Por Vera Spolidoro no Sul 21
Falta de memória ou má fé?
O deputado cassado Roberto Jefferson voltou ao noticiário. Agora ao lado de José Serra, presidindo a convenção do PTB, sábado último, e recebendo rasgados elogios do tucano presidenciável. No seu discurso, Serra citou qualidades que encontrou em Jefferson, como “coragem”, “lealdade” e “coerência”.
Informações
Na imprensa, o deputado petebista é citado como aquele que denunciou o mensalão. É meia verdade. Jefferson fez parte do mensalão. Admitiu ter recebido R$ 4 milhões do PT para caixa dois de campanha, das mãos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. A falta de memória às vezes se confunde com má fé. Então, para nos mantermos informados, vejamos um pouco da trajetória de Roberto Jefferson.
Ao lado de Collor
Foi militante da tropa de choque de Fernando Collor. No processo de impeachment do então presidente, defendeu ardorosamente a permanência de Collor na presidência da República. Já em 1993, estava entre os envolvidos no esquema de propina na Comissão de Orçamento, na Câmara de Deputados.
Corrupção nos Correios
Mais tarde, veio à tona a questão da corrupção nos Correios. Jefferson foi citado em uma gravação, quando o ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, detalhava o funcionamento de esquema de desvio de recursos. Na gravação, o ex-funcionário afirmava que trabalhava com o aval do presidente do PTB, Roberto Jefferson, e outro ex-diretor da empresa, Antônio Osório Batista. O dinheiro arrecadado com o esquema de corrupção seria usado por Jefferson para engordar o caixa do partido.
Na fogueira
Jefferson também foi citado em outro caso, sobre um desvio de R$ 400 mil do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB). Para defender-se de uma iminente CPI na Câmara, que investigaria o caso dos Correios e do IRB, decidiu colocar lenha na fogueira. Todas as atenções foram desviadas para o mensalão do PT, que rendeu meses de notícias, comentários e análises.
Mensalão do PSDB
Mais um pouco de memória: o caso não é apenas o “mensalão do PT”, como parte da imprensa gosta de dizer. Lembremos que o esquema nasceu durante a candidatura do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais, tendo como protagonista também o empresário Marcos Valério. Mas o fato é que a expressão “mensalão do PSDB” nunca foi mencionada.
Cassado
Jefferson nunca mostrou provas de suas denúncias. Por isso, teve seu mandato cassado pelo plenário da Câmara em 14 de setembro de 2005, por quebra de decoro parlamentar. Na abertura do processo de cassação, ele foi acusado de denunciar o esquema do mensalão sem apresentar provas.
Aposentado
Mas Roberto Jefferson se saiu bem. Em outubro daquele mesmo ano aposentou-se como deputado federal. Hoje é presidente do PTB e um dos principais articuladores do apoio de seu partido à candidatura de José Serra. Que o elogia por ser coerente. Vale a pergunta: é falta de memória ou má fé?
Nenhum comentário:
Postar um comentário