terça-feira, 21 de agosto de 2012

O Rio Grande do Sul na última década



Por Paulo Muzell
A população gaúcha tem crescido muito ou pouco na última década? Qual foi o comportamento dos fluxos migratórios, externos e internos no Estado? Que regiões tiveram crescimento populacional, ou ao contrário registraram redução? Como se comportou a renda per capita gaúcha no período? Considerando-se as três grandes macrorregiões – Norte, Sul e Nordeste -, como evoluiu a renda dos municípios dessas regiões? E, por fim, como se comportaram as exportações gaúchas nos últimos anos? Estamos exportando mais ou menos?
As respostas às essas indagações estão em três textos da Carta de Conjuntura da Fundação de Economia e Estatística (FEE/RS) do mês de agosto de 2012.
O primeiro, “O baixo crescimento populacional do RS”, de autoria do estatístico Pedro Zuanazzi, informa que o Rio Grande do Sul foi o estado brasileiro cuja população menos cresceu na última década, apenas 5%. Duas foram as causas: a primeira é uma baixa taxa de fecundidade (1,75 por mulher ao longo de toda vida), a quinta mais baixa do país. A segunda é que, dentre as unidades da federação com menor taxa de fecundidade, foi a única que apresentou saldo migratório negativo (mais emigrantes que migrantes). Ou seja, estamos no caminho já trilhado pela Europa; com o aumento da longevidade teremos uma população cada vez mais velha.
A microrregião Porto Alegre que entre 1995/2000 tivera um saldo migratório positivo, em período mais recente (2005/2010) passa a ter um saldo migratório negativo. Já a microrregião de Caxias entre 2005 e 2010 registra expressivo saldo migratório positivo, confirmando tendência já verificada no Censo de 2000. A população de Caxias do Sul, por exemplo, entre 2000 e 2010 cresceu expressivos 21%. No litoral Norte, na microrregião de Osório temos, também, significativo saldo migratório positivo, A situação extrema que evidencia a forte migração é no balneário de Pinhal onde apenas 9% dos moradores nasceram na cidade, ou seja o menor percentual do RS.
O segundo texto “Desigualdades regionais no RS”, de autoria do economista Tomás Fiori informa que, entre 1999 e 2009, o PIB per capita gaúcho cresceu 17% em termos reais, se mantendo quase 17% acima do PIB per capita brasileiro, aumentando, já que em 1999 a diferença era de apenas 15,6%. Se considerarmos as três grandes macrorregiões do estado – a Sul, a Nordeste e a Norte -,verificamos que na Sul dois municípios deixaram o grupo dos 25% mais ricos e, ao contrário, seis entraram no grupo dos 25 % mais pobres. Na Nordeste o desempenho foi ainda pior: há uma redução ainda maior no grupo dos mais ricos e um importante aumento no grupo dos municípios mais pobres. Na região Norte, ocorreu exatamente o inverso: 25 municípios ingressaram no grupo dos mais ricos e nove saíram do grupo dos mais pobres. Convém lembrar que a região sul tem sua formação econômica em torno da grande propriedade pecuarista e arrozeira, a Nordeste (eixo Porto Alegre- Caxias) se assenta na indústria e serviços, enquanto que na Norte localizam-se as pequenas propriedades agrícolas e a agroindústria.
No terceiro e último texto, “RS: o declínio da vocação exportadora”, o economista Álvaro Garcia registra o expressivo declínio da vocação exportadora do RS nos últimos vinte anos. Entre 1992 e 1996 exportamos 12% do total das exportações brasileiras; de 1997 a 2001 o percentual caiu para 10,9%, entre 2002 e 2006, nova redução para 9,6% e, no último período, de 2007 a 2011, o percentual baixa para 8,6%. Considerando apenas dados anuais extremos, em 1992 nossa participação foi de 12,1% do total brasileiro, já em 2011 era de apenas 7,6%, uma queda de 37%.
Álvaro Garcia aponta como primeira causa do declínio o esgotamento da fronteira agrícola do estado que ficou em desvantagem em relação a outras regiões do país, com abundância de terras inexploradas e mais baratas. Outra causa decorreu da importância de certos produtos intensivos em trabalho na nossa pauta exportadora: eles passaram a ter concorrência internacional de países com mão de obra mais barata. O exemplo típico são as exportações gaúchas de calçados. A terceira causa foi o advento do Mercosul. Num primeiro momento funcionou a nosso favor, aumentando as exportações gaúchas para a Argentina. Já a partir da entrada do século XXI a crise econômica argentina trouxe como conseqüência uma política protecionista daquele país que reduziu nossas exportações. O setor de máquinas agrícolas é um exemplo de setor seriamente atingido.

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