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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Manuela se acha predestinada ao cargo, Fortunati faz uma gestão medíocre



Em Porto Alegre, nem todos os gatos são pardos

Em Porto Alegre, muita coisa mudou, mas uma segue a mesma: há dois grupos políticos em disputa. Quando o PT perdeu as eleições para a prefeitura de Porto Alegre, em 2004, o grupo político que hoje está coligado, majoritária, porém não exclusivamente, na aliança da candidatura Fortunati vivia um momento de ascensão na cidade e no estado.
O ponto culminante dessa formação de partidos que começou a se consolidar ainda em 1999 foi a eleição de Yeda Crusius para governadora, em 2006. A desagregação desse aglomerado de direita se deu com o desastre da gestão do PSDB, no RS. Outro fator de desagregação deste bloco gaúcho de centro-direita veio com a consolidação eleitoral do PT, no terceiro mandato no governo federal, conformando uma gestão, desta feita, diretamente vinculada ao PMDB e ao PDT.
Visto de longe, como faz o longínquo candidato do PSDB local, tudo parece a mesma coisa. Fortunati, Manuela e Villaverde seriam representações do mesmo grupo, do lulo-petismo. Esse diagnóstico é grotesco e obscurantista e aceitá-lo envolve um grande risco.
Um destes riscos contamina a candidatura Manuela D’Ávila, cuja propaganda carrega as tintas no individualismo e numa suposta predestinação da candidata ao cargo. Mais do que um pateta desavisado da extrema direita católica, mais do que a grande aliança da direita local, o discurso que embala a candidatura Manuela pode ser a expressão de uma representação um tanto conservadora, num processo eleitoral. De modo geral, a campanha da deputada está centrada nos seguintes atributos: a candidata teve muitos votos, a candidata é mulher, a candidata trouxe 380 milhões para o RS em emendas parlamentares, a candidata “ajudou a trazer a Copa e as Olimpíadas para o Brasil”.
A campanha se desdobra em outros apelos. Inventou também de dizer que a candidata estudou em Harvard e na Universidade de Madri. Não fosse Manuela tão ligada nas redes sociais, jovem que é, esse tipo de postura seria compreensível. Fazer três dias de curso em Harvard não é estudar em Harvard, tampouco participar de seminário de mulheres, na Universidade de Madri, é estudar na Universidade de Madri. Tem outros dois detalhes imagéticos que são ostensivamente agressivos ao feminismo: a candidata vestir-se com roupas de senhoras dos anos 50, para dar a impressão de maturidade, e o uso de relatos de quadros políticos da aliança partidária da candidatura dela, todos homens, na casa dos 55 anos para cima. Um deles começa falando que ela é bonita. Essas condutas apelativas são agressivas.
No plano político, essa candidatura encerra um formato mais grave: o apoio de Ana Amélia Lemos. Esta senhora de triste figura, representante do latifúndio, da RBS, da monocultura agroexportadora, dos golpistas do Paraguai, da Monsanto e grande elenco de entidades antirrepublicanas, como a turma das armas e do monopólio da comunicação, é pré-candidata da oposição ao governo do Estado do RS. No mercado da falta de almas dessa política espetacular, o apoio da Ana Amélia tem um preço: derrubar o PT em 2014, no RS. Este preço, vale dizer, não é cobrado, pelo menos não ainda, da candidatura Fortunati.
A gestão Fortunati é medíocre, como é sabido e vivido. 
Quando Fogaça saiu é inegável a melhora: a prefeitura passou a ter alguma existência. Fortunati tentou resolver o problema do lixo, e parece que a calamidade foi relativamente enfrentada. Mas a regressão dos avanços na coleta seletiva e nas incubadoras de cooperativas é inegável e, infelizmente, segue assim. As ruas e os parques estão mais limpos, deve-se dizer. É feio, para dizer o mínimo, ter placas da Coca-Cola e da Pepsi parasitando espaços públicos da cidade. É feio e sem justificação republicana, mas não muda voto.
Voto é uma coisa mais séria do que uma marca, uma candidatura encerrada em si mesma e do que diferenças culturais.
A candidatura Fortunati tem uma agenda, que pode ser medíocre, que pode ser, em certa medida, tão pessoal e individualista como a da Manuela. 
Mas tem lastro político, partidário, tem enraizamento na experiência política da cidade, inclusive desde a época das gestões do PT, visto que o OP segue aí, as escolas não sofreram grandes mudanças e há uma certa estabilidade institucional que se conformou, sobretudo depois da saída do grupo mais ligado ao Fogaça, que parecia cultivar uma certa repulsa a compromissos mais republicanos e populares, no que concerne à administração da FASC e às políticas sociais, exemplarmente.
A grande e única inovação da gestão Fortunati é a SEDA, a Secretaria Especial dos Direitos dos Animais. É uma inovação civilizatória e ambientalmente luminosa, além de uma política pública na acepção quase plena da palavra (esta coisa de ação de gabinete de primeira dama é politicamente regressiva), porque promove e fomenta e dá exemplo de educação e bem estar.
A Porto Alegre onde se inventava de verdade e se pensava e realizava políticas públicas republicanas, democratizantes e oxigenadas, todos os dias do ano, essa Porto Alegre não existe mais. Pode ser que volte a existir, mas não se deve menosprezar os períodos históricos em que as experiências se constituem. 
Hoje, o PT não é uma força política em ascensão na sociedade, cultivada na resistência ao neoliberalismo triunfante no país, num período recente pós ditadura. Não, o PT está no terceiro mandato no governo federal, não governa a cidade há quase dez anos e parte importante da atual gestão da prefeitura é formada por quadros de partidos que estão, tanto no governo federal, como no estadual, também do PT. 
A candidatura Villaverde tem como principal adversário, paradoxalmente, o seu maior aliado: o poder de que já dispõe o seu partido, a experiência consolidada de uma mudança epocal no país, protagonizada por Lula e a que Dilma dá continuidade, e a consistência de suas possibilidades, na cidade.
Só que as coisas não são tão fáceis quando se tem poder, mesmo que em bons governos. Mais uma vez, é preciso aprender a olhar sem perspectivas grotescas e obscurantistas.Tudo se passa como se o PT, no governo federal, tivesse consolidado um certo projeto pemedebista dos anos 80, e o país inteiro esteja numa grande onda “centrista”.
 O custo político desse tipo de situação pode ser alto, mas o fato de que, no Brasil, essa onda tem se dado num marco democrático, que inclui e abarca a esquerda não tem interditado, a esta, as suas possibilidades. Em todo o país os movimentos sociais estão muito mais vivos e autônomos, seguem produzindo, criticando e mobilizando. Com todas as inflexões e mudanças localizadas de orientação do governo federal, não se pode dizer que há regressão alguma ou que a esquerda esteja em situação mais difícil, hoje. 
O que a estabilidade centrista das gestões do PT produziu, no país, tem a consequência peculiar de não interditar as possibilidades da esquerda, mas de assegurar a gestação de suas agendas. Hoje, temos mais democracia e mais república, menos desigualdade e menos barbárie. O país incluiu uma França em oito anos e o PT é responsável por isso.
A candidatura Villaverde tem consistência, trajetória e presente. A sua dificuldade parece ser uma dificuldade do próprio PT, de manter-se como partido vivo, oxigenado, que não sucumba ao jogo eleitoral. É como se o partido tivesse perdido a perspectiva de tal maneira que se tenta apresentar o Villa como um despachante do governo federal. 
Uma agenda para uma prefeitura, para uma cidade que tem na democracia um valor cultivado, pode e deve falar da vida, antes e além das obras das grandes empreiteiras e daquilo que é prerrogativa principal do governo federal.
Mobilidade, urbanidade, responsabilidade ambiental, assistência social, políticas e espaços para a juventude, políticas de gênero, políticas para os animais domésticos, política para o lixo. Um horizonte muito maior e mais civilizatório que a Copa do Mundo, que os despachos de ministros, que as figuras e imagens de grandes líderes.  Nada impede o PT de fazer a campanha mais pé no chão e mais promissora de todas. Nada impede o PT de falar em disputa civilizatória. Bem ao contrário.
O centrismo triunfante neste momento produz uma ilusão que pode custar muito caro, tanto à cidade como à esquerda e ao PT.
O risco é entregar a cidade a um acordo espetacular mercantil, sem lastro e sem agenda, cujo horizonte , em termos de consistência programática, é a derrocada do PT no estado e a retomada, pela direita, do terreno recentemente perdido.
A perspectiva grotesca e obscurantista não pode obnubilar a democracia e o debate altivo sobre os destinos das forças vivas da política da cidade. 
Eleição não é uma feira de trocas de votos e de disfarces, e enxergá-la assim é renunciar à democracia.
Artigo de Katarina Peixoto, doutora em filosofia pela UFRGS, sub-editora da Agência Carta Maior, onde também é tradutora.

domingo, 27 de maio de 2012

Para que servem os partidos políticos?

Os Partidos Políticos modernos estruturam-se sob dois princípios internos: enquanto organizações voltadas essencialmente para a indicação e a ocupação de cargos no Estado e/ou como partidos ideológicos. No primeiro caso, como define Weber, seu objetivo “será simplesmente o de, através de eleições, colocar o seu dirigente no cargo de direção, para que ele possa transferir os seus seguidores, isto é, os funcionários e os propagandistas do partido para a máquina do Estado”.
Isto é muito claro, principalmente nos países onde a autoridade governamental centra-se na figura do presidente. Basta considerar a quantidade de cargos do primeiro e demais escalões da administração direta, os cargos em fundações, estatais e outras instituições vinculadas ao aparato de Estado. Pense em sua cidade: quantos cargos o prefeito os vereadores têm em mãos para distribuir entre os seguidores e os aliados de primeira e última hora – sem falar no nepotismo que grassa à esquerda e à direita.
Imagine que você é indicado para dirigir uma secretaria municipal, estadual, um ministério ou mesmo a reitoria de uma Universidade Pública. Quantos cargos de confiança você têm para distribuir?
O outro tipo de partido, o partido ideológico, como a social-democracia do século XIX e início deste século, os partidos comunistas, o partido nazista, etc., são facilmente caracterizados e identificados pela postura política-ideológica diante da realidade vigente. Em geral, são partidos que defendem um projeto político-social de longo alcance, uma alternativa ao sistema capitalista ou a defesa intransigente deste e, em certos casos, têm no horizonte a utopia de uma nova sociedade.
Contudo, não há uma separação rígida entre os dois tipos de partidos. A regra geral é que eles se complementem. O partido ideológico, ao aceitar as regras do jogo determinadas pelas instituições burguesas, como a participação em eleições e no parlamento, também objetiva ocupar cargos no aparato de Estado. Este partido mantêm uma retórica ideológica – socialista ou comunista – mas, na realidade, também disputa o butim e a possibilidade de usufruir dos recursos estatais.
Não esqueçamos os partidos ideológicos puros, isto é, os que não se submetem à atividade eleitoral-parlamentar, caracterizando-a como secundária. Historicamente isto só se mostrou possível à medida que tais partidos se mantenham eleitoralmente insignificantes. Tão logo eles conquistem postos no executivo ou no legislativo viverão o dilema apontado por Przeworski: da integração à ordem burguesa que criticam. Manterão a retórica revolucionária, é verdade. Mas, a prática mostrará o oposto: o apego aos cargos e às benesses advindas da ocupação do Estado. Os que se recusam terminantemente em disputar o jogo eleitoral vivem o paradoxo de representarem a si mesmos. Em geral, transformam-se em seitas messiânicas que autojustificam a própria existência.
Os Partidos Políticos diferenciam-se de outras organizações sociais (como os sindicatos, as associações de moradores, etc.) por um simples motivo: arrogam-se o direito de representação dos interesses universais (diferentemente das instituições que defendem interesses corporativos e/ou particularistas) e buscam deliberadamente a conquista e o exercício do poder político. Um partido político que não se coloque este objetivo é anômalo.
Exercer o poder político significa dispor dos recursos disponíveis para a direção e controle da sociedade, de acordo com os objetivos traçados e os interesses econômicos predominantes que influem e condicionam a estrutura partidária.
Além da busca e preservação do poder, os partidos caracterizam-se por se constituírem enquanto organizações cuja existência é geralmente posterior à dos seus dirigentes; pelo fato de estabelecerem uma rede de relações entre os organismos locais, regionais e nacional; e, pela constante preocupação em angariar o apoio popular, seja pela via eleitoral ou de outra forma.
Evidentemente, à maneira do Estado, os partidos precisam aparecer para a massa dos eleitores enquanto defensores dos interesses genéricos e indistintos da comunidade. Nenhum partido cometerá a loucura de afirmar-se defensor dos interesses econômicos dos banqueiros, latifundiários e grupos dominantes. Seus programas políticos defendem, genericamente, o bem comum: saúde, educação, emprego, segurança, etc.
Falam em nome do povo e dos trabalhadores. O discurso se sobrepõe à realidade, à sua história e de suas lideranças; escamoteiam até mesmo sua composição de classe social; adotam nomes que anunciam promessas que nunca serão cumpridas e as siglas escondem seus reais interesses. Em seu propósito de convencer os eleitores e conquistar a legitimidade, utilizam de todos os procedimentos e recursos: fazem planos econômicos à véspera das eleições, mudam a legislação eleitoral de forma casuística, compram o voto, pagam cabos eleitorais, gastam milhões em campanha, disputam os melhores publicitários, os mais capazes em iludir a todos através dos recursos midiáticos.
Os partidos políticos arrogam-se ainda o privilégio de serem os mais importantes, senão os únicos, portadores da ação política coletiva. Fora deles, a política parece não existir. Todos somos obrigados a canalizar nossas expectativas para a instituição partidária – principalmente em épocas eleitorais. Abdicamos da ação política direta e da possibilidade de construção de novos tipos de organizações associativas em nome da representação – concedemos nosso poder de decisão a uma organização totalmente fora do nosso controle ou, o pior, confundimos Política com política partidária.
Por outro lado, vendem-nos a ilusão de que o poder reside essencialmente no ato de votar e não nos interesses e no poder econômico subjacentes ao processo eleitoral e aos vínculos obscuros no pós-eleição. O ilusionismo das campanhas eleitorais nos induzem à aceitação das promessas mirabolantes e das realidades virtuais, ampliando-se assim o fosso entre a realidade objetiva do eleitor-indivíduo e as instituições e políticos que se propõem a representá-lo.
Felizmente, este indivíduo-eleitor tem a capacidade da apreciação e não lhe é difícil verificar que o discurso não corresponde à prática. Infelizmente, já será tarde: o candidato eleito já se entronizou em seu posto de representação, no qual reinará absoluto, pelo menos até a próxima eleição.
Desacreditados e suportados como o mal menor, os partidos e os políticos sobrevivem. Num regime democrático sua função primordial é garantir a seleção de dirigentes, a elite – ou a contra-elite – que governará os nossos destinos. Uns ou outros serão menos ou mais democráticos. Em qualquer caso, nos reservarão o papel de coadjuvantes.
A democracia, mesmo que limitada e adjetivada, favorece o desvendamento das contradições e dos antagonismos escondidos sob a retórica da ordem e do bem comum. Na democracia, os partidos e os políticos são obrigados a se exporem, a dizerem minimamente pelo e para que vieram, condição essencial para garantir o suporte popular em épocas eleitorais.
Também devemos considerar que eles desenvolvem mecanismos de dissimulação. De qualquer forma, é preferível a existência os partidos e das suas disputas – ainda que mesquinhas – à ditadura dos generais de plantão ou do partido único portador da verdade absoluta.
Referências
PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e Social-democracia. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha reordenada: crítica política do funcionalismo e da natureza dos partidos. Petrópolis, Vozes, 1993.

