quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O "enxugamento"

Não é novidade o uso da linguagem para obscurecer, não para esclarecer um tema. A novidade é que um jornal de econonima use esse artifício: enxugamento, no caso, são as demissões que o grupo Itaú Unibanco está fazendo. Mas, para quem escreve título no Valor Econômico, é "enxugamento".

Os bancos nunca ganharam tanto dinheiro no Brasil. Nunca pagamos taxas bancárias tão altas e múltiplas quanto as atuais. Nunca tão poucos bancários trabalharam tanto para que alguns banqueiros se dessem bem. Temos um virtual monopólio no setor, devidamente protegido pelo Banco Central, que é "independente" do governo Lula mas é "dependente" dos banqueiros.

E a mídia corporativa brasileira, tudo indica, fará cada vez menos as perguntas que precisam ser feitas. Por exemplo: quem pagará a conta da crise? Quem vai para a cadeia por ter gerado a crise? Qual a responsabilidade dos próprios jornalistas e comentaristas econômicos pela crise? Ou tudo isso foi obra do acaso, da geração espontânea, de um erro trágico?

Eu hoje reproduzo alguns textos que considero importantes sobre o tema. Um deles denuncia a novilíngua empregada pela máquina de relações públicas de Wall Street para mascarar os fatos relativos ao pacote econômico do governo Obama. O autor argumenta que o debate em torno de "nacionalizar" ou "socializar" os bancos privados americanos esconde a transferência das perdas do mercado financeiro para o público. Vale a pena. ESTÁ AQUI.

Outro artigo, na mesma linha, descreve a falência do Leste europeu, onde os neoliberais atacaram depois de terem destruído a América Latina. Só que lá as perdas podem arrastar para o buraco o que restou dos grandes bancos privados europeus. ESTÁ AQUI.

E também tem a entrevista do economista Nouriel Roubini ao Wall Street Journal, em que ele diz que o jornalismo econômico fracassou ao se engajar na "torcida". ESTÁ AQUI.

Com a crise da mídia corporativa é provável que se aprofunde ainda mais o exílio daqueles que pensam diferente. Ela se colocará em defesa, obviamente, de quem paga as contas. E quem tem dinheiro para pagar as contas é a meia dúzia que enriqueceu gerando um fabuloso desastre econômico em escala mundial e que agora fará de tudo para empurrar a conta para todos nós, na forma de novos impostos, corte de programas sociais, taxas bancárias, "flexibilização" das leis trabalhistas e "enxugamentos".

Publicado em Vi o mundo

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