domingo, 21 de março de 2010

Saiba como o déficit zero é sustentado por uma campanha de desinformação


Quer o entender o significado do déficit zero e a ideologia que está por trás dele? Leia o artigo “Em defesa dos déficits públicos”, do economista norte-americano James T. Galbraith, professor na Universidade do Texas. Filho de John K. Galbraith, James foi um dos primeiros a prever a crise econômica de 2008, ainda em 2004 e é autor do livro “The Predator State: How Conservatives Abandoned the Free Market and Why Liberals Should Too” (O Estado Predador: como os conservadores abandonaram o livre mercado e por que os liberais também deveriam fazê-lo (Free Press).

No artigo, Galbraith trata de algumas afirmações apresentadas como senso comum que são, na verdade, parte de uma grande campanha de desinformação.

O fardo da dívida pública vai “se impor sobre nossos netos”, ou algo como “dívidas sem fim” estão supostamente diante de nós. Tudo isso faz parte de uma das maiores campanhas de desinformação de todos os tempos. A desinformação está enraizada no que muitos consideram o senso comum mais elementar. Pode ser visto como sabedoria caseira, especialmente, dizer que “assim como a família, o governo não pode viver além de suas possibilidades”. Mas governo não é como família. Nessas questões, os setores privado e público diferem em pontos muito básicos. Sua família depende de renda para honrar suas dívidas. Seu governo, não.

O economista lembra que há basicamente duas maneiras de se obter o que chamamos de crescimento econômico:

Uma maneira é o governo gastar. A outra, os bancos emprestarem. Deixando de lado os ajustes de curto prazo, como o aumento das exportações líquidas ou da inovação financeira, basicamente é disso que se trata. Governos e bancos são duas entidades com poder de criar algo do nada. Se é para a capacidade de investimento aumentar, um ou outro desses grandes motores financeiros – déficit público ou empréstimos privados – tem de entrar em ação.

Para as pessoas comuns, déficits orçamentários públicos, a despeito de sua má reputação, são muito melhores do que empréstimos privados. Déficits põem dinheiro nos bolsos privados. Os lares passam a ter mais dinheiro, livre e limpo, e podem gastar como quiserem. Se quiserem, também podem convertê-lo em ganhos com fundos públicos ou podem voltar a honrar suas dívidas. Isso se chama um aumento do “patrimônio financeiro líquido”. As pessoas comuns se beneficiam, mas não há aí nada para os bancos.

E é isso, sustenta Galbraith, o que explica a fobia de Wall Street, da mídia corporativa e dos economistas de direita em relação aos gastos de governos:

Banqueiros não gostam de déficit fiscal porque ele compete com os empréstimos bancários como fonte de crescimento. Quando um banco faz um empréstimo, o equilíbrio das contas em mãos privadas também aumenta. Mas agora o dinheiro não é de propriedade livre e limpa. Há uma obrigação contratual de pagar juros e de honrar a dívida principal. Se o empreendimento quebra, talvez haja um ativo a ser executado – uma casa ou uma fábrica ou companhia – que então vai se tornar propriedade do banco. É fácil de ver por que os banqueiros amam o crédito privado e odeiam os déficits públicos. (Íntegra do artigo)


Via RS Urgente

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