Do blog O SER CARLINO

terça-feira, 21 de junho de 2011

Democracia: vale quanto pesa a eleição


Um assunto que não tem cansado os midiáticos detratores do atual governo é a não extradição, para a Itália, do “terrorista” ou simplesmente “assassino” Cesare Battisti. A matéria é dada como líquida e certa: o Brasil, mais uma vez, eles dizem, incorreu em vexame internacional por culpa de uma política externa “esquerdista”.


Li, contudo, artigo na revista Piauí, que é tudo menos governista, onde é destrinchado toda a embrulhada, de forma favorável a Cesare. Em resumo, ele era um marginal, no sentido de posto à margem do sistema produtivo, sem oportunidades, filho de um comunista histórico na região do sul da Itália onde nasceu. Vivendo a custa de assaltos, foi, ainda jovem, cooptado para a ação de um grupo radical de esquerda. Suas atribuições passaram a ser, basicamente, prover fundos à organização; isto, como é de se prever, implica em “expropriações”, a exemplo do que ocorreu no Brasil. Algumas das ações tiveram vítimas; Cesare não admite culpa, mas foi responsabilizado por crimes depois que o líder de sua facção indiciou-o, em um processo de delação, devidamente premiada com a liberdade para o alcaguete. A partir daí, o enredo se dirige a todas as direções possíveis, com Cesare sendo abrigado na França (a foto que ilustra o presente texto é de um site francês a favor da libertação dele) como exilado político e, saibam todos, não extraditado mesmo com dupla solicitação judicial pelo governo italiano. Assim, antes do Brasil, a França reconheceu-o, malgrado todas as implicações de seus atos, como ator político contra a arbitrariedade do regime italiano, tido por democrático – e esta é a principal versão daqueles que o querem extraditado: Cesare teria sido um criminoso comum contra o Estado Democrático de Direito (na matéria da Piauí - cuja leitura recomendo para formação de juízo sobre a questão, ao menos para ouvir o outro lado - alguns entrevistados contestam a democracia italiana, principalmente a que corria nos anos 70, época dos atentados).

Porém... Toda a confusão em torno de Battisti se deu justamente em meio a eleições italianas. Berlusconi, em baixa, buscou uma forma de projetar seu “perfil de estadista”. Nada melhor para isso do que jogar na política internacional na “defesa do povo italiano”.

Este governo, democrático, se supõe, de Direito, se supõe, no entanto é responsável por uma ação desumana contra imigrantes, mesmo que ilegais. É o caso: pescadores tunisianos, à costa da Sicilia, resgataram 44 migrantes africanos que naufragavam com sua balsa proximamente à ilha de Lampedusa. Por terem salvo da morte esses africanos, os pescadores foram processados pelo governo, por ajudarem imigrantes ilegais. Depois disso, em outros casos análogos, os pescadores da região deixaram que se afogassem outros migrantes, e pior: para impedi-los de chegar à costa, os surravam com varas. Não é atitude de governo defensor dos direitos humanos.

Mas tem outro caso que nos afligiu diretamente: um banqueiro, Salvatore Cacciola, fraudou o mercado brasileiro, onde atuava em sua instituição, o Banco Marka. Contando com a leniência do Judiciário brasileiro, fugiu para a Itália. O governo brasileiro pediu sua extradição como criminoso foragido, mas a Itália negou por se tratar de cidadão italiano. Enquanto jogava em Mônaco, porém, Cacciola foi preso e encaminhado ao Brasil. Ele não era um criminoso político, nem de esquerda nem de direita, mas um criminoso comum de dupla nacionalidade. Deveria ter sido extraditado para o Brasil, mas a Itália negou-se a isso.

Portanto, em se tratando de matéria na verdade controversa, e considerando ainda que o regime penal brasileiro difere do italiano e, de regra, não poderia ser extraditado quem cumpriria em seu próprio país pena inexistente em outro (Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália, pena inexistente no Brasil), o caso estaria encerrado, não fosse a mídia brasileira e a exploração de um sobrevivente a um dos  atentados supostamente praticados por Battisti, agora um senhor (o sobrevivente) em cadeira de rodas. Mas este, á época do atentado, era um jovem, que foi atingido pelo próprio pai, quando este reagiu ao assalto de sua joalheria a tiros, com o que acabou sendo morto.

Finalizando, com duplos objetivos eleitorais, no Brasil e na Itália, faz-se um rumor excessivo sobre uma questão que não possui parecer unânime. Na falta da unanimidade (que, justamente, atingia Cacciola, condenado por crimes financeiros em processo bem fundamentado), a extradição constituiria uma violação dos próprios tratados de extradição entre os países. É sempre ruim perder eleições, como se vê.

Do Blog da profesora Rachel Nunes

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Articulistas de ZH não aceitam que eleição acabou

Tive um impacto ao ler logo após a morte do ditador Pinochet um artigo escrito pelo renomado cirurgião José Camargo tecendo duras críticas à parte da população chilena por ter ido às ruas comemorar a morte do ditador. Naquela ocasião, visivelmente irritado passou um “pito” nos chilenos que “não entenderam a importância de Pinochet em ter livrado o Chile de seu uma nova Cuba”. De quebra ainda lançou farpas contra os admiradores de Fidel Castro. O que me deixou estupefato foi que naquele artigo a questão das torturas e violações dos direitos humanos não foi contemplada pelo articulista. Um médico competentíssimo em transplante de pulmões teceu inúmeras considerações sobre o suposto desenvolvimento econômico na era Pinochet. Talvez, por excesso de trabalho, ou por falta de tempo para revisar seu artigo, os milhares de leitores de Zero Hora não conseguiram saber a opinião de José Camargo sobre as bárbaries praticadas no regime ditadorial chileno.

