Vanguarda popular: a direita sai do armário (com roupas de esquerda)
O que pretendem os jovens brasileiros de direita, liderados pelo Instituto Millenium
Alex Solnik, na revista Brasileiros, sugestão do Igor Felippe
É didático assistir à palestra de Helio Beltrão Filho postada no site
do Instituto Mises Brasil, do qual é o presidente. Ele fala em perfeito
inglês na sede do Mises americano, em Auburn, Alabama, mostrando
entusiasmo e alegria. “Hoje é carnaval no meu País, o Brasil”, diz ele,
esbanjando simpatia. “Os brasileiros estão gozando do seu sagrado
direito à felicidade… Eu digo no sentido bíblico…”
Risos discretos pontuam sua observação. O jovem Helio Beltrão Filho
vai em frente: “Com toda a festa que ocorre hoje no meu País, escolhi
estar aqui porque a minha festa é aqui”.
Ele é a face mais visível e, ao mesmo tempo, menos assustadora da
articulação de direita que grassa no Brasil desde 2005. Assustador é o
brasão do Instituto Mises Brasil que lembra, por tudo, a TFP (Tradição,
Família e Propriedade). O lema do instituto é “Propriedade, Liberdade e
Paz”.
O rosto do brasão é do “patrono” do instituto, o economista
conservador austríaco de origem judaica Ludwig von Mises, de frente e de
perfil. A imagem de perfil guarda uma profunda semelhança com o general
Costa e Silva. Talvez seja uma menção proposital. Helio Beltrão, pai do
jovem Helio, foi ministro dos presidentes Costa e Silva e João
Figueiredo. Presidiu a Petrobras e foi acionista do Grupo Ultra. Com sua
morte, as ações foram herdadas pelo filho.
O brasão é medieval, mas sua utilização é moderna. Ele aparece
estampado em camisetas, bonés, chaveiros, moletons, adesivos, todos os
tipos de acessórios familiares aos jovens. Até mesmo em shapes de skate.
Acompanhado de frases como “Inimigo do Estado”, “Privatização Total” e
“Imposto é Roubo”, o busto de Von Mises também aparece isolado em
camisetas, fora do brasão. Talvez uma tentativa de transformá-lo em Che
Guevara da direita. Todos os produtos são vendidos na loja virtual do
instituto.
Guevara de Mickey Mouse
A direita se modernizou, essa é a verdade. (“E a esquerda ficou
velha”, comenta um amigo, guerrilheiro dos anos 1970). Helio Beltrão
Filho é um importante articulador da aliança de direita no Brasil, mas
não é o único a utilizar as mesmas armas da esquerda para outros fins.
O Movimento Endireitar, por exemplo, comercializa uma coleção de
camisetas com nome muito sugestivo: Vanguarda Popular. Vanguarda Popular
Revolucionária é o nome do grupo de guerrilha em que atuou, na
juventude, a presidenta Dilma Rousseff. Faz parte da coleção de estampas
uma montagem em que um Che Guevara aparvalhado aparece vestindo orelhas
de Mickey Mouse. Em outros modelos, há inscrições como Enjoy
Capitalism, grafada com as letras da Coca-Cola.
Há dezenas de blogs de direita explícita rolando na internet. Mas o
mais importante deles é um portal que se chama Instituto Millenium. É um
senhor portal. Perdão, ele não se assume de direita. Mas nem precisava
se assumir. O flerte com a direita é explícito. Basta conhecer a lista
dos institutos associados, OSCIPs ou ONGs criados depois do Millenium –
Movimento Endireita Brasil, Mises Brasil, Instituto Ling, Instituto
Liberal, Instituto Liberdade, Instituto de Estudos Empresariais…
Dez ao todo. Ou consultar a lista de livros indicados com destaque para Por que Virei à Direita,
assinado por Luiz Felipe Pondé, João Pereira Coutinho e Denis
Rosenfield. O curioso é que o contraponto a esse lançamento da Editora
Três Estrelas (de propriedade do grupo Folha de S. Paulo) – A Esquerda que Não Teme Dizer seu Nome, de Vladimir Safatle da mesma editora – é tacitamente ignorado.
Por trás de um nome solene, Millenium, não poderia haver menos
solenidade no organograma. Os dirigentes fazem parte do Conselho de
Governança, há Câmaras de Doadores, de Mantenedores, o linguajar remete
aos tempos dos Cavaleiros da Távola Redonda.
Pedro Bial é fundador
Mas não importa. O portal é grandioso. Não podia ser diferente, se
dois de seus pilares são Roberto Civita e Grupo Abril e João Roberto
Marinho, sem Rede Globo, porque os dois outros irmãos não estão no jogo.
Roberto e João Roberto são mantenedores e integram o Conselho de
Governança. Nomes de alta estirpe comandam a operação, como Jorge Gerdau
Johannpeter, Armínio Fraga, Helio Beltrão Filho (novamente) e outros
rostos conhecidos da TV também estão lá. Pedro Bial, por exemplo, é
fundador e curador.
A lista de doadores traz uma surpresa: Leandro Narloch. Um nome
familiar. Há muitas semanas frequenta a lista de best sellers da revista
Veja, publicada pela Editora Abril, e cujo
redator-chefe, Eurípedes Alcântara, integra com Antonio Carlos Pereira,
chefe dos editorialistas do Estadão, o Conselho Editorial do Instituto Millenium. Há pouco tempo, o best seller de Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, ganhou uma réplica de Luiz Felipe Pondé, que lançou o Guia Politicamente Incorreto da Filosofia. E também entrou na lista de best sellers da Veja.
Haja colaboradores!
Convém explicar que o Millenium é um portal de artigos e notícias
(texto e vídeo) fornecidos por seus 450 colaboradores e especialistas.
Você leu certo: 450. Ives Gandra Martins, Nelson Motta, Marcelo
Madureira, José Padilha, Josué Gomes da Silva, Claudia Costin, Bolívar
Lamounier, Reinaldo Azevedo, Eurípedes Alcântara, Roberto da Matta,
Pedro Malan, Carlos Vereza, Luiz Felipe D’Ávila, Carlos Alberto
Sardenberg, Demetrio Magnoli e Marco Antonio Villa, entre muitos outros.
Nenhuma revista tem tantos. Nem a Veja. Nenhum jornal. Nem o Estadão, nem a Folha. Ninguém.
Amaury de Souza
Mas antes de ser portal, Millenium é um instituto sediado no Rio de
Janeiro, que promove fóruns, simpósios e colóquios sobre os temas que
mais lhe são gratos: a forma de diminuir o tamanho do Estado brasileiro e
como preservar a liberdade de expressão que, segundo seus líderes, está
ameaçada.
O interessante é que, quando a liberdade de expressão não foi apenas
ameaçada, mas suprimida nos tempos da ditadura militar, esses mesmos
paladinos da democracia não foram vistos nas trincheiras da liberdade de
expressão. Muito ao contrário.
Presidente do Instituto Milleniun até 17 de agosto último, quando não
resistiu a um câncer do pâncreas, aos 69 anos, o cientista político
Amaury de Souza tem, em seu pomposo e elogiado currículo, passagem como
professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército
(ECEME), o que leva a crer que ele e os militares dividiam, no mínimo,
as mesmas convicções.
Tanto é verdade, que, em 1999, ele recebeu da Escola Superior de
Guerra a Medalha do Mérito Marechal Cordeiro de Farias. Que serviços
terá ele prestado à ditadura? Não foram pequenos, caso fossem não seria
tão grande a honraria. Sua barba bem comportada jamais compareceu a
algum protesto, nos anos 1960 e 1970, contra a censura à imprensa.
Denúncia do Casseta
De 2005 para cá – enquanto vivo, claro – à frente do Millenium,
Amaury de Souza organizou colóquios, simpósios e fóruns a dar com pau.
Um deles, denominado Democracia e Liberdade de Expressão, em 24 de março
de 2010, com a participação impagável de Reinaldo Azevedo e Marcelo
Madureira. Esses encontros se resumem em cada um dos participantes
listar o que há de pior no Estado brasileiro sob a batuta do PT.
Marcelo Madureira, que era conhecido até então apenas como humorista,
fez uma denúncia sensacionalista: a democracia no Brasil estava em
perigo. “Quero denunciar o seguinte: a sociedade brasileira é vítima de
ataques à democracia! São ataques à democracia, como o mensalão é um
ataque à democracia, a legislação eleitoral é um ataque à democracia. E a
sociedade tem de reagir com firmeza a isso!”.
