quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Novela Ronaldinho e o arroubo ético na imprensa brasileira

O artigo a seguir é uma colaboração especial de Rodolfo Mohr*

A história em si até o seu Adriano Galliani, dirigente do Milan, já está careca de saber. As editorias de esporte, através de jornalistas e comentaristas, da imprensa nativa é que deram demonstrações pouco vistas em outros assuntos.

Quando o leilão pelo futuro time de Ronaldinho foi escancarado, com ponto alto na maior coletiva de FANFARRONICE dos últimos tempos, realizada no Copacabana Palace, na quinta-feira de reis, 06/01, a imprensa brasileira e, em especial, a gaúcha se reencontraram com a ética, conceito esvaziado sistematicamente pela grande mídia.

O prazer em ver, ouvir e ler todas as críticas e açoites merecidos pela família Assis, reparei o que todos repararam. O ódio das ruas contaminou as redações esportivas. O mundo dos negócios, o capitalismo selvagem, a livre concorrência, a busca insaciável do lucro, a luxúria das grandes marcas esportivas, tudo, ABSOLUTAMENTE tudo sucumbiu ao amor traído do torcedor gremista principalmente, mas nem nisso a exclusividade foi do Grêmio. Assis também havia firmado compromisso verbal e redigido contrato com o Palmeiras, palavras de Felipão em recente coletiva em que o Verdão abandonou a concorrência por Ronaldinho.

Todos os valores capitalistas difundidos e defendidos pelos meios de comunicação de massa a exaustão acima de qualquer valor humano foram esmagados pelas reações populares diante das atitudes mesquinhas e canalhas cometidas pela dupla Assis Moreira, big e little brothers. Registro aqui que dias antes da coletiva dos Assis e de Galliani no Rio, o jornalista Leonardo Meneghetti, no Jogo Aberto RS da Band, havia dito em alto e bom som a opinião dos principais comentaristas de que o capitalismo é assim, que o Assis estava certo em buscar a melhor transação e os melhores valores.

Todos os integrantes do Bate Bola, da TVCom, do domingo 09/01, todos os integrantes do Arena Sportv, da segunda 10/01, em uníssono repudiaram o leilão, repudiaram a forma de negociação do Assis empresário, a palavra firmada não cumprida, o acordo redigido e não assinado. A ética voltou a ser tema dos debates. Além de Paulo Sant’anna e uns poucos outros, a RBS deve necessariamente se indignar. Entre o gaúcho estrangeiro biliardário e os demais gaúchos ela escolhe quem lhe sustenta. É o seu negócio em jogo. O bairrismo ferido tira o gaúcho do Ronaldinho assim como o endeusou mesmo após a primeira traição, a de 2000. E no auge da mágoa, Sant’anna no Sala de Redação da segunda, 10/01: “Não quero que agridam a família Assis Moreira, quero apenas que sejam infelizes”.

Nisso tudo, até o rei-poeta-de-boca-calada Pelé deu nos dedos. “Se ama o Grêmio joga de graça”. No caso do acordo com o Grêmio, o de “graça” de Ronaldinho seria R$ 100 milhões por 4 anos. Ainda arrebatou dizendo ter jogado uma temporada de graça no Santos.

Sabemos quem é Pelé. Mas tem um mérito. Soube ser mais que o maior jogador de sempre, soube se tornar um ídolo imortalizado. Ronaldinho soube se enterrar perante à torcida gremista e ao grande público em geral. A imprensa não. Mudou o discurso e adotou uma postura que raramente tem. Acredito na sinceridade de muitos jornalistas sérios e éticos que se escandalizaram com o ocorrido. Mas a turma do amendoim da imprensa caseira tem culpa no cartório. São parte dos incentivadores do futebol “profissional”, “moderno” e “competitivo”, “de la compra y la venta de los hombres y las emociones” como assinalou o fanático por futebol Eduardo Galeano, jornalista uruguaio.

*Rodolfo Mohr é estudante de jornalismo da UFRGS

Via blog Jornalismo B

2 comentários:

  1. O artigo peca pela generalização. Capitalismo é processo e, como tal, está sempre em dinâmica transformação. Assim caminha a vida nos ensinou Hegel. Eu não conheço ninguém que defenda, hoje em dia, idéias retrógradas como "a volta do capitalismo selvagem". Muito embora tenha alguns amigos liberais (como também tenho de esquerda) nenhum deles defende a liberdade absoluta e total. Quem assim pensa está defendendo idéias do século XIX. Numa sociedeade complexa e difusa o mercado tem de ter sua regulação e seus padrões de conduta. Vivemos na época do estado regulador. E existem, portanto, regras de negociação, as quais foram quebradas pela família Assis Moreira. Uma delas é que quando se fecha todos os detalhes de um acordo as partes tem a obrigação moral de fazer cumprir o que ali ficou estabelecido. O que fez Roberto Assis? Após acertar os detalhes contratuais, primeiro com o Palmeiras e depois com o Grêmio corria para o celular e digitava torpedos conclamando a concorrência a fazer propostas. Assis quebrou as regras morais do mercado, do capitalismo e da concorrência e isso é inadmissível.

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  2. Gelso, faço parte do movimento dos blogueiros progressistas e precisava entrar em contato com você, é uma coisa que acredito vai gostar bastante, favor entre em contato stelles@gmail.com abraços e parabéns pelo aguerrido blog!

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