Em 31 de dezembro de 2010, o renomado cirurgião volta à cena. Ao abordar o tema importantíssimo da educação em seu artigo de ZH demonstra visivel irritação com a popularidade de Lula. “Os políticos que, mandato após mandato, ignoram esta deprimente realidade, porque muitos deles precisam dessa legião de descerebrados como massa de manobra para serem reeleitos, serão implacavelmente julgados pela História. Nenhum país fez, ou fará, a escalada rumo ao desenvolvimento verdadeiro, sem educação! E nenhum governante pode se orgulhar indefinidamente de sua popularidade se a galeria dos aplausos estava ocupada, em sua maioria, pelas vítimas desse descaso constrangedor”

Ao discorrer sobre as agruras da escola pública, comete o pecado da generalização. “A escola pública decadente, com professores desvalorizados, recebe para educar os filhos indesejados de casais pobres, que trazem para este arremedo de ensino cérebros subdesenvolvidos pela fome da infância e cuja incapacidade primária se revela na observação dramática de que mais da metade deles chega à quarta série sem saber ler nem escrever.”

Parece que “filhos indesejados” só acontecem em familias pobres. Talvez o ilustre cirurgião desconheça a relidade que acontece em muitas escolas privadas de Porto Alegre, onde os professores são ofendidos e humilhados por filhos oriundos da classe média e alta. São fatos descritos em noticias de jornal.Seriam “filhos indesejados”?

A aprovação de mais 80% da população em relação ao presidente Lula causa um desconforto em determinados articulistas e colaboradores de ZH. Paulo Brossard, Flavio Tavares, Sergio da Costa Franco, Percival Pugina… A este grupo agora junta-se o cirurgião Camargo. Não se convenceram ainda que a eleição terminou. O terceiro turno só acontecerá em 2014.

Por Lupiscinio Pires

Via RS Urgente

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Dilma Rousseff, na saúde e na doença

