Fundada em 1924, instalada em Lajeado, e possuindo hoje pouco
mais de 900 funcionários, a Fruki ultrapassou em 2012 o guaraná
Antártica na preferência do público gaúcho. Investindo em práticas
ambientais como o uso de energia solar e o aproveitamento de água da
chuva na manutenção de suas unidades, a empresa pensa alto e desafia
gigantes do setor no mercado do Rio Grande do Sul.
Marco Aurélio Weissheimer
Competindo com gigantes do setor de bebidas, como a Ambev e a
Coca-Cola, uma empresa do Rio Grande do Sul vem conseguindo verdadeiras
façanhas nos últimos anos. Fundada em 1924 e instalada em Lajeado, a
Fruki ultrapassou em 2012 o guaraná Antártica na preferência do público
gaúcho. “Isso ocorreu no ano em que a Ambev ultrapassou a Petrobras como
maior empresa do Brasil; mas aqui no Rio Grande do Sul eles perderam
para nós”, disse com um misto de orgulho e bom humor o
diretor-presidente da Fruki, Nelson Eggers, que foi o palestrante da
reunião-almoço da Câmara Brasil-Alemanha, realizada no dia 18 de abril,
no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre.
Durante cerca de quarenta minutos, o empresário fez um resumo de uma
história de 89 anos (52 deles acompanhados diretamente por ele), que
começou com uma pequena fábrica de cerveja aberta por seu avô, um homem
que, antes disso, já havia sido agricultor, construtor de pontes e dono
de um hospital. A pequena fábrica de cerveja, em Arroio do Meio, que deu
origem ao que é a Fruki hoje, foi aberta com o suporte tecnológico de
um livro em alemão gótico datado de 1857, utilizado pelo avô de Eggers
para começar a produzir. A trajetória da empresa é pontuada por uma
decisão ousada: o desenvolvimento de uma marca própria. Em 1971, a
empresa deixa a fábrica de Arroio do Meio, se instala às margens da
BR-386 em Lajeado e lança a marca Fruki (até então era Bella Vista). A
partir daí, contando com incentivos do Fundo Operação Empresa do Estado
do Rio Grande do Sul (Fundopem) e investindo em tecnologia, qualidade de
gestão e sustentabilidade ambiental, a Fruki não parou mais de crescer.
Nelson Eggers dedicou uma parte importante de sua fala na Câmara
Brasil-Alemanha para falar de valores e compromissos ambientais. “Para
nós essa é uma questão de princípio. Em 1988, nós instalamos a nossa
primeira estação de tratamento de efluentes, antes que as grandes
empresas que são nossas competidoras começassem a falar em
sustentabilidade e coisas do gênero. Nós sabemos muito bem o que é
sustentabilidade, pois a praticamos há muito tempo. Aproveitamos a água
da chuva, utilizamos energia solar, estimular práticas ambientais dentro
e fora da empresa”, contou o empresário.
Entre 2006 e 2012, exemplificou com orgulho, a empresa conseguiu uma
economia de 19% no uso de água. Para tanto, a Fruki tem uma capacidade
de armazenamento de 1,6 milhão de litros de água da chuva, que é
utilizada em caldeiras, sanitários e jardins, entre outros usos. Para
fabricar sua linha de refrigerantes, utiliza água mineral, a mesma que
comercializa sob a marca Água da Pedra. “É bom perguntar com que água
outros refrigerantes são feitos; pode haver algumas surpresas”,
assinalou. Ainda na área ambiental, o empresário citou o Programa Futuro
do Planeta, implementado em escolas da região para estimular boas
práticas ambientais.
Investindo prioritariamente no mercado do Rio Grande do Sul, a Fruki
tem planos ambiciosos para o futuro. Neste ano, a empresa vai investir
R$ 95 milhões na ampliação de sua matriz, em Lajeado, na construção de
um novo centro de distribuição em Canoas (já em fase de instalação), e
na construção de uma nova fábrica, ainda sem local definido. Mais de 40
municípios já mostraram interesse em receber a unidade que deverá
produzir sucos, chás, bebidas vitaminadas e isotônicas.
A empresa possui hoje mais de 900 funcionários, um sistema de
produção totalmente automatizado (que inclui a produção de suas próprias
garrafas PET) e capacidade para elaborar 300 milhões de litros/ano, em
sete linhas de produção. Após conquistar o primeiro lugar (37%) do
mercado de guaraná no Rio Grande do Sul, a empresa busca ampliar sua
presença em outros segmentos, como o dos refrigerantes cola, não temendo
a concorrência da gigante que há neste setor. “Temos uma meta de, em 20
ou 30 anos, tornar o Fruki-Cola líder do mercado no Rio Grande do Sul”,
revelou Eggers.
Nesta trajetória bem-sucedida, o empresário destacou a importância da
implementação de programas de qualidade de gestão e contou um pouco do
tempero pessoal que coloca nesse processo. “Participo da admissão de
todos os funcionários; todos eles passam um período em Lajeado, mesmo
que trabalhem em Bagé, Uruguaiana ou outro município. Nossos
funcionários são universitários ou técnicos especializados em alguma
área”. Emocionado, Nelson Eggers também destacou o Programa Integrar,
que emprega um grupo de jovens com necessidades especiais. Após a fala
do empresário, o presidente da Câmara Brasil-Alemanha, Everson
Oppermann, comparou, com bom humor, a forma como Nelson Eggers vive sua
atividade como empresário à figura de um evangelista: “essa disposição
para falar com todos os funcionários na admissão revela o papel de
evangelista, um frukista, no caso”.
Em um mercado crescentemente oligopolizado, a experiência da Fruki
relatada por seu diretor-presidente parece representar mais do que um
mero modelo de qualidade de gestão, apontando para a possibilidade de
criar marcas e produtos próprios, de valorizar a diversidade também na
economia, com características diferentes e práticas ambientais não muito
comuns hoje em dia.
Via Sul 21
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