Teixeira no perfil da Piauí: o começo do fim |
E sediar a Copa do Mundo, por vias tortas, deixou a sua primeira herança bendita para o Brasil: Ricardo Teixeira, presidente da CBF, renunciou ao cargo. O controverso Teixeira, oligarca de primeira hora do futebol brasileiro, deixa um legado que pode parecer ambíguo a um primeiro (e desatento) olhar, mas que, na verdade, é pouco equívoco: sua importância histórica é o de ter sido o condutor da erosão do futebol brasileiro, parasitando sua potência cultural no processo que o tornou esse pastiche mercantil.
Nada de má consciência, o problema de Teixeira não está em ter sido, como dirigente, um mau exemplo para a cristandade, mas de ter levado a cabo um processo que, com desvios morais ou não, foi politicamente desastroso para o país e para o futebol. Foi pôr o Brasil em função de um mercado internacional inclemente, como mero exportador, enfraquecendo os clubes e tornando a Seleção uma marca qualquer que, de amistoso caça-níquel a amistoso caça-níquel, se converte em um fantasma.
A problemática da realização da Copa no Brasil, atrasos de obras, ameaça de uso do seu poder para prejudicar jornalistas e determinados órgãos da mídia que não lhe eram simpáticos e afins, o levaram a inesperada queda. E não preciso muito: Dilma não fez força para que caísse, mas também não lhe serviu de arrimo, coisa que Lula, por uma infinidade de motivos, fez. E isso foi o suficiente para que Teixeira, que balançava desde os anos 90, caísse.
Se era um velho sonho de Lula trazer a Copa para o Brasil, o que o fez aturar Teixeira por tanto tempo, o custo disso para o derretimento do futebol brasileiro foi altíssimo. E Teixeira, achando-se o dono da situação e ameaçando a todo momento melar a competição, morreu como peixe, pela boca: ele achou pairar sobre os interesses econômicos da Copa, quando ele próprio tornou-se um problema, amplamente denunciado pela imprensa internacional e falando pelos cotovelos como na épica entrevista à Piauí.
Sua saída, alegando motivos de saúde, e a posse de José Maria Marin, malufista de carteirinha, ex-governador de São Paulo nos anos 80 - tendo assumido brevemente no lugar de Maluf, de quem era vice -, se não é animador, também não marca qualquer tipo de rearticulação da ordem, mas sim uma solução tampão.Agora, mais do que nunca, o horizonte de possibilidades em relação à democratização do futebol brasileiro se reabre. Ela certamente não virá dos céus, como a queda de Teixeira, não veio, mas é o cenário mais favorável em tempos. Embora a luta seja bem dura.
Do blog O Descurvo
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