Lorena Paim
Familiares de Leonel Brizola e de João Goulart encontraram-se nesta segunda-feira (29) no Palácio Piratini para receber uma homenagem em nome dos dois líderes políticos. O governo do Rio Grande do Sul concedeu, postumamente, a Ordem do Ponche Verde ao ex-governador e ao ex-presidente, em reconhecimento ao papel por eles desempenhado na política nacional. “Este Estado não vai permitir o manto de silêncio que se formou sobre a Legalidade”, declarou o governador Tarso Genro, referindo-se à indiferença, observada na historiografia, em relação ao movimento de 1961 que pregava o cumprimento da ordem constitucional.
Leia mais:
– Especial Legalidade 50 anos
– Especial Legalidade 50 anos
O governador afirmou, em seu pronunciamento, que a grande mídia, principalmente do centro do País, ao se referir ao ex-governador Leonel Brizola e ao ex-presidente João Goulart, o faz com ironia e acrescentando as palavras “populista” e até “comunista”. Ele lembrou que quando foi assinada a anistia desses dois líderes políticos, em vez de provocar reflexão, o ato teve como repercussão “um silêncio absoluto”. Mas o “manto de silêncio” jogado sobre essas duas personalidades e sobre a Legalidade não é gratuito, segundo explicou, pois grande parte das questões levantadas por eles, símbolos do trabalhismo, ainda é atual e incomoda as elites. E são questões ainda não resolvidas, como a desigualdade social e as políticas de inclusão. “A voz do Rio Grande vai estar permanentemente na cena política do País”, afirmou Tarso.
Em nome de Brizola, receberam a comenda Ponche Verde o filho do ex-governador, João Otávio Brizola, e a neta, Juliana (estavam presentes também o vereador do Rio Leonel Brizola Neto e o filho de Neusinha, Paulo César, além do irmão de Brizola, Jesus). Em nome dos familiares, a deputada Juliana Brizola, do PDT, agradeceu a homenagem e falou da propriedade de os 50 anos da Legalidade serem comemorados justamente no governo Tarso Genro que, a seu ver, “também representa o trabalhismo, a busca da justiça social e a importância dada à educação”. Como herdeira de sangue de Brizola, Juliana estendeu o direito de herança a todos aqueles que conduzem a bandeira do líder trabalhista.
Reconhecimento aos que lutam pela paz
A Comenda da Ordem do Ponche Verde foi criada por decreto estadual, em 1972, por ocasião do sesquicentenário da Independência, em homenagem a personalidades nacionais e estrangeiras dignas de gratidão. A distinção lembra o episódio de Ponche Verde, onde os revolucionários acertaram com o Duque de Caxias a pacificação da província, finda a Revolução Farroupilha. Brizola e Goulart obtiveram o grau Grã-Cruz in memoriam.
Em nome de João Goulart receberam a honraria seu filho João Vicente e seu neto Christopher. Coube ao neto o agradecimento, fazendo um paralelo entre a simbologia representada pela comenda e o papel do ex-presidente. “Ponche Verde é o símbolo da paz, enquanto falar em Jango é falar em paz e unidade, coisas que ele buscou, embora tivesse que tomar uma decisão extremamente difícil, que foi aceitar o parlamentarismo, para depois sair vitorioso com o restabelecimento do presidencialismo”. Para Christopher, “a atitude valorosa de Jango ainda é pouco reconhecida no Brasil”. Por isso, ele pediu que se reavalie o legado político do ex-presidente, “pois ninguém teve tanta vontade de transformar este país”.
Com o Salão Negrinho do Pastoreio cheio, destacavam-se, além dos familiares de Brizola e de Goulart, integrantes da Brigada Militar, inclusive seu comandante, Sérgio Abreu, reforçando a ideia da importância que teve a corporação para o sucesso da Legalidade. A Banda da BM tocou o Hino da Legalidade, acompanhado com emoção pelos presentes. E, para marcar o cinquentenário, foi lançada a edição especial da revista Brigada Militar na Legalidade.
O secretário da Cultura, Luiz Antônio de Assis Brasil, em sua fala, lembrou que personalidades tão desiguais, em formação e origem, como Brizola e Goulart, acabaram unidos pela mesma causa republicana e de manutenção da ordem constitucional. “Goulart, mais suave e persuasivo e Brizola, orador inesgotável”, comparou. O Rio Grande do Sul, conforme o secretário, “deve tirar ensinamentos do exemplo de honradez, dignidade e de respeito às instituições proporcionado por Brizola e por Jango”.
O pronunciamento do presidente da Assembleia Legislativa, Adão Villaverde, foi no sentido de ressaltar que as comemorações dos 50 anos da Legalidade coincidem com “o período mais largo da democracia brasileira, democracia esta que tinha e tem um valor universal, sendo o elemento de fundo daquele movimento”.
Lançamento de livros no Palácio
A cerimônia teve o lançamento do livro Os 50 Anos da Legalidade em Imagens, produzido pela Secretaria da Comunicação e Inclusão Digital (Secom) do Governo do Estado, que traz dezenas de fotos (e alguns depoimentos) referentes ao episódio. O Museu de Comunicação Hipólito José da Costa foi a principal fonte de pesquisa das imagens.
No final da tarde, ainda no Salão Negrinho do Pastoreio, autores falaram sobre seus livros e deram autógrafos: Juremir Machado da Silva, com Vozes da Legalidade, e Paulo Markun e Duda Hamilton, com 1961- o Brasil entre a Ditadura e a Guerra Civil. Este lançamento da Editora Benvirá é uma edição revisada e ampliada de 1961- Que as Armas não Falem.
Do Sul21
Nenhum comentário:
Postar um comentário