“Eu sou de direita!”
Reinaldo Azevedo mal tinha saído das fraldas, fez 3 anos em 1964,
muito cedo para entender o que estava acontecendo. Em 1968, completou o
sétimo aniversário. Mas, em 1984, quando ele estava com 21 e todas as
pessoas de bem do Brasil foram às ruas para derrubar a ditadura militar
sem um tiro sequer, não sabemos onde Reinaldo Azevedo se encontrava. Nos
palanques das Diretas Já não foi visto.
Hoje, no entanto, ele se acha em condições de dar aulas sobre
democracia, como fez nesse fórum do Instituto Millenium, em que
deblaterou sobre política e economia com a mesma falta de conhecimento:
“Todos nos tornamos reféns de uma questão que se chama estabilidade
econômica. A ditadura militar ruiu por conta da inflação e, enfim, a
militância, etc. Mas por conta da inflação, que se estendeu Nova
República adentro, de maneira dramática (…). Nós tínhamos um partido que
passou vinte e tantos anos fazendo a guerra de valores, sabotando todas
as tentativas de estabilização, as honestas e as atrapalhadas, de
maneira que chega em 2002, o PT se elege, faz uma carta ao povo
brasileiro e todos, especialmente os setores mais conservadores, fatias
importantíssimas do empresariado: ‘Ahhh, eles aderiram finalmente à
economia de mercado, então vamos todos respirar aliviados. Finalmente,
eles não vão querer fazer o socialismo’. (Levantando a voz, quase
colérico.) A questão é se eles conseguiriam fazer se quisessem! (Mais
calmo). Porque não conseguiriam! E por quê? Eles nos ofereceram
estabilidade e, então, de algum modo, nós entregamos tudo a eles”.
Reinaldo Azevedo continua: “Existe uma guerra em curso. O lado de cá,
o lado de cá que eu digo é o lado da democracia…Marcelo Madureira
disse: ‘Eu sou PSDB’. Eu não sou! Sou de direita! O PSDB não é. É da
direita democrática. Eu sou um liberal democrata, não sou um social
democrata!”.
O verme dos arrozais
No dia 20 de março de 2012, Arnaldo Jabor dá a sua contribuição ao
Fórum Democracia e Liberdade de Expressão do mesmo Instituto Millenium:
“Vamos falar claro: o Lula, apesar de bater cabeça pros dois lados, de
bater uma no cravo e outra na ferradura, uma na caldeirinha e outra na
cruz, ele manteve os bolchevistas, os jacobinos fora do poder de alguma
maneira. Manteve certa cerca ao jacobinismo. Com seu temperamento
conciliador, etc. E chega momento em que fica até repulsivo. Mas ele
conseguiu isso. É um mérito real. Agora, o perigo é que… Eu conheço,
como alguns aqui conhecem, como o Amaury (de Souza) conhece cabeça de
comunista. Cabeça de comunista não muda, ela é feita de pedra, de
granito, aquilo não muda. Fui do Partido Comunista, mudei, mas sou um
caso raro… Sou um comunista autocrítico. Não aquelas autocríticas que
eles faziam, extraordinárias… Eu me lembro de uma famosa do Lin Piao que
começava assim: ‘Eu sou um cão imperialista, eu sou um verme dos
arrozais…”.
Mas o que eles querem, afinal, com tudo isso? Qual é o objetivo?
Derrubar o governo atual? Tomar o poder? Como? Talvez a melhor resposta
seja a intervenção de Alberto Carlos Almeida no 5o Colóquio Impostos, Consumo e Cidadania
no dia 24 de agosto de 2010, em que ensina a um pequeno grupo de
formadores de opinião como convencer a população brasileira a exigir do
Congresso Nacional a redução de impostos: “O que a população quer é
redução de impostos de alimentos. Nós temos de mobilizar a sociedade
brasileira e simplesmente dizer: vamos colher dez milhões de assinaturas
para os congressistas votarem redução de impostos nos alimentos. Isso
pode virar um rastilho de pólvora. Aí, precisaremos de alguns mecenas.
Você vai falar para os empresários: ‘Temos de reduzir impostos e vocês
são mecenas’. ‘Não, eu não vou contribuir porque tenho medo do governo.’
Então, esqueçamos, vai cada um para sua casa sonegar impostos. O
brasileiro é pragmático. Ele quer comprar mais. O brasileiro não tem
doutrina contra o imposto, contra o governo. Tem de vender isso pra ele.
‘Ah, você quer comprar mais? Então, assina aqui a favor da redução de
impostos.’ Pronto!”.
O mundo da demagogia
Conselheiro de políticos, Alberto Carlos Almeida, a quem, aliás,
Reinaldo Azevedo chama de “trapaceiro” e “plagiador”, enquanto é taxado
por ele de “ultradireitista”, tem uma visão muito particular sobre
democracia: “Democracia, por definição, é o mundo da demagogia! Ou você
vai chegar na campanha e dizer: ‘Olha, vou aumentar seus impostos. Por
favor, vote em mim!’? Você tem de prometer reduzir imposto! Quando
chegar lá, você vê o que vai fazer! É assim que funciona em qualquer
lugar do mundo!”.
Amparado em pesquisas, revela conhecer as entranhas do pensamento da
classe média brasileira: “Funcionário público para a população
brasileira se resume a três: policial, médico e professor. O resto que
se dane! A população pensa assim. Porque é quem lida com ela”.
Ele tem a fórmula para acender o pavio de sua revolução contra a
grandiosidade do Estado: “A comunicação com o povo brasileiro é simples:
‘Olha, vamos reduzir impostos, mas não vamos mexer em direito
trabalhista e vamos impedir que aconteça greve de policial, médico e
professor. Você me apoia?’. Ele vai dizer: ‘Claro que apoio’. A
comunicação tá pronta”.
Por trás de tantas palavras, pesquisas e elucubrações de tantos
luminares como Alberto Carlos Almeida – a maioria de barba bem aparada,
geralmente grisalha e um estranho modo empolado de falar – há um projeto
que pode ser sintetizado dessa forma. O que eles querem primeiro é
“levantar” a população contra o Estado, convencê-la de que é muito
grande e ineficaz, que o caminho para tal é diminuir impostos.
Cortar impostos, em última análise, equivale a dar menos dinheiro
para o Estado petista. Com menos Estado, com menos impostos a serem
recolhidos, o governo do PT fica fragilizado, perde sua base de
sustentação, que são os pobres e, então, a direita poderá entrar com seu
discurso nesse vácuo. E tentar o caminho das urnas. Será? Mas quem será
seu líder?
Nêumanne: não sei de nada
Um paraibano alto, de cabeça grande, que fala grosso. Essa é uma
descrição aproximada e sintética de José Nêumanne Pinto, cuja foto e
nome constam da lista de colaboradores e especialistas do Instituto
Millenium.
No café que marcamos em um bar do bairro de Higienópolis, na região
central de São Paulo, ele nega conhecer o Instituto Millenium. A
situação se inverte: ele pede que eu explique do que se trata.
“Mas sua foto está lá, com seu nome e seus artigos”, tento
argumentar. Ele alega pirataria. Ademais, não tem tempo para ler todos
os blogs e portais que replicam seus artigos. Não são seus três empregos
os responsáveis por lhe tomar tanto tempo.
Em um dia apenas, ele escreve um editorial para o Jornal da Tarde,
grava um comentário político para a Rádio Jovem Pan e outro para o
Jornal do SBT. Perde mais tempo, porém, com outras dores de cabeça. Ele
tornou-se alvo, uma espécie de Geni, na qual os petistas já se
acostumaram a jogar pedra. Claro que a resposta dos petistas é muitas
vezes mais virulenta que seus comentários anti-Lula. (Em seu livro mais
recente, O Que Sei de Lula, ele acusa o ex-presidente
da República de ter delatado colegas na época do sindicato de São
Bernardo do Campo.) Um deles começou a denunciá-lo sistematicamente por
estupro.
“Pegamos o Nêumanne”
O que mais machucou Nêumanne, no entanto, foi saber, por meio de um
amigo comum, que o ministro da Justiça José Eduardo Cardoso tinha
comemorado a denúncia, antes de a Justiça considerá-la falsa e obrigar o
Google a retirá-la, sob pena de multa de R$ 10 mil por dia. “Pegamos o
Nêumanne”, teria comentado o ministro. Outra aporrinhação partiu de um
sujeito que decidiu enviar ameaças de morte, via internet, para ele
“parar de falar mal do Lula”. Uma das mensagens mostrava um revólver
apontado para o jornalista. O autor foi identificado, compareceu à
delegacia, prestou depoimento e foi liberado.
