segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

América Latina: esquerda, volver; direita, vai ver...

Eles se foram: e agora, quem representa a direita na América Latina? Partidos conservadores estão à deriva

Evo Morales acaba de dar uma surra na oposição, na Bolívia. Isso nem chega a surpreender. O que surpreende é o fato de as siglas tradicionais da centro-direita boliviana estarem à beira do colapso: o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), de Víctor Paz Estensoro, e a Ação Democrática Nacionalista (ADN), de Hugo Bánzer, e o MIR (que deu apoio ao governo liberal de Sanchez de Lozada) já tinham entrado em decadência antes de Evo Morales chegar ao poder.

A direita "inventou" uma força opositora a Evo, o "Podemos" - que até recentemente dominava o Senado boliviano.

Pois bem, o "Podemos" também se desintegra. A oposição boliviana não tem partidos, não tem discurso - a não ser afirmar que a popularidade de Evo ameaça a democracia. Que piada. O que ameaça a democracia são os golpes que a direita sempre apoiou.

A direita, na Bolívia, sobrevive na mídia e em movimentos que pregam a secessão, a divisão territorial do país - como em Santa Cruz de la Sierra... Ou seja: a direita se aloja em movimentos regionais, sem força nacional.

Mas o desmanche dos partidos tradicionais não é um fenômeno só da Bolívia.

Na Venezuela, a AD e o COPEI (que dominaram a politica nacional durante a segunda metade do século XX) viraram partidos nanicos.

O PSUV de Chavez é majoritário, em aliança com o Partido Comunista da Venzeuela (que preferiu não se dissolver no partido chavista).

A direita na venezuela precisa "inventar" novas siglas, porque as velhas ruíram quando o neo-liberalismo afundou.

Na Argentina, a UCR (que não é de direita, mas de centro; um partido liberal, com fortes raizes na classe média portenha, e que sob o governo de Alfonsin teve papel fundamental na redemocratização do país pós ditadura) chegou à beira do colapso, depois do governo de De la Rúa (que fugiu do palácio de helicópetero) e quebrou a Argentina.

Os setores mais à direita no peronismo também naufragaram depois que Menem (um peronista que adotou a agenda neo-liberal) acabou com o que restava do Estado argentino.

A direita argentina já "inventou" uma nova sigla: o PRO. É comandado por Macri, uma espécie de Berlusconi local - homem rico, dirigente do Boca Juniors, tenta cooptar o eleitorado de direita nas grandes cidades (especialmente na grande Buenos Aires.

No Uruguai, o último pleito mostrou a decadência do velho Partido Colorado. Rival histórico do Partido Nacional, aceitou apoiar Lacalle (candidato do Partido Nacional) no segundo turno, para evitar a vitória da esquerda. Os dois apanharam juntos, e terão que se reinventar para fazer frente aogoverno de Pepe Mujica, da Frente Ampla.

O Chile talvez seja exceção nesse processo.

No país andino, o centro (desde o fim da ditadura de Pinochet) mantém uma aliança firme com a centro-esquerda do Partido Socialista. A direita, isolada, perdeu todas as eleições, mas não perdeu a direção. Até porque, no Chile, a direita não renega a ditadura de Pinochet. Defende Pinochet, defende o programa liberal (na economia) que ele implantou.

No Chile, a direita é mais "orgânica", e tem chance real de ganhar a próxima eleição - sob o comando de Sebastián Pinera, um milionário local.

E o Brasil?

Aqui, o quadro é mais confuso, mais matizado...

O colapso da economia, nos anos 80, não provocou o enterro das duas velhas legendas: PMDB e PFL. Eles perderam o centro do poder, mas sobreviveram nas beiradas, costurando alianças com tucanos e petistas.

O PMDB mantém-se no poder com Lula. Cada vez mais fragmentado.

Já o velho PFL passa por um processo semelhante ao da direita na Venezuela e na Bolívia. Mudou de nome (DEM) em 2007. Adotou um tom "liberal" no discurso, e preparou-se para ser o partido das classes médias conservadoras e liberais: contra os impostos, contra a corrupção.

Mas a danada da realidade atrapalhou tudo.

O DEM é uma caricatura.

O escândalo dos panetones põe o partido na lista das legendas em extinção. Com a expulsão de Arruda, deve perder o único governo que possuía (do Distrito Federal).

Dos 13 senadores que possui, 8 terão que passar pelo teste das urnas em 2010. Há risco concreto de encolher para uma bancada de 8 ou 9 senadores. E de 30 a 40 deputados.

Os tucanos (ao contrário da direita chilena) parecem envergonhados de defender o legado neo-liberal de FHC. Isso pode custar caro.

O partido viu sua base definhar no Congresso. E só sobrevive com algum destaque porque domina dois Estados importantes: São Paulo e Minas.

Falta identidade à direita brasileira. Falta programa.

No quadro partidário, ninguém cumpre o papel de encampar o discurso da direita. O DEM havia levantado velas, e preparava-se para ocupar essa raia. Mas parece que naufragou antes de chegar a mar aberto.

Não acho isso bom. A direita é uma força política, real, na sociedade brasileira. Se não se sentir representada politicamente, pode aderir a aventuras extra-institucionais (gostaram do eufemismo para golpe?).

O desespero que vemos nos colunistas e comentaristas da mídia corporativa indica o grau de desespero dessa turma. No Brasil, a direita sobrevive na mídia!

A desagregação política da direita na América Latina é um fato. No Brasil, esse fato ganhou uma imagem simbólica a representá-lo: as propinas do DEM.

Uma nova direita deve surgir. Espero que surja como opção política. Não como gangue, nem como aventura fora dos marcos da democracia.

Por Rodrigo Viana do blog Escrevinhador

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