por Rodrigo Vianna no blog Escrevinhador
Fernando Henrique Cardoso é uma espécie de herói intelectual dos
setores que passaram os últimos anos estrebuchando: “regular a mídia é
censura”! O estrebuchar conservador tem algo de absurdo, quando se
lembra que as democracias consideradas as “mais avançadas” do Ocidente
possuem, sim, mecanismos de regulação. Na verdade, os setores
que elevaram FHC à condição de herói querem é impedir que a regulação
permita uma comunicação mais democrática e plural, tão necessária ao
Brasil.
Costumo dizer que o Brasil avançou muito em vários pontos nas últimas décadas:
consolidou a Democracia, estabilizou a moeda, ampliou a rede de
seguridade social, ampliou os direitos trabalhistas, estabeleceu (apesar
das falhas e insuficiências) a mais ampla rede de Saúde Pública do
mundo. Mas, na Comunicação, o Brasil ainda não fez nem a Revolução de 3o: vivemos dominados por uma república velha de barões da imprensa.
Por isso, a declaração do ex-presidente FHC, destacada por João Brant, em CartaMaior, é tão importante:
“não há como regular adequadamente a democracia sem regular
adequadamente os meios de comunicação (…) Os meios de comunicação no
Brasil não trazem o outro lado. Isso não se dá por pressão de governo,
mas por uma complexidade de nossa cultura institucional”.
A frase foi dita durante seminário promovido pelo próprio Instituto FHC. Um dos debatedores, o jornalista Eugênio Bucci (a quem respeito profissionalmente, e pelo qual tenho apreço pessoal) disse que ”a
discussão no país está dificultada por duas irracionalidades: uma de
matriz de direita, que diz que nenhuma regulação é necessária; outra, de
matriz de esquerda, que defende a regulação por um desejo de censurar
os meios. ”
A generalização contra os setores de esquerda que lutam pela regulação recebeu a devida resposta de CartaMaior, que reproduzo aqui:
“É da maior gravidade a simplificação feita por Bucci que, ao
identificar uma “irracionalidade de matriz de esquerda” com desejos
censores nos defensores da regulação, acaba por impor – intencionalmente
ou não – a pecha de censores a todos os setores da esquerda que
defendem a regulação democrática do setor. Carta Maior, uma publicação
assumidamente de esquerda e defensora da regulação repele o carimbo
arbitrário. Não só Carta Maior. A esquerda, as idéias progressistas,
seus veículos de comunicação, e a própria ausência deles, tem sido, elas
sim, objeto de censura política explícita ou de cerco econômico
asfixiante por parte do dispositivo conservador que controla a
comunicação na sociedade brasileira. Antes de afirmações graves como
essa deve-se consultar a memória do país. Ela indica, por exemplo, que o
debate do qual o senhor Bucci participa no Instituto FHC –e que Carta
Maior cobre ecumenicamente, sem censura, mas com direito ao
contraditório– só acontece porque uma parte da esquerda empenhou-se em
incorporar o tema à agenda política nacional. Com resistência
superlativa ou dissimulada, diga-se, da parte de muitos que agora
pontificam sobre o assunto. Bem-vindos; antes tarde que nunca. Não se
pode, todavia, contrariar os fatos.”
Este Escrevinhador assina embaixo. Considera que CartaMaior, além de dar a resposta devida à afirmação incorreta de Bucci, colocou o guizo no gato: o debate sobre regulação da mídia, tendo partido da esquerda, parece ter conquistado o centro do espectro político. A declaração de FHC é um sinal exatamente disso.
Sim! “Antes tarde do que nunca!”
Exatamente como se passa no caso da
Comissão da Verdade, só conseguiremos isolar a direita mais
conservadora, e avançar, se conseguirmos incorporar o “Centro” a esse
debate. Dilma conseguiu (parece) fechar essa equação, indicando dois
personagens muito próximos do tucanato para a Comissão.
Na Comunicação, agora, parece que trilhamos o mesmo caminho.
Superando a guinada conservadora de Serra na campanha de 2010, FHC
estaria disposto a recolocar o PSDB no “Centro”, pelo menos nas questões
dos direitos e da democracia? Tomara que sim…
E, se assim for, não seria a hora de conversar com a parte mais lúcida dos tucanos,
que agora aceita a regulação da mídia? Não seria a hora de travar um
diálogo honesto com personagens de linha liberal, a exemplo de Eugênio
Bucci, para mostrar que em amplos setores da esquerda ninguém
propõe censura, mas regulação da Comunicação – de forma civilizada e
democrática?
Creio que sim! É a hora do bom diálogo para vencer as resistências do extremo conservadorismo. Hora de avançar - com moderação, mas com firmeza.
Aqui, você lê o texto de CartaMaior, na íntegra.
O governo FHC tentou sim regular a mídia, mas não foi além e fez bem. Nenhum país socialmente desenvolvido tem controle político ou social da mídia, isso é idéia de ditaduras (Cuba) ou pseudo ditaduras (Venezuela). O Brasil não deve seguir esses passos e nem vai. TEmos assuntos muito mais importantes a fazer: a inclusão social, acabar com a miséria, dar a grande maioria do povo brasileiro acesso à qualidade de vida, dignidade, cultura, etc. Essa é a verdadeira luta, o resto é baboseira ideológica.
ResponderExcluirErrado Maia. Todas as democracas consideradas avançadas tem um sistema para regular abusos da impresa marron. Prova disto, foi o que aconteceu com o Murdoch na Inglaterra.
ResponderExcluirNão existe nenhuma lei inglesa que controle a mídia. O News of The World, fechado pelo próprio Murdoch fez diversas escutas ilegais e também chantagens isso é crime regulado pelo Código Penal. Assim deve ser, o repórter pratica crime tem que sim ser processado e julgado pelo Judiciário. Na Inglaterra, os atos de Murdoch não estão sendo apreciados e julgados por comissão de notáveis ideológicos, como ocorre em Cuba e VEnezuela, seus atos estão sendo analisados por um Judiciário independente. Esse é o melhor caminho.
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