quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O franciscano "fazedor de votos"

Esclarecedora esta postagem do blog La Vieja Bruja. Prestem atenção nos diálogos:

O RS Urgente repercutiu a entrevista concedida hoje, 14, pelo deputado federal progressita José Otávio Germano ao programa Gaúcha Hoje, na Rádio Gaúcha, apresentado pelo jornalista Antonio Carlos Macedo. José Otávio Germano é réu, ao lado da governadora Yeda Crusius (PSDB), na ação civil pública de improbidade administrativa movida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra ambos e mais 7 integrante do novo jeito de governar.

Macedo - que se declarou eleitor de José Otávio Germano -, em determinado momento da entrevista, acusa o deputado de ofender a inteligência do público, referindo-se à sua insistência na versão das senhas para votação no Grêmio a fim de explicar uma suposta discussão sobre valores da propina que, segundo o MPF, dividia com outros integrantes do esquema do Detran:


José Otávio Germano, em determinado momento da entrevista concedida ao seu eleitor - que também revelou "quase ter trabalhado" com o deputado -, retrucando temerária afirmação de que será absolvido das acusações que lhe foram imputadas pelo MPF e reeleito, sustenta ser uma bondosa alma completamente desapegada de coisas mundanas como, por exemplo, eleições:

- "(...) Macedo, reeleito ou não, meu irmão, me desculpe, não é o importante para mim nesse momento (...) eu não me preocupo com eleição, meu deus do céu... já alcancei tudo que podia alcançar... não tenho mais preocupação eleitoral, não tenho mais preocupação política (...)".

Não era assim, no entanto, que pensava o referido deputado há alguns meses atrás, como veremos abaixo.



Em 09 de janeiro do ano passado, Antônio Dorneu Maciel narrou a José Otávio Germano, em longa conversa, daquelas que só se têm com amigos muito íntimos, o diálogo que tivera com Antônio Britto, ex-governador do RS (1995-1998), a respeito de assuntos políticos de interesses progressistas e peemedebistas. Para Britto, a CPI então recém instalada - A CPI do Detran fora instalada em dezembro de 2007 - tinha o objetivo político de atingir a governadora, devido sua proximidade a Lair Ferst, donde não se seguiriam motivos para maiores preocupações.

José Otávio Germano pergunta a Maciel se Britto "(...) tá fora ou ele se faz que tá fora?", muito provavelmente em referência a articulações para a nomeação de Cézar Busatto para a Casa Civil. Maciel, por sua vez, responde que acha que "ele se faz...". O deputado, então, questiona Maciel sobre a possibilidade da nomeação de Busatto ser "coisa dele", ainda em referência a Britto, e Maciel responde que o ex-governador teria garantido que não, pois em conversa que teria tido com a governadora - que teria lhe pedido que convencesse Busatto a aceitar o cargo -, afirmou não o ter convencido, embora tenha sentido "que o Busato queria...":


O problema maior para a consecução dos objetivos da articulação, segundo Maciel, seria ela, em provável referência à governadora. O que soa estranho na fala de Maciel é a afirmação de que o ex-governador Antônio Britto estaria muito preocupado com o futuro da articulação então em construção, embora "Busatinho" seja "jeitoso" e "habilidoso":


Na sequência, José Otávio Germano questiona Maciel sobre "os nossos assuntos". "E os nossos assuntos hein? andaram alguma coisa?", referindo-se ao levantamento das assinaturas necessárias para a criação de uma CPI contra o PT, a fim de abafar as investigações da comissão parlamentar de inquérito então em curso, a CPI do Detran. Maciel, então, responde positivamente e elogia a atuação de "Marchesan" - muito provavelmente o deputado estadual tucano Nelson Marchezan Júnior - e de "Jerônimo" - muito provavelmente o deputado estadual progressista Jerônimo Goergen -, além de confirmar que com o deputado progressita Pedro Westphalen "está tudo certinho", destacando a necessidade de se "pegar uma boa assessoria jurídica", retomando o argumento de Otomar Vivian - segundo o qual, relembramos, "duas coisas seriam fundamentais no processo de preparação do partido para o enfrentamento da CPI. Uma delas seria 'um assessoramento jurídico de qualidade, fora da Assembleia' - numa referência ao próprio trabalho de 'Serginho", indicado por 'Zé Otávio', 'Otomar', 'Celso' e 'Maciel' para assessorar o partido na CPI por ser 'uma pessoa de confiança, (...) leal ao partido' - e outra seria a 'área de imprensa', uma vez 'que nós temos que ter um alguém que tenha jogo de cintura, que conheça os formadores de opinião (...)'" -, atual chefe da Casa Civil do novo jeito de governar:


Segundo Maciel, ainda dirigindo-se a José Otávio Germano, o ex-governador Antônio Britto teria elogiado "Boschi", "este que está cuidando de ti...", e que "um nome um pouquinho mais abaixo aí é o brozoza":


O deputado progressista apostava que a CPI do Detran teria vida curta, tese que encontra eco em Maciel, que ressalva, somente, que isso "só depende do plenário dela", não sem destacar que ela, a governadora, teria achado que a ideia da CPI contra o PT, então em articulação por progressistas a fim de prejudicar o trabalho da CPI do Detran, fora "muito boa":


José Otávio Germano, então, demonstra uma certa irritação com o comportamento da governadora e ameaça "começar a falar", provavelmente em represália, afirmando que "essa mulher tem que...", sendo prontamente repreendido por Maciel, que afirma ser "hora de ficar quieto (...) porque o Britto acha que se forem mexer... se a CPI for pra entrar nela... vai direto nela... vai nela... se mexer com o Lair vai nela (...) ele acha que só tem um sentido essa CPI... que é política né", livrando-os de maiores responsabilidades:


A conclusão do desinteressado deputado é a de que, em função da CPI do Detran supostamente ser direcionada contra ela, tese então defendida por Antônio Britto, a governadora teria que "cuidar da gente, né...". Maciel concorda com Germano, mas ressalva que esse tipo de coisa é algo que deve ser dito pessoalmente, e não através dos jornais:


É aí, então, que o deputado José Otávio Germano, encerrando a conversa, deixa claro o quanto as eleições significam pouco em sua vida. Faltando, à época, mais de dois anos para as próximas eleições, que ocorrerão somente no ano que vem, o deputado afirma o que se segue, sugerindo um comportamento tão natural em sua forma de fazer política, se é que o que faz pode ser assim chamado, quanto sua capacidade de apresentar, em suas justificativas, argumentos que troçam da inteligência alheia:

- "bom, eu vou começar minha campanha e pronto...cuidar de fazer votos... de novo...":



Maciel, então, refere-se ao deputado de uma maneira carinhosa, típica de amigos íntimos e desinteressados das coisas mundanas. Uma coisa quase franciscana:


O diálogo acima - retirado por La Vieja das páginas 261/268 e 444-445 do segundo volume da ação civil pública de improbidade administrativa movida pelo MPF contra José Otávio Germano, a governadora e mais sete integrantes de seu novo jeito de governar -, para o MPF, "é deveras esclarecedor da extensão do envolvimento dos réus no esquema improbo e fraudulento de desvio de verbas do DETRAN, notadamente quanto ao envolvimento da governadora do Estado, Yeda Crusius, e do deputado federal José Otávio Germano".

Nenhum comentário:

Postar um comentário