segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Avatar

Por Luis Fernando Veríssimo


O crítico de cinema da revista The New Yorker David Denby flagrou duas das ironias de Avatar.O filme é, ao mesmo tempo, contra a tecnologia e o mais empolgante exemplo de tecnologia avançada que já se viu no cinema.Máquinas de guerra supersofisticadas são derrotadas por arcos e flechas com a ajuda espiritual da Natureza.

E é um filme abertamente, panfletariamente anti-imperialista que está batendo recordes de renda onde o império do cinema americano alcançou.E em muitos casos tendo liquidado culturas locais.

Como disse James Cameron aos seus pares quando recebeu o Globo de Ouro por Avatar: “Gente, nosso trabalho não é o melhor trabalho do mundo?”É um trabalho à prova de contradições.

Cameron confia tanto no poder embasbacador do seu filme, que não se dá o trabalho de entrar em detalhes.Nunca se fica sabendo o que os habitantes de Pandora e os avatares respiram através daqueles narizes achatados, já que oxigênio não é.E nunca fica claro por que o tal “unobtainium” é tão importante para os invasores terrenos, a ponto de justificar o massacre dos nativos.Como o mineral não é identificado, fica-se autorizado a substituir “unobtainium” por “petróleo” para reforçar a analogia anti-imperialista.E para não haver dúvidas, no filme há uma rápida referência a outra invasão americana.É quando alguém compara a tática que será usada contra a resistência nativa ao choque e espanto, shock and awe.Shock and awe é o nome dado às primeiras operações no Iraque.Os vilões do filme não são exatamente as forças armadas americanas, são mercenários pagos por empresários para fazer o trabalho sujo.Os vilões são a estupidez de uns e a ganância dos outros. Vilões conhecidos.Fora a tecnologia sofisticada, diz o filme, o século 23 repete o século 20.Pensando bem, repete todos os séculos de conquistas imperiais desde o 16º.

Jake Sully, o avatar que adere à resistência nativa e acaba liderando-a, é um herói também à antiga.Não falta, na sua exortação ao seu novo povo, o punho levantado e a frase desafiadora “Esta terra é nossa”.Só faltou, mesmo, dizer “O unobtainium é nosso!”

O que eu achei do filme? Achei sensacional.

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