segunda-feira, 26 de julho de 2010

Gripe A não é mais a atração principal do espetáculo midiático


Há um ano não tinha Copa do Mundo. Também não tinha “caso Bruno”, nem eleições se aproximando. O show, porém, não podia parar. A Gripe Suína, depois Gripe A, depois H1N1, foi, então, a bola da vez. Páginas e mais páginas, manchetes e mais manchetes, reportagens e mais reportagens abordaram o assunto por todos os lados. E esse ano? Não tivemos nenhum caso de Gripe A? Tivemos, sim. Alguém viu alguma notícia em algum jornal, seja impresso, de rádio ou de televisão?

Pois a doença está por aqui de novo, e ninguém está alarmado, não há desespero nas ruas, não há falta em massa às aulas, não há pessoas saudáveis andando com máscaras. Não há nada disso porque, dessa vez, não há sensacionalismo por parte da mídia. Esse factóide já foi usado no ano passado para obter audiência, agora as novas atrações do circo midiático são Copa do Mundo, “caso Bruno” e eleições.

A Zero Hora lembrou, por um breve instante, da Gripe A. Em duas páginas, na “Reportagem Especial” desta terça-feira, traz, já em seu título, a pergunta: “Por que a Gripe A não assusta tanto?”. Bom, a resposta está no parágrafo anterior, não na tal matéria, assinada por Juliana Bublitz e Kamila Almeida. Segundo a matéria, quatro “ações que ajudaram a barrar a epidemia” foram a vacinação em massa, a campanha de conscientização, a imunização natural da população, e a maior rapidez nos diagnósticos. Um quadro apresentado na matéria, porém, mostra que o número de casos da doença caiu menos que pela metade. A cobertura da imprensa, porém, caiu para quase zero, enquanto, no ano passado, ganhou um espaço próximo ao que a Copa do Mundo ganhou neste ano.

Que “epidemia barrada” é essa que até agora já tem 675 casos confirmados, enquanto no ano passado a população era apavorada por 1175 casos até 15 de julho? Com 90% da meta de vacinação alcançada, uma diminuição como essa não é muito pequena? O que mudou a fundo mesmo não foi a força ou a expansão da doença. O que mudou é que agora a mídia tem outros factóides dos quais tirar seu suco publicitário.

Está recém chegando, aliás, outra atração que promete ser explorada e espremida até cair a última gota de sangue: a morte, por atropelamento, do filho da atriz e apresentadora da TV Globo Cissa Guimarães. Reconstituições com alta tecnologia mostrarão como foi o atropelamento, especialistas vão criticar o motorista e o atropelado, populares opinarão em enquetes quantitativas por telefone ou internet: “para você, de quem foi a culpa pelo acidente?”. E assim o show continua.


Do Jornalismo B

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