quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

POLÍTICA, BLOGS, RS

A blogosfera apresenta uma série de características que proporcionam vantagens e desvantagens na ação política descentralizada e em rede facilmente perceptíveis por movimentos como o Fórum de Entidades POA. Primeiro, as vantagens:

1) Dá voz para pessoas que não fazem parte das fontes nem da agenda usual da mídia corporativa;

2) Os links recomendados por cada blogueiro formam uma cadeia, uma rede, um coletivo de blogs que tende a ser visitado pela maioria dos demais blogueiros que compartilham as mesmas afinidades temáticas que, no nosso caso, dirigem-se principalmente à alteridade, à memória e à vida futura a partir de um lugar físico (Porto Alegre);

3) Tudo o que um blogueiro escreve e todos os comentários que recebe e devolve a seus interlocutores permanece documentado para consulta, referência de fontes e discussões em outras esferas.

Agora, as desvantagens:

1) Não há nenhuma garantia de que os leitores do CÃO UIVADOR se tornarão visitantes frequentes do POA RESISTE ou do blog da AGAPAN, nem que em suas participações esporádicas envolvam-se seriamente no debate. Nesse caso, o blog funciona como uma vitrine de uma ppequena loja de bairro: se o produto que estiver na vitrine for interessante e seu valor for convidativo, o consumidor entra na loja, conversa com o proprietário e com outros clientes. Se gostar, leva e recomenda. Se não gostar, ou ignora, ou fala mal;

2) Infelizmente, as formas atualmente mais utilizadas de comunicação mediada por computador ainda não podem ser consideradas como mídia de massa nem na técnica, nem na infraestrutura. A gente opera seguindo a lógica da Teoria da Cauda Longa proposta por Chris Anderson (o livro chama-se A CAUDA LONGA, é barato e fácil de ler). Como funciona? Há uma quantidade muito reduzida de sites de notícia e de blogs independentes cuja audiência seja bastante difundida e comentada pela web.

Esses sites e blogs recebem milhares - senão dezenas de milhares - de visitas DIÁRIAS a mais do que todos os nossos blogs somados. Acreditando neles ou não, de uma forma ou de outra, também viram as principais referências que endossamos e passamos adiante (nem que seja para criticar ou denunciar notícias contadas pela metade). Por outro lado (e é aí que nós entramos com nossos blogs), embora cada um de nós tenha algumas poucas centenas (os mais felizardos, um ou alguns milhares) de visitas diárias, mesmo que nosso alcance seja imensuravelmente menor do que o de uma mensagem única difundida por rádio, TV, jornal, revista ou suportes para publicidade (papel, placas, veículos no mar, no ar e na terra e assim por diante), nossa grande virtude é funcionarmos como quem faz comunicação de boca a boca. Não no sentido da persuasão rasteira, da informação mal contada e descompromissada, da fofoca ou do ditado ‘quem conta um conto aumenta um ponto’ mas, sim, na difusão em baixa escala porém voltada a formadores de opinião.

É mais importante que nosso trabalho chegue às lideranças dos movimentos sociais, de profissionais liberais de classe média, a políticos locais, a líderes estudantis, religiosos e a técnicos do Tribunal de Contas, do Ministério Público, do Procon e do Banco Central do que o desejo que perdurará sendo financeira e tecnicamente impossível ainda durante muitos anos de termos um espaço parelho de disputa simbólica junto às corporações de mídia. Esses líderes pontuais e setoriais farão o mesmo que nós fazemos, funcionando como facilitadores do processo de ampliação do nosso alcance.

Os interesses da banca da mídia corporativa de massa serão sempre os mesmos enquanto ela for conservadora e preferir ganhar em cima das mazelas ao invés de ganhar em cima do desenvolvimento sustentável. Apesar de não considerar inúteis ou irrelevantes nem os trabalhos acadêmicos e nem a percepção do leigo em relação à agenda dessa Grande Mídia, discutir à exaustão essas práticas surte um efeito minúsculo na sociedade mesmo a partir de blogs com grande audiência nacional lidos por formadores de opinião em algumas áreas do conhecimento.

Isso nos afasta não necessariamente de importantes pontos de acesso inseridos em sua programação que seriam possíveis caso houvesse um contexto diferenciado mas, sobretudo, dos bons formadores de opinião que creem que o que predomina na mídia de massa é mesmo a mais pura DESinformação (há muito o que falar sobre isso - é uma brecha importantíssima no fazer da mídia corporativa que, com uma pequena mudança de postura de parte da esquerda blogueira no país inteiro, poderá ser muito melhor explorado).

O empoderamento das classes populares através das escolas públicas, da internet sem fio nos locais públicos e das baratas LAN houses felizmente está ocorrendo no Brasil. Pra quem não sabe, o BRASIL possui o maior programa de inclusão digital do MUNDO, dito pelo especialista JEREMIAH SPENCER (mais referências sobre o trabalho dele no Brasil AQUI) que esteve aqui em 2008. No entanto, a esmagadora maioria das pessoas ainda prefere seguir o lado ruim da cauda longa, isto é, seguir o grande, seguir o hegemônico, tê-lo sempre como referência ao invés de procurar zilhões de possibilidades diferentes.

Por Hélio Paz

Um comentário:

  1. Obrigado pela referência. Que bom que ainda é possível contribuir ao menos com palavras pra tentar abrir a cabeça das pessoas...

    []'s,
    Hélio

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