Tento arrancar de Nêumanne alguma reação. Pergunto se não se incomoda
em participar de uma orquestração de direita, mesmo sem se dar conta
disso. Ele não dá a mínima, diz apenas: “Ah, eles me convidam de vez em
quando para alguma conferência, mas nunca fui”. Nêumanne admite, no
entanto, conhecer o presidente do Instituto Millenium, Amaury de Souza.
“Ele é meu amigo. E não é de direita.” (Uma semana depois do nosso
encontro, Amaury de Souza morreu.)
Tropa de elite
Outra foto e nome que estão lá e ninguém mandou tirar: José Padilha, o
diretor de Tropa de Elite. Ele também não dá muita importância ao
e-mail que lhe envio, pois o que recebo de volta é uma mensagem de sua
assessora, Rafaela Panico, com o seguinte teor: “O José Padilha está em
pré-produção com seu próximo filme no exterior. Ele está muito ocupado e
não está podendo dar entrevistas nem por e-mail nesse momento. Peço
desculpas e espero poder te ajudar em uma próxima oportunidade”.
Quem diria: Bolívar Lamounier também aparece como colaborador e
especialista do Instituto Millenium. Eu jamais o identificaria com o
pensamento de direita. Mas ele é parceiro de Amaury de Souza no livro A
Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Projetos. Bolívar mantém
certa distância do Millenium, pero no mucho: “Eu participei uma vez ou
duas de seminários deles. Não tenho participação regular e não sou
articulista, mas não vejo motivos para criar arestas, só se houver um
problema específico”.
“Cuide dos seus comunistas”
No tempo em que bandeiras vermelhas da TFP saíam às ruas de São Paulo
para combater as bandeiras vermelhas do comunismo – anos 1960, 70 –,
jornalistas de esquerda predominavam nas redações. Um empresário
reconhecidamente de direita, como Roberto Marinho, não deixava os
militares prenderem “seus” comunistas para não desfalcar seu time.
“Cuide dos seus comunistas que eu cuido dos meus”, disse certa vez a um
general de plantão no poder.
Os “comunistas” tinham fama de trabalhadores sérios, competentes e
criativos. Dono de jornal, precisava vender jornal. Ainda que houvesse
censura, imprensa precisava ser de “oposição”.
Ninguém compra um jornal para ler elogios. O empresário não corria
riscos de ver a ideologia de seu funcionário estampada nas páginas.
Disso cuidava a censura. Do esquerdista, o empresário aproveitava o
talento, a força de trabalho, o fato de ser “pau pra toda obra”.
Era contraditório: a direita tinha ganhado a guerra pelo poder, mas a
esquerda comandava as redações. A esquerda mandava tanto na imprensa,
que um grupo de jornalistas do Pasquim conseguiu acabar
com a carreira do mais famoso cantor da época, Wilson Simonal, acusado
de ser dedo-duro da direita. Em uma ditadura de direita, a esquerda
derrubou um artista de direita!
Diogos Mainardis
Mais adiante, anos depois, a situação se inverteu. A ditadura caiu,
em 1985, graças ao empenho da esquerda, pois a direita ficou até a
última hora ao lado da ditadura militar. Mas nas redações a situação se
inverteu. A direita ocupou as posições da esquerda. Havia, em 2002,
apenas um Diogo Mainardi – que saiu da Veja e entrou na Globo News.
Agora, são dezenas.
Para ter um bom emprego, bem remunerado, numa publicação de grande
porte, a senha agora é ser de direita. Mais precisamente: falar mal de
Lula e do PT. Falar mal de Lula e do PT passou a significar espaço
garantido nos grandes veículos de comunicação, com as devidas
recompensas monetárias.
Os esquerdistas perderam seu encanto? Seu talento? Não. Com o advento
da democracia e o fim da censura, manter esquerdistas tornou-se
perigoso. Agora, eles podem esparramar sua ideologia nas páginas dos
jornais e revistas. A censura acabou. Ao invés de vigiá-los, os patrões
(de direita) preferem contratar profissionais de direita, que pensam
como eles (os patrões). Devido a esse fenômeno, o pensamento de direita
está disseminado em um número cada vez maior de veículos de comunicação
no Brasil.
“Por que todo mundo tem de ser progressista?”
Não por acaso, ideias de direita estão de volta à circulação no
Brasil. Seus principais propagadores são jovens, como Ricardo Salles, um
advogado de 37 anos, de São Paulo, que em nada lembra, no trajar, um
sujeito de direita. Mas é. Tanto é que o grupo que preside se chama
Movimento Endireita Brasil. Em seis anos, desde 2006, ele conseguiu
aglutinar 450 participantes ativos.
Salles já foi candidato pelo PFL, hoje critica o DEM. Está filiado ao
PSDB, mas não se entusiasma pelo partido. Participa das atividades do
Instituto Millenium, mas gostaria que ele se assumisse como direita,
assim como o Endireitar.
Numa rápida conversa que tivemos em seu escritório, ele disse, em
resumo, o que pensa sobre as desigualdades sociais no Brasil: “Tem muita
gente que é pobre porque não quer trabalhar! Tem muita gente que não
vai pra frente na vida porque não quer se esforçar. Tem muita gente que
comete o crime porque realmente não tem valores. Não tem nada a ver com
problema social, que ela foi criada em favela”.
Ideologia: “Por que todo mundo tem de ser de esquerda? Por que todo
mundo tem de ser progressista? Por que todo mundo tem de ser
pró-interferência do Estado na economia? Pró-Bolsa Família? Pró-BNDES?”.
Lady Baginski
O discurso de Ricardo Salles, contrário a qualquer ditadura, até à
militar, virou lugar comum entre os jovens direitistas brasileiros. E
também a versão de que a ditadura de direita no Brasil foi um mal menor,
estabelecida para evitar uma ditadura de esquerda que estaria sendo
engendrada.
Talvez a mais excêntrica das jovens brasileiras de direita atualmente
seja a advogada de Caxias do Sul de apenas 22 anos, muito bonita e
ligeiramente punk. Usa piercing no lábio inferior.
Embora defenda a legalidade democrática, Cibele Bumbel Baginski ou
Lady Baginski, como ela prefere ser chamada, decidiu, com seu grupo, em
junho deste ano, relançar um partido que foi criado para apoiar a
ditadura militar de 1964: Arena. Ela jura de pés juntos à Brasileiros
que ditadura não é papo para ela, o nome é só um nome. No entanto,
muita água ainda vai rolar debaixo da ponte até que sua Arena reúna os
500 mil votos necessários para disputar eleições em 2014, como ela e seu
grupo planejam.
Nenhum partido, em uma democracia, é óbvio, vai declarar publicamente
que pretende chegar ao poder pela força, e não pelo voto. É pelo voto.
Hitler chegou ao poder pelo voto. A incógnita é como a direita vai agir
depois de chegar ao poder pelo voto. O problema não é a direita entrar, é
a direita sair. É uma hipótese bem difícil de acontecer, essa de a
direita chegar ao poder pelo voto no Brasil.
Políticos experientes não se arriscam a fundar um partido de direita
em um País com as desigualdades sociais do Brasil. Os partidos de
direita sempre tiveram de esconder a palavra direita. Direita não dá
voto. Qual é o discurso da direita para o povão? Para o trabalhador?
Quando a direita foi a favor de aumentar salário de trabalhador?
A direita só tem discurso para a classe média e daí pra cima. A
direita só terá sucesso eleitoral no Brasil quando a classe média tiver
votos suficientes para elegê-la. Enquanto os pobres e os trabalhadores
formarem a maioria dos brasileiros, a direita não terá vez nas urnas.
Direitas Já
Suponhamos, no entanto, que ela ganhe uma eleição presidencial.
Governo da direita democrática. Como o governo de Lady Baginski vai
reagir em caso de greve de trabalhadores? Como será seu diálogo com os
índios? E com os sem-terra? E com os sindicatos? A direita no poder
saberá negociar com o Congresso Nacional ou vai impor sua vontade pela
força? E se o Congresso Nacional resolver peitar o governo de direita, o
que poderá acontecer?
“O voto não vem em primeiro lugar”, antecipa-se um dos participantes
de um blog chamado Direitas Já, Renan Felipe, de 21 anos. Antes, é
necessário conscientizar a população, o que o seu e outros dezenas de
blogs de direita estão fazendo atualmente.
Tanto Lady Baginski quanto Renan Felipe estão nas águas da direita
sem conhecer muito bem aquele que foi e é até hoje a expressão máxima
desse caminho político, o abominável Adolf Hitler. “Ele tinha qualidades
e defeitos como qualquer ser humano”, arrisca La Baginski. “Li Mein
Kampf, assim como muitos outros para trabalho escolar, superficialmente,
como material de pesquisa. Sobre o autor da obra, diria que tem um
estilo de escrita que não é extremamente cativante, apesar de objetivo
nas suas ideias e, bem ou mal, acreditava no que dizia. Teve defeitos e
qualidades, como todos os seres humanos. Como político, creio que
cometeu erros crassos e deu vazão a consequências muito desagradáveis de
se rememorar na história.”
Falando à Brasileiros, Renan Felipe culpa a esquerda
pela existência da direita: “Esse é um preconceito muito difundido no
Brasil, que é o de associar nacional-socialismo ou fascismo com direita
política. Tanto o nacional-socialismo quanto o fascismo nascem da
esquerda política e se dirigem para o centro, mesclando elementos de
nacionalismo e socialismo. Nunca li o livro de Adolf Hitler, apenas
excertos, discursos e citações. De modo geral, as ideias
nacional-socialistas são ruins porque mesclam tudo que não presta:
socialismo, racismo e nacionalismo fanático”.
A direita brasileira nunca esteve tão ativa intelectualmente como
hoje. A direita brasileira nunca teve adeptos tão jovens como tem hoje. O
que falta ainda à direita brasileira é um grande orador – parafraseando
a epígrafe de Hitler aqui acima – capaz de ganhar a maioria dos
brasileiros para a “causa”.
SÓ NÃO VALE DAR TIRO NO BLOGUEIRO
Seu lema é: “Estamos chegando! A nova direita do Brasil!”. Suas
palavras de ordem são: “Deus é supremo… Comunismo é do demo!”, “Vote no
PT de novo para ele entrar mais fundo no rabo do povo”, “Diga não à
política narcótica vermelha”. Sua mensagem, ele transmite em vídeo
postado em seu blog, que faz referências ao Movimento Endireita Brasil.
Ricardo Gama é bem diferente de outros direitistas, que falam para a
classe média de forma tranquila e ponderada. Ele tenta ser entendido
pelo povão, seu discurso é mais chulo e ditatorial: “Ahhh… As minhas
razões e as minhas emoções pra fazer esse vídeo… É sobre o vídeo que eu
fiz sobre o Sérgio Cabral e o Anthony Garotinho que postei agora no meu
blog… Tão me metendo porrada… Dá mais porrada! Só não vale dar tiro no
blogueiro!”
Gama fala mais: “Mermão, quando Garotinho foi governador do Rio, eu
não morava aqui, eu morava em Minas. Hoje, eu tô no Rio de Janeiro. Você
tá criticando Garotinho, você tá criticando Sérgio Cabral, tão dizendo
que os dois… Critica, mermão, mas faz alguma coisa!”. Mais ainda: “Mas
olha só: não faz só no mundo virtual, não, faz no mundo real também. O
governo do Anthony Garotinho já passou, agora tá no governo Sérgio
Cabral, que tá essa zona toda e ninguém faz porra nenhuma!”. Outro:
“Ficam teclando na internet. Poucos têm coragem de dar as caras.
Liberdade de expressão! Senta porrada no deputado Anthony Garotinho! Mas
por quê? Quando ele era governador, nego não saiu na rua quando ele fez
alguma coisa errada, claro que ele deve ter feito alguma coisa errada,
ninguém é perfeito”.
Gama continua: “Mas por que o povo não saiu na rua? Não quebrou a
porra toda? Não se rebelou? Agora ficam criticando! Agora tá o Sérgio
Cabral, roubando pra caralho, ninguém faz porra nenhuma! E aí o quê?
Quando entrar o próximo governador…” Ele escreve mais: “Mermão, não fica
só no protesto virtual… Dá as caras! Sai na rua! Se mobiliza! Reclama!
