segunda-feira, 16 de maio de 2011

Churrascão da "gente diferenciada" agita São Paulo

A semana que passou foi marcada por uma polêmica na cidade de São Paulo por conta da linha do metrô que passa pelo bairro Higianópolis, lugar em que seria instalada uma estação.
Fato normal, não fosse por seus moradores, auto-considerados a fina-flor da elite paulistana. Uma das moradoras chegou a postar no seu Twitter, que era contra o empreendimento porque iria atrair uma "gente diferenciada". Expressão usada para definir "simples mortais" como nós, que não nascemos em berço de ouro.
O mais surpreendente é que tão logo começaram as reclamações dos moradores contra a estação, o governo estadual anunciou que não seria mais construída ali a dita cuja.
Contra tal disparate, foi organizada no sábado uma bem humorada manifestação, com cerca de mil participantes, denominada "churrascão da gente difrenciada". Só assim mesmo, ridicularizando, para combater o preconceito de classe, tão comum em nosso país.
 

2 comentários:

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  2. Gente Diferenciada

    Acompanhei o "churrascão da gente diferenciada" quase inteiro. Foi um protesto de estudantes e das classes médias (médias mais altas do que baixas). O povão ali era residual. Não pretendo tirar o brilho do evento, apenas caracterizá-lo. Havia muitos moradores de Higienópolis no meio das pessoas que gritavam "é a elite mais porca do Brasil".



    Vi cenas curiosas: muitos cachorros "diferenciados" na coleira, entre os manifestantes. Pelo menos três golden retriever que decidiram ser "gauche na vida".


    Dois "empreendedores" (assim foram chamados) vendiam camisetas com a inscrição: "gente diferenciada". Estavam no meio da avenida Angélica e, acredite, aceitavam pagamento em cartão de crédito. Seriam camelôs "diferenciados"?


    O clima era festivo, performático. Alckmin e Kassab foram xingados (o prefeito até mais que o tucano), mas entre as palavras de ordem surgiam músicas como "Trem das Onze", de Adoniran, e a marchinha carnavalesca "Bandeira Branca". Havia lirismo e deboche nesse enfrentamento teatral de classes.


    No final, perto de 21h, cerca de 150 estudantes gritavam: "Ei, polícia/ maconha é uma delícia". A PM estava claramente orientada a não contrariar os jovens. Comportou-se como uma babá zelosa. Como teria agido se o ato fosse na periferia?


    Um amigo veterano da esquerda brincou que o protesto mais parecia um "playground revolucionário". Outro amigo, porém, disse que a manifestação -espontânea, desatrelada de partidos ou sindicatos- comunga do espírito de outros atos recentes, contra o aumento dos ônibus e o fechamento do Belas Artes.


    Ambos parecem ter razão. Bem-humorado e anarquizante, o "churrascão" marca até aqui o ápice de um caldo de cultura novo, ou renovado, de mobilização progressista de parte das camadas privilegiadas. Em jargão, é uma fração de classe reagindo ao sentimento ostensivamente antipovo de representantes dessa mesma classe.

    Artigo de Fernando Barros Silva na Folha de 16 de maio de 2011.

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