A Receita Federal cobra uma dívida
bilionária em impostos das Organizações Globo, mas lamentavelmente a
disputa jurídica se trava na mais completa escuridão. Que a Globo
esconda a cobrança se entende, mas que a Receita Federal não coloque
transparência num caso de alto interesse público para mim é
incompreensível.
A única vez em que vi uma reprovação
clara em João Roberto Marinho, acionista e editor da Globo, foi quando
chegou a ele que a Época fazia uma reportagem sobre o modelo
escandinavo. Como diretor editorial da Editora Globo, a Época respondia a
mim. O projeto foi rapidamente abortado.
Voltemos ao queixume do editorial da Folha.
Como já vimos, a carga tributária do
Brasil é de 35%. Agora olhemos dois opostos. A carga mais baixa, entre
os 60 países que compõem a prestigiada OCDE, Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico, é a do México: 20%. As taxas
mais altas são as da Escandinávia: em redor de 50%.
Queremos ser o que quando crescer: México ou Escandinávia?
O dinheiro do imposto, lembremos,
constrói estradas, portos, aeroportos, hospitais, escolas públicas etc.
Permite que a sociedade tenha acesso a saúde pública de bom nível, e as
crianças – mesmo as mais humildes – a bom ensino.
Os herdeiros da Globo – os filhos
dos irmãos Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto – estudaram nas
melhores escolas privadas e depois, pelas mãos do tutor Jorge Nóbrega,
completaram seu preparo com cursos no exterior.
A Globo fala exaustivamente em
meritocracia e em educação. Mas como filhos de famílias simples podem
competir com os filhos dos irmãos Marinhos? Não estou falando no
dinheiro, em si – mas na educação pública miserável que temos no Brasil.
Na Escandinávia, a meritocracia é
para valer. Acesso a educação de bom nível todos têm. E a taxa de
herança é alta o suficiente para mitigar as grandes vantagens dos
herdeiros de fortunas. O mérito efetivo é de quem criou a fortuna, não
de quem a herdou. A meritocracia deve ser entendida sob uma ótima justa e
ampla, ou é apenas uma falácia para perpetuar iniquidades.
Recentemente o site da Exame
publicou um ranking dos 20 países mais prósperos de 2012 elaborado pela
instituição inglesa Legatum Institute. Foram usados oito critérios para
medir o sucesso das nações: economia, empreendedorismo e oportunidades,
governança, educação, saúde, segurança e sensação de segurança pessoa,
liberdade pessoal e capital social. A Escandinávia ficou simplesmente
com o ouro, a prata e o bronze: Noruega (1ª), Dinamarca (2ª) e Suécia
(3ª).
Se quisermos ser o México, é só
atender aos insistentes apelos das grandes companhias de mídia. Se
quisermos ser a Escandinávia, o caminho é mais árduo. Lá, em meados do
século passado, se estabeleceu um consenso segundo o qual impostos altos
são o preço – afinal barato – para que se tenha uma sociedade
harmoniosa. E próspera: a qualidade da educação gera mão de obra de alto
nível para tocar as empresas e um funcionalismo público excepcional. O
final de tudo isso se reflete em felicidade: repare que em todas as
listas que medem a satisfação das pessoas de um país a Escandinávia
domina as posições no topo.
O sistema nórdico produz as pessoas mais felizes do mundo.
A Escandinávia é um sonho muito
distante? Olhemos então para a China. À medida que o país foi se
desenvolvendo economicamente, a carga tributária também cresceu. Ou não
haveria recursos para fazer o extraordinário trabalho na infraestrutura –
trens, estradas, portos, aeroportos etc – que a China vem empreendendo
para dar suporte ao velocíssimo crescimento econômico.
Hoje, a taxa tributária da China
está na faixa de 35%, a mesma do Brasil. E crescendo. Com sua campanha
pelo atraso e pela iniquidade, os donos da empresa de mídia acabam
fazendo o papel não de barões – mas de coronéis que se agarram a seus
privilégios e mamatas indefensáveis.
Para todo texto, aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário