terça-feira, 22 de setembro de 2009

Filosfia Estou com Sorte

“A montagem de uma falácia”, texto de Maria Sylvia de Carvalho Franco, professora de Filosofia da Unicamp e da USP, publicado no jornal “O Estado de São Paulo” no último domingo (1), contestando a idéia proferida pelo senador José Sarney de que a imprensa não representa o povo, me fez pensar sobre o poder da filosofia.

De fato, em Filosofia está sempre presente um homem (=sujeito humano) que se esforça por compreender e produzir uma interpretação (=leitura) da realidade que está diante de si, seja ela humana ou natural. Na realidade, o ponto de partida da filosofia são problemas e não textos. Tamanho poder até assusta. As interpretações comumente aceitas pelo homem constituem inicialmente o embasamento de todo o conhecimento. Essas interpretações foram adquiridas, enriquecidas e repassadas de geração em geração. Informações correm e voltam e morrem na praia, mas de alguma forma, chegam.

O conceito da Falácia Narrativa foi (até onde sei) introduzido por Nassim Nicholas Taleb (2) e pode ser descrito como uma tendência que temos de construir narrativas que se conformem a fatos observados. Frequentemente, essas histórias correspondem a uma simplificação exagerada da cadeia de causas e efeitos que está por trás dos eventos históricos (no significado mais amplo do termo). Trata-se de uma característica aparentemente inofensiva, fruto da nossa tendência a racionalizar os eventos do mundo.

A partir da Filosofia surge a Ciência, pois o Homem reorganiza as inquietações que assolam o campo das idéias e utiliza-se de experimentos para interagir com a sua própria realidade. Ocorreram inicialmente através da observação dos fenômenos naturais e sofreram influência das relações humanas estabelecidas até a formação da sociedade, isto em conformidade com os padrões de comportamentos éticos ou morais tidos como aceitáveis em determinada época por um determinado grupo ou determinada relação humana.

Eu escrevi o primeiro parágrafo deste texto. Os três parágrafos seguintes foram compostos por frases escolhidas aleatoriamente em dez diferentes páginas da internet, via Google. Escrevi a palavra “filosofia” seguida de um número qualquer (77, 98, 145), cliquei em “estou com sorte”, entrei no primeiro texto disponível na página e escolhi uma frase qualquer, geralmente a primeira ou segunda frase do texto. Juntei tudo e pronto, virou este texto aí de cima, que não quer dizer absolutamente nada, mas tem seus momentos de brilho.

Aliás, como o texto da professora Maria Sylvia Carvalho Franco. Gostei especialmente da citação de Eurípides ("Esta é a verdadeira liberdade, quando a homens livres, devendo aconselhar o público, é permitido falar livremente. Aquele que pode e deseja, merece eminente louvor; àquele que não pode, nem deseja, é permitido ficar em paz. O que pode ser mais justo num Estado, que isto?" Teseu, nas Suplicantes).

A professora Maria Sylvia afirma que “o telos [da] tendência favorecida por Sarney, velha de quase um século”, supõe uma "democracia sem cidadãos" (Entmann).

Não poderia concordar nem discordar da professora sem antes descobrir o que é “telos”, tarefa que me tomou algum tempo, a palavra não está no Houaiss. Ou está, como plural de “telo”, que significa “jumento”. Pensei que talvez a professora se referisse aos “jumentos” que elegeram Sarney no Amapá, mas achei que seria muita grosseria da parte dela e do Estadão e resolvi procurar melhor.

Achei, (3) “télos: completude, fim, finalidade. Embora tivesse antecedentes óbvios na noção heraclítica do fogo celestial que tudo governa e no uso que Anaxágoras faz do espírito, não aparece no pensamento especulativo grego até Diógenes de Apolônia um sentido claramente definido do objetivo nas operações do kosmos”, sacou?

É como eu sempre digo: a arche de todas as coisas é o aer, que é alma (quando aquecido) e inteligência, e que é divina e governa todas as coisas pelo melhor, este último atributo aparentemente sugerido pelas renovações periódicas na natureza, embora não tenha certeza de que este seria um bom motivo para votar no Serra ou para vender a Petrobrás.

X

Quando Sarney diz que a imprensa não representa o povo está dizendo o óbvio. Bem ou mal (na verdade, mal), Sarney foi eleito, os colunistas dos jornais não. Sarney pode até contrariar a vontade dos seus eleitores, a eles prestará contas no final do mandato. Colunistas são demitidos – ou nem são contratados – se discordarem de quem lhes paga o salário.

A antiga imprensa brasileira anda cada vez mais empenhada em devolver o poder em Brasília ao PSDB paulista, que o exerceu por 8 anos, período em que quebrou o país três vezes, fez explodir os índices de desemprego, aumentou impostos (a carga tributária cresceu de 27% pra 35% do PIB), arrochou salários, vendeu o patrimônio público por preço camarada aos seus amigos (alguns, hoje, com problemas na justiça americana, ver Tiger Eye) e manteve intocada a criminosa desigualdade social brasileira. Esta turma quis desalojar o governo Lula na marra, em sucessivas tentativas de golpe (3), mas não deu certo. Vão ter que tentar no voto, convencendo 32 milhões de pessoas que subiram de classe social no país nos últimos 5 anos de que o salário mínimo de FHC (76 dólares) é melhor que o do Lula (255 dólares). Vão precisar de um bocado de grumelê filosófico.

Do blog Casa de Cinema de Porto Alegre

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