Há setenta anos, depois de mais de dois milhões de
mortos nos dois campos (a União Soviética perdeu mais de um milhão e cem mil
combatentes e civis, só nesse combate) terminou a mais sangrenta de todas as
batalhas da História – a de Stalingrado.
Com a capitulação de von Paulus e
mais 22 generais de Hitler, e 91.000 de seus soldados remanescentes, a Segunda
Guerra Mundial foi decidida ali. Até então, o Fuehrer e suas tropas
pareciam invencíveis. Em julho de 1942, quando se iniciou a batalha na cidade,
Hitler e Mussolini dominavam todo o território continental europeu e parte da
Escandinávia - com a exceção dos paises neutros, como a Suíça e a Suécia. A
Noruega, apesar de sua declaração de neutralidade, foi invadida pelos alemães e
resistiu com bravura à superioridade bélica dos agressores durante 60 dias,
sendo obrigada a capitular.
As Ilhas Britânicas resistiram, com
estoicismo, depois da dramática retirada de Dunquerque, aos bombardeios quase
cotidianos de Londres e de seus centros industriais pelas bombas voadoras, e
pelos aviões da Luftwaffe. Os americanos, que lutavam no Pacífico, adiaram por
muitos meses o envio de tropas ao teatro europeu. O seu desembarque, na
Sicília, só ocorreu em julho de 1943, quando, com a virada de Stalingrado, os
soviéticos já haviam iniciado a contra-ofensiva, com a marcha sobre Berlim. Se
Hitler vencesse a guerra na Europa, seus simpatizantes norte-americanos, entre
eles o seu maior industrial, Henry Ford, e o seu herói nacional, Charles
Lindbergh, seriam provavelmente estimulados a liderar um movimento fascista na
América.
O mais pesado dos tributos de sangue e bravura
no confronto com a Alemanha Nazista coube aos soviéticos e à resistência dos
guerrilheiros, entre eles os comandados por Tito, na Iugoslávia. No inventário dos sacrifícios, o maior foi o
do povo de Stalingrado e dos soldados soviéticos que ali combateram e morreram.
Ainda que tenham sido comunistas
os comandantes da resistência à invasão alemã de junho de 1941, eles tiveram a
inteligência de não atribuir só ao regime os louros do triunfo. Assim, deram à sua luta o título de A Grande Guerra Pátria.
Hitler e seus ideólogos, ao
planejar a Operação Barbarossa,
supuseram que os eslavos iriam saudar as suas tropas como libertadoras. Embora
isso tenha ocorrido em certas cidades polonesas e, é claro, em antigos enclaves
germânicos perdidos na Primeira Guerra Mundial, os russos imediatamente
formaram seus grupos de guerrilheiros, com homens e mulheres, trabalhadores das
cidades e dos meios rurais, sob o comando dos comunistas, mas também dos
líderes nascidos no clamor da urgência,
muitos deles bem jovens.
Não era só o regime socialista que
se via ameaçado; era a Pátria que estava sendo agredida por tropas
estrangeiras. Stalingrado era um ponto estratégico para a ofensiva de Hitler. Lutou-se naquela cidade, durante seis meses e
quinze dias, minuto a minuto, de bairro em bairro, de casa em casa, até a
derrota dos alemães. Ao heroísmo dos resistentes de Stalingrado, civis e
soldados soviéticos, cabe a parcela mais
significativa dos sacrifícios da Europa Oriental, que perdeu mais de vinte milhões de seus habitantes
durante o conflito.
No tempo em que surgem, em nome da
cínica “isenção” dos historiadores, os que tentam, na Alemanha e em outros
países, rever os fatos e desculpar Hitler e os seus seguidores, é bom relembrar
a Batalha de Stalingrado e reverenciar os que ali morreram. Graças à sua
bravura, conseguimos preservar alguns dos grandes valores do humanismo.
Na verdade, essa cidade se chama Volgogrado. Li recentemente o Diário Russo (Russian Journal) de John Steinbeck, ilustrado com fotos maravilhosas do Robert Capa. Os dois foram juntos para a antiga URSS em 1948 e estiveram em Vologrado, entrevistando pessoas que contaram detalhes dessa façanha de resistência. Recomendo, esse livro é muito bem editado pela Cosac Naify.
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