Reclama com o atual, porque o passado não adianta mais, não”. Outro
post: “Em 2014, vai ter eleição. Preste atenção em quem você vai votar,
mas reclama, mermão! Pode me usar. Pode me xingar. Pode me meter a
porrada. Mas reclama! Digita aí mesmo. Mas vê se faz um favor: sai na
rua!” Ainda: “A vida, mermão, não é só futebol, novela e mulher bonita
na praia. ‘Ah, eu não gosto de política’. Foda-se que você não gosta.
Mas você é governado por políticos e a sua omissão tá fazendo o povo
viver na merda! Eu sou Ricardo Gama. Um abraço. Aflora, meu irmão! Põe
pra fora! Vamo dar um basta!”.
QUEM É QUEM NO MILLENIUM
Um dos fundadores e curadores é o conhecido apresentador do BBB
Brasil, da Rede Globo, Pedro Bial. Mas o Instituto Millenium é composto
por:
Câmara de Fundadores e Doadores
Uma lista de 16 nomes, entre eles, os mais conhecidos são Guilherme
Fiuza (jornalista), Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central no
governo FHC), Helio Beltrão Filho (presidente do Mises Brasil e sócio e
ex-presidente do Grupo Ultra), Paulo Guedes (economista) e Pedro Bial
(apresentador do BBB, da TV Globo)
Câmara de Mantenedores
Alguns: Roberto Civita (presidente do Grupo Abril), João Roberto
Marinho (um dos sócios da Rede Globo), Arminio Fraga (economista do
governo FHC), Helio Beltrão Filho, Jorge Gerdau Johannpeter (presidente
do Grupo Gerdau), Josué Gomes da Silva (filho de José Alencar,
vice-presidente da República no governo Lula), Maristela Mafei
(presidente da Máquina Public Relations), Nelson Sirotsky (presidente do
Grupo RBS)
Câmara de Instituições
Confederação Nacional dos Jovens Empresários, Espírito Santo em Ação,
Instituto Atlântico, Instituto de Cultura da Cidadania, Instituto de
Estudos Empresariais, Instituto Liberal, Instituto Liberdade,
Instituto Ling, Instituto Mises Brasil e Movimento Endireita Brasil
Instituto Ling, Instituto Mises Brasil e Movimento Endireita Brasil
Conselho de Governança
Presidente Amaury de Souza (morto em agosto passado), Antonio Carlos
Pereira, Helio Beltrão Filho, João Roberto Marinho, Jorge Gerdau
Johannpeter, Luiz Eduardo Vasconcelos, Roberto Civita, Paulo Guedes,
Salim Mattar, William Ling e Pedro Henrique Mariani
Gestor do Fundo Patrimonial Armínio Fraga
Conselho Editorial
Antonio Carlos Pereira e Eurípedes Alcântara
Mantenedores e Parceiros
Abril, Gerdau, Localiza, Statoil (Grupo Líder), Suzano (Grupo
Master), Instituto Ling, Mises Brasil (Grupo Associado), Thomsom
Reuters, Maquina Public Relations, Grupo M&M, Grupo RBS, O Estado de
S. Paulo
Doadores
Uma lista extensa, da qual constam João Roberto Marinho, Roberto
Civita, Arminio Fraga, Josué Gomes da Silva, Leandro Narloch (o escritor
best seller)
POR QUE NINGUÉM MATOU ESSE CARA?
“Não ignoro que é pela palavra muito mais do que por livros que se
ganha os homens: todos os grandes movimentos que a História registrou
ficaram a dever muito mais aos oradores do que aos escritores” Adolf
Hitler, em Mein Kampf.
Fui ler, depois de velho (para esta reportagem) o tal do Mein Kampf,
do canalha Adolf Hitler. Fiquei indignado. E recomendo a leitura para
que todos percebam que esse foi o maior canalha da História.
O que ele escreve sobre os judeus é asqueroso. Não entendo como algum
judeu alemão não o matou naqueles idos de 1924, quando ele escreveu
esse lixo de ofensas. O maior gênio da humanidade, então, se chamava
Albert Einstein, um judeu. E alemão. O maior gênio do cinema era outro
judeu Charles Chaplin. Hitler, no entanto, afirma que os judeus “até
parecem gente”, “não tomam banho”, “são covardes”, e os insulta com um
sem-número de impropérios que só podiam sair da boca de um covarde,
sádico, imoral e genocida, cujo assassinato, então, poderia ter salvo
milhões de vidas de pessoas maravilhosas.
por Alex Solnik
Via Viomundo
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