sábado, 7 de novembro de 2009

Diário Gauche: O Sófocles da Bom Jesus garante que o RS está em "guerra civil"


Por Cristóvão Feil


Sim, o lumpesinato de colarinho branco está em guerra contra a cidadania

O Sófocles da Bom Jesus se manifestou - de ladinho, nunca de frente - sobre o que chamou de "guerra civil do Rio Grande do Sul". A entrevista do personagem em busca de um autor foi concedida à publicação "Jornal da Capital", edição de outubro/2009.

Intitulando-se o tempo todo, de forma insistente, repetida, reiterada e novamente, de "intelectual" que "leu tudo" ("Hoje, eu posso falar sobre os gregos, sobre Shakespeare, sobre Garcia Lorca, eu li tudo, absolutamente tudo"), o nosso Sófocles arrabaldino garante que há uma "fratura no Estado", que resulta de "uma intolerância que é recíproca".

Até aqui, o personagem enamorado de si próprio, faz parecer que encontra-se à distância dos fatos que narra. Entretanto, linhas adiante, ele se afofa no pântano yedeiro, sem nunca nomeá-lo, para representar-se mais cool e manter a pretendida "fala de autoridade" que persegue durante a entrevista: "É muito grande a quantidade de pessoas que eu conheço [...] que estão cansadas com essa situação política, que não ligam mais, não querem saber. [...] Você abre um jornal e tem que ler exatamente as mesmas denúncias de escândalos. São todas cotidianas, tão banais! A essa altura da minha vida eu não quero mais participar. [...] Há uma saturação desse clima de denuncismo".

Pronto, sob as vestes da dissimulação e o capuz da má consciência, agora ele é um missionário yedoso, mas que não ousa revelar a sua missão.

Esse texto cínico cairia como uma luva para outros personagens como Eliseu Padilha e Yeda Crusius, por exemplo. Chico Fraga também está apto a dizer, não sem o acento afetado de um tédio profundo:

- É tudo tão cotidiano, tão banal!

O autonomeado intelectual dos intelectuais guascas ainda consegue exalar um aroma de racismo e intolerância étnica que vem do fundo dos tempos, quando diz que "até os índios toscos dos Estados Unidos inventaram um instrumento para isso [a trégua, que ele chama de "instinto humano" (sic)], que era o cachimbo da paz".

Simone de Beauvoir escreveu, em 1955, uma pequena obra chamada "O pensamento de direita, hoje". Foi editado no Brasil pela extinta "Paz e Terra", com tradução do meu amigo professor Manuel Sarmento Barata, e lançado em 1967.

Muito bem, nessa pequena grande obra, Simone desmonta peça por peça o constructo ideológico que a direita estava formulando por ocasião do início da Guerra Fria. Já no início, ela cita Jules Romain, um intelectual que depois desbundou de vez, mas antes disso conseguiu sintetizar numa frase um flagrante de verdade inabalável ao se referir à direita, ele dizia: "Ser da direita é temer pelo que existe".

É o que faz o tempo todo, o nosso inseguro e reiterativo intelectual de bombachas, ele teme, se queixa, não aceita, esperneia, regurgita e devolve o que existe.

E o que existe, mesmo?

Ora, existe - no duro e no gelatinoso do real - um acirramento da luta de classes no Rio Grande provocado por duas motivações básicas e gerais, que por sua vez acabam derivando para um complexo de múltiplas outras variáveis, a saber:

1) diminuição do excedente econômico causado basicamente pela crise estrutural do arcaico modelo hegemônico regional;

2) crise política no bloco hegemônico, que deslegitima e fragiliza sucessivos governos, oportunizando assaltos criminosos aos bens públicos e que retroalimenta o circuito, tanto da crise de modelo, quanto da crise política entre as frações de classes hegemônicas.

Assim, o discurso da direita provincial procura justificar - através de seus porta-vozes, hoje, foi o Sófocles de si mesmo, ontem, foi um empresário de sobrenome Vellinho - a própria decadência, atribuindo a crise à Oposição, ou seja, ao Partido dos Trabalhadores e seus deputados na Assembléia.

Pobre PT! Como se todas as denúncias - integralmente - não tivessem a mesma origem: brigas intestinas entre os próprios agentes de confiança do yedismo envolvidos em suspeitas de fraudes, improbidade administrativa, prevaricação, desvio de recursos públicos, enriquecimento ilícito, etc. Não há uma só denúncia, ou fração dela, que tenha origem na chamada Oposição. Esta cumpre tão-somente, estritamente, o seu papel constitucional formal. Formalíssimo.

E o que propõem, então, de fato, esses sub-intelectuais, sub-empresários e o próprio yedismo de fracassos, para além das justificações infantis que consideram os interlocutores como tolos passivos? Três coisas: Nada. Nada. Nada.

Eles preferem condenar a humanidade ao absurdo, ao nada, como diz Simone de Beauvoir, do que pôr-se a si mesmo em discussão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário