- Meu ano foi in-crí-vel, baby! O melhor da minha vida! O seu também, né?
- Não, não foi não.
- Ué, mas por que você está triste?
- Mas eu não estou triste.
- Deprimido, né?
- Também não.
- Já sei! Mal humor, né?
- Não, acordei muito bem.
- Você adora ser do contra, né? Poxa, essa sua visão negra da vida destruiu meu dia.
- Negra, não. Use sombria.
- É por isso que as coisas não dão certo para você. Você atrai!
- Dão sim. Mas para você todos os anos são melhores que os anteriores?
- Você não evolui, não?
- Sim. Eu era um babuíno até 2011.
- Vai se danar.
- Mal humor… né?
- Não, não foi não.
- Ué, mas por que você está triste?
- Mas eu não estou triste.
- Deprimido, né?
- Também não.
- Já sei! Mal humor, né?
- Não, acordei muito bem.
- Você adora ser do contra, né? Poxa, essa sua visão negra da vida destruiu meu dia.
- Negra, não. Use sombria.
- É por isso que as coisas não dão certo para você. Você atrai!
- Dão sim. Mas para você todos os anos são melhores que os anteriores?
- Você não evolui, não?
- Sim. Eu era um babuíno até 2011.
- Vai se danar.
- Mal humor… né?
Este foi um bom ano? Bem, para mim, em comparação com os últimos, não foi.
Problemas profissionais cabeludos, questões chatas de saúde,
Palmeiras rebaixado… enfim, na balança das coisas tive uma translação do
sol complicada. Isso é motivo para chorar no canto da sala e blasfemar
contra as divindades da mitologia cristã? Nop. Mas também não sou
obrigado a dizer que o ano foi lindo só para concordar com quem tenta me
encaixar em uma ditadura da felicidade 24×7, alimentada por comerciais
de TV que fazem você se sentir um lixo, um pária, um idiota sem alma se
não concorda que 2012 foi o melhor ano da história. E que 2013 será mais
feliz ainda – como se a felicidade fosse algo dado e não conquistado.
Vivemos o final do ano, momento em que se convencionou ser de balanço
do último período. Por isso, a quantidade de pessoas que se assusta com
uma análise negativa dita em público é grande. Parece que afirmar que
este não foi um ano bom significa que tudo foi horrível e que rastejamos
feito lesmas catatônicas até o som da rolha da sidra do dia 31 de
dezembro. Claro que não! Aconteceram coisas maravilhosas, mas
racionalizando – e na minha opinião – houve mais contras do que prós. É
subjetivo? Claro! Só que tem gente que não entende isso e quer
pasteurizar as experiências de vida.
Creio que muita gente se esforça para ver tudo de um ponto de vista
cor-de-rosa, negando o que houve de ruim. E aí qualquer posicionamento
mais crítico acaba sendo um ataque frontal ao mundo de fantasia criado
para protegê-los de sua própria realidade. Quando se nega problemas, o
crescimento que poderia decorrer da superação desse processo fica
interditado.
Um conhecido ficou incomodado com uma mulher que chorava em público.
“Ai, ela não podia fazer isso em outro lugar?” Se estivesse rindo, ele
não se importaria tanto. Porque, em verdade, o problema não era ela, mas
ele. E o esforço que ele fazia para ficar bem em sua vida complicada,
com vergonha de que o mundo percebesse que as coisas não eram perfeitas.
Em outro momento, há alguns meses, quando atravessei a porta do
desembarque no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, uma mulher destoava
do clima festivo que permeia, por regra, os desembarques de aeroportos.
Ela chorava em silêncio, provavelmente esperando alguém. Doeu ver a
cena. Pois não eram lágrimas redentoras de quem imagina o que virá, mas
um choro doído e sem contrastes de quem simplesmente não sabe.
Não olhou no relógio ou buscou as horas no celular. Não checou
atrasos ou cancelamentos no painel luminoso. Não se importou com longos
beijos dos casais, famílias que se abraçavam em roda ou manifestações de
apreço de amigos antigos. Ficou agarrada à bolsa, como quem se entrega a
uma boia, em dia revolto, depois de lançada ao mar. Vez ou outra,
quando percebia que alguém a olhava, corria para enxugar as lágrimas com
um lencinho amarelo, borrando de raspão a maquiagem.
Um bom tempo passou até que ela, resignada, se deu por vencida e foi
embora. Tomei o meu rumo, logo em seguida, sem nunca saber o que ela
esperava encontrar.
Muita gente reclamou, disse que deveria ter ido conversar com ela,
ouvi-la, animá-la, fazê-la sorrir. O fato é que, às vezes, a gente
simplesmente não quer sorrir. E sim viver determinado sentimento porque
ele faz parte da existência ou ainda para poder superá-lo e não
enterrá-lo nos descaminhos da memória. Isso sem contar que, não raro,
nós temos as respostas para nós mesmos, bastando procurar em silêncio.
Quando devemos intervir e quando não? Não há gabarito. Quem vai dizer
é sua sensibilidade no momento. Por isso, antes de querer fazer um
“favor” a outra pessoa, pare e tente entendê-la. Somos condicionados a,
diante de algumas situações, tentarmos “salvar” um semelhante. Mas quem
disse que precisamos ser salvos?
Enfim, não é o último post do ano, mas já desejo um 2013 cheio de felicidade para você.
GET HAPPY from David EvilArts on Vimeo.
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