sábado, 19 de novembro de 2011

Terceira do Plural - Engenheiros do Hawaii


Humberto Gessinger é um exímio letrista. Ele brinca com a disposição e o aspecto frasal, formulando verdadeiras charadas de múltiplos e geniosos sentidos; a ambiguidade é o toque artístico ímpar do compositor gaúcho.
A música "Terceira do Plural" é um ataque aos "grandes ocultos", referidos, indeterminadamente, como "eles" -- pronome muito corriqueiro em filosofadas de boteco a respeito dos detentores do poder ou das teorias de conspiração que governam o mundo.
Na primeira estrofe, fica clara a seqüência lógica imposta pelo capitalismo publicitário. Já na segunda, existe uma interessante imagem: "Cabeça pra usar boné E professar a fé de quem patrocina". Ou seja, há uma massa ignara que faz uso de seu atributo intelectual apenas para dar valor às marcas que ostenta.
O que mais chama a atenção na letra é o refrão, que mostra como o consumidor, em verdade, nada mais é do que um produto, assim como os que consome. Na passagem "Eles querem te vender" pode ser feita a interpretação tanto como o desejo de vender produtos ao consumidor, quanto como o de o próprio consumidor poder ser vendido, usado como moeda de troca pelo consumismo. Trocando em miúdos, seria mais ou menos como se os patrocinadores das corridas de carros vendessem seus consumidores -- os tele e os não tele espectadores -- aos patrocinadores das indústrias tabageiras, e estes, por sua vez, às indústrias de farmacos. Um ciclo perfeito, fazendo rotar não os produtos, mas sim os consumidores.
A partir da quinta estrofe, é feita uma descrição da lógica consumista fútil e irracional, implantada quase à força na sociedade. A expressão "time is money", sintetiza a ideia da "Corrida contra o relógio" dos tempos modernos.
Contra a televisão e à mídia se abate a passagem "Quem mente antes, diz a verdade"; pois, na atualidade, com a velocidade instantânea da transmissão de informação, qualquer fato que for divulgado massivamente, em pouco tempo vai ser tido como verdadeiro por todo o mundo, mesmo sendo de conteúdo falacioso.
"Querem nos deixar com sede, Não querem nos deixar pensar!" aí o consumidor é tratado como um fantoche, facilmente manipulável -- inclusive por mensagens subliminares -- estando sedado para os acontecimentos, completamente passivo ao que ocorre, um robô adestrado para consumir.
Essa música é uma boa palhinha do poder de fogo sutil e corrosivo de Gessinger.

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