quarta-feira, 17 de março de 2010

A grande imprensa brasileira e a política externa de Lula

Por Alexandre Haubrich

Parece que os veículos da grande imprensa, alinhados à candidatura de José Serra – a Folha tem mostrado também alguma simpatia por Marina Silva – largaram, pelo menos por enquanto, a crítica sobre as políticas internas do governo Lula. Perceberam que não há como colocar frente a frente, de forma favorável a Serra, o que os governos de Lula e Fernando Henrique Cardoso fizeram para as grandes camadas da população. Desse modo, a frente de batalha migrou. O alvo agora é a política externa.

Começou lá no ano passado com a não extradição do militante de esquerda italiano Cesare Battisti, o golpe contra Manuel Zelaya, em Honduras, e a visita do presidente do Irã ao Brasil. Fortes críticas a Lula nos dois casos, primeiro por não extraditar Battisti, depois por abrigar o presidente hondurenho na embaixada brasileira.

Neste ano, calhou de Lula estar em Cuba quando o preso político Orlando Zapata morreu, após fazer greve de fome em uma prisão cubana. Mais uma chuva de críticas, segundo as quais o presidente brasileiro deveria agir quanto aos direitos humanos em Cuba. Agora, Lula recebeu críticas da grande imprensa brasileira por, em Israel, receber críticas sobre sua postura com relação a Palestina. Esses são apenas alguns exemplos. Bolívia e o gás natural, Hugo Chávez, Paraguai e Itaipu…

Vamos por partes: “Caso Honduras” x “caso Irã”. No primeiro, a reclamação foi pela intervenção em questões internas. No segundo, a reclamação foi pela não-intervenção em questões internas. “Caso Cesare Battisti” x “caso Orlando Zapata”: mesma contradição. Lula criticado por intervir no primeiro e por não intervir no segundo. Por fim, não é um tanto óbvio que em Israel Lula seria pressionado para posicionar-se contra a Palestina?

Há duas questões aí. Em primeiro lugar, a política externa do governo Lula, em especial nos últimos anos, tem assumido dois tipos de posicionamento, e nenhum deles agrada à ditadura do pensamento único defendida a unhas e letras pelo grande empresariado da mídia: negociações com governos não-alinhados aos Estados Unidos; e a não-busca por acordos que façam do Brasil um país hegemônico economicamente, favorecendo acordos que favoreçam o crescimento de todos os países envolvidos. Para os donos dos conglomerados de comunicação, o Brasil deve disputar palmo a palmo, dólar a dólar e euro a euro com os países mais pobres, e submeter-se à política dos mais ricos.

Mas dizia eu que há duas questões. A segunda é exatamente a abordada no começo deste post: a eleição de outubro. Sem poder rivalizar com Lula (e, consequentemente, com Dilma) no âmbito nacional, a grande mídia tenta colocar na cabeça das pessoas que o governo brasileiro é odiado lá fora. Espero que tenha ficado claro que não estou defendendo ou criticando a política externa de Lula. Apenas pretendo deixar claro que parte de nossa imprensa ataca em conjunto e com os mesmos argumentos, se contradiz e, principalmente, não faz nada disso de graça.


Do blog Jornalismo B

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