Não foi só a saúde da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que foi alvo da curiosidade do governo americano. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também teve detalhes do seu estado de saúde investigados pela embaixada americana em meados do ano passado, quando sofreu de câncer linfático.
Documentos publicados hoje pelo WikiLeaks também revelam que o ex-embaixador americano em Brasília, John Danilovich, relatou que ela havia planejado três assaltos quando era integrante da organização VAR-Palmares.
Dilma Rousseff nega qualquer participação em ações armadas durante o regime militar.
Ao todo, o WikiLeaks publica hoje 9 documentos que mostram como a representação americana acompanhou de perto a trajetória de Dilma e o processo eleitoral brasileiro – que, aliás, a própria Hillary Clinton classificou de “bizantino”.
Joana D´Arc
Dilma Rousseff começou a chamar a atenção da embaixada quando tomou posse como Ministra-Chefe da Casa Civil. Um relatório especial a seu respeito foi elaborado e enviado em 22 de maio de 2005. Apesar de “não classificado”, o telegrama traz uma porção de temas sensíveis e algumas gafes. Um dos títulos é, por exemplo, “Joana D’Arc da Subversão se torna Chefe da Casa Civil” – uma referência à alcunha dada pelos agentes da repressão.
O documento afirma que ela teria planejado o “legendário” roubo ao cofre do corrupto prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, no qual a VAR-Palmares obteve 2,5 milhões de dólares.
“Integrando vários grupos clandestinos, ela organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares”, diz.
Dilma sempre negou qualquer participação em ações armadas.
O documento escrito pelo embaixador John Danilovich observa que ela foi presa por mais de três anos e torturada de forma “brutal” com eletrochoques.
A seguir, entra em detalhes pessoais ao estilo de uma revista de celebridades: “Ela tem uma filha, Paula, em Porto Alegre, onde passa os fins-de-semana. Gosta de filmes e música cássica. Perdeu peso recentemente após ter adotado a dieta do presidente Lula”.
O documento diz ainda que Dilma é vista como “cabeça-dura, uma negociadora difícil e detalhista” e revela que as empresas americanas tiveram receio quando ela se tornou ministra de Minas e Energia, mas “agora admitem que ela fez um trabalho competente”.
Rumo à eleição
O assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, relatou a Washington que Dilma Rousseff aumentou muito as suas chances de ser a candidata do PT depois da sessão no Senado em 7 de maio de 2009.
Dilma foi chamada para explicar o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e acabou tendo que explicar o escândalo do vazamento de informações dos cartões de crédito do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Logo no começo, o senador do DEM José Agripino Maia perguntou como deveriam acreditar nela, já que ela havia mentido quando interrogada pelos militares.
Nas palavras de Chicola, “a performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”. Mas Jose Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta.
“Rousseff respondeu que foi brutalmente torturada pelos militares e tinha orgulho de ter mentido sob tortura porque isso salvou as vidas de outros que lutavam contra a ditadura. Com essa resposta dramática e inquestionável, Rousseff permaneceu no controle durante a maior parte da sessão”, diz o telegrama.
Câncer
Em outro relatório, enviado em 20 de julho de 2009, a diplomata Lisa Kubiske comenta o aumento de Dilma nas pesquisas apontando como consequência da sua visibilidade nas obras do PAC e da sua luta contra o câncer.
“Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, diz ela.
O estado de saúde de Dilma já havia sido tema de um extenso relatório enviado a Washington em 19 de junho, sob o título “Quão doente está Dilma Rouseff?”.
Nele, o embaixador Clifford Sobel relata as informações coletadas em conversas sobre a saúde da futura presidente, incluindo detalhes sobre o câncer linfático do qual ela sofria.
“Seus médicos afirmam que o câncer foi diagnosticado cedo e ela tem 90% de chance de se recuperar totalmente. Ela tinha nódulos linfáticos debaixo do braço esquerdo e começou um programa de um mês de quimioterapia em abril. Em maio, foi hospitalizada emergencialmente com dores nas pernas, o que foi atribuído à interrupção abrupta de medicamentos associados à quimioterapia. Os médicos dizem que ela vai reduzir esses remédios para evitar uma recaída”, diz o telegrama.
“No começo de junho ela havia completado três sessões de quimioterapia. Em uma reunião no dia 18 com um visitante de Washington, Rouseff parecia bem, com boa cor natural e pouca maquiagem, e um assessor disse ao embaixador que Rousseff estava respondendo tão bem à quimioterapia que suas sessões deveriam ser reduzidas de seis para quatro”.
No documento, Sobel especula sobre as consequências da doença da pré-candidata. Dilma poderia estar bem mais doente do que foi revelado publicamente, o que seria pouco provável. Outra possibilidade seria a doença piorar, inviabilizando sua candidatura. Finalmente, Dilma poderia reagir bem à quimioterapia e se recuperar do câncer. O embaixador via essa possibilidade como a mais provável – foi o que acabou acontecendo.
“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”.
Caso de Dilma não pudesse mais ser a candidata, Sobel faz outra uma lista de cenários possiveis.
No primeiro, o candidato do PT seria Antônio Palocci ou Gilberto Carvalho. No segundo, Aécio Neves se mudaria para o PSB ou o PV e poderia ser o candiato com apoio petista. E finalmente, Sobel reproduz especulações sobre um terceiro mandato de Lula, ouvidas em especial do deputado federal PPbista George Hilton.
“A doença de Rousseff mostrou uma vulnerabilidade do PT que não existia alguns anos atrás, quando podia indicar diversos governadores e congressistas como estrelas do partido. Essas estrelas por uma razão ou por estão apagadas e o partido adotou Dilma Rousseff, a escolhida de Lula, seu maior líder, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conclui Sobel.
Jornalistas
A embaixada acompanhou com informes regulares a contagem regressiva para a campanha eleitoral. Em outubro de 2009, a conselheira Lisa Kubiske já arriscava palpites sobre o pleito brasileiro. Um telegrama confidencial do dia 21 alertava Washington: “fiquem ligados!’
Nele, Kubiske dizia que o resultado dependeria da capacidade de Lula de transferir sua popularidade a Dilma, “ao mesmo tempo permitindo que ela se distingua como uma figura presidencial viável”.
Kubiske aponta em diversos telegramas a “falta de carisma” de Dilma.
Em fevereiro de 2010 ela conta que Dilma encostou em Serra nas pesquisas, e descreve a opinião de diversos jornalistas consultados pela representação americana.
“Os críticos mais ferrenhos de Rousseff frequentemente enfatizam que a campanha na TV e os comícios vão matar a sua candidