desregulação para agirem a bel prazer (e embolsarem quantias monstruosas), inflacionando bolhas enormes por meio de empréstimos irresponsáveis. No segundo ato, as bolhas estouraram – mas os banqueiros foram resgatados pelos contribuintes, com uma quantidade surpreendentemente pequena de exigências, ainda que os trabalhadores comuns continuassem a sofrer as consequências dos pecados dos banqueiros. E, no terceiro ato, os banqueiros demonstraram a sua gratidão voltando-se contra as pessoas que os salvaram, ao apoiar – e disponibilizar a riqueza que eles ainda possuíam graças aos pacotes de socorro – políticos que prometeram manter os impostos em níveis baixos e desmantelar as regulações modestas que foram implementadas após a crise.(…) Os norte-americanos vivem em uma sociedade na qual o dinheiro encontra-se cada vez mais concentrado nas mãos de poucas pessoas, e na qual essa concentração de renda e de riqueza ameaça fazer com que a democracia nos Estados Unidos se torne apenas um rótulo sem nenhum significado real.O relatório recente do departamento do orçamento não faz uma análise detalhada do grupo do 1% mais rico, mas um relatório anterior, que só cobre o período até 2005, mostrou que quase dois terços da parcela de riqueza crescente dos 1% mais ricos na verdade foram parar na verdade nos bolsos de 0,1% indivíduos mais ricos desse grupo – o um milésimo de norte-americanos mais ricos, que viram as suas rendas aumentarem em mais de 400% de 1979 a 2005.
Agora, matemáticos da área de sistemas complexos, na Suiça, calcularam a concentração de riqueza, poder e influência de certas empresas. Quase todas, grandes corporações financeiras.
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Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.
Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas – sobretudo bancos – tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.
A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça.
Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.
“A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado,” afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. “Nossa análise é baseada na realidade.”
Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.
O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.
Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial – tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.
O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.
A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.
Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas – na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.
Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo – as chamadas blue chips nos mercados de ações.
Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.
E isso não é tudo.
Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma “super-entidade” de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.
“Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira,” diz Glattfelder.
E a maioria delas são bancos.
Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.
Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.
Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração – 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.
A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.
Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum – e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.
As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
- Barclays plc
- Capital Group Companies Inc
- FMR Corporation
- AXA
- State Street Corporation
- JP Morgan Chase & Co
- Legal & General Group plc
- Vanguard Group Inc
- UBS AG
- Merrill Lynch & Co Inc
- Wellington Management Co LLP
- Deutsche Bank AG
- Franklin Resources Inc
- Credit Suisse Group
- Walton Enterprises LLC
- Bank of New York Mellon Corp
- Natixis
- Goldman Sachs Group Inc
- T Rowe Price Group Inc
- Legg Mason Inc
- Morgan Stanley
- Mitsubishi UFJ Financial Group Inc
- Northern Trust Corporation
- Société Générale
- Bank of America Corporation
- Lloyds TSB Group plc
- Invesco plc
- Allianz SE 29. TIAA
- Old Mutual Public Limited Company
- Aviva plc
- Schroders plc
- Dodge & Cox
- Lehman Brothers Holdings Inc*
- Sun Life Financial Inc
- Standard Life plc
- CNCE
- Nomura Holdings Inc
- The Depository Trust Company
- Massachusetts Mutual Life Insurance
- ING Groep NV
- Brandes Investment Partners LP
- Unicredito Italiano SPA
- Deposit Insurance Corporation of Japan
- Vereniging Aegon
- BNP Paribas
- Affiliated Managers Group Inc
- Resona Holdings Inc
- Capital Group International Inc
- China Petrochemical Group Company
Instituições financeiras dos EUA “grandes demais para quebrar” (e que foram socorridas pelo governo americano…)
- Bank of America: 2,2 trilhões de dólares em ativos
- BNY Mellon: 322 bilhões de dólares em ativos
- Citigroup: 1,9 trilhão de dólares em ativos
- Goldman Sachs: 937 bilhões de dólares em ativos
- JPMorgan: 2,3 trilhões de dólares em ativos
- Morgan Stanley: 831 bilhões de dólares em ativos
- State Street: 208 bilhões de dólares em ativos
- Wells Fargo: 1,3 trilhão de dólares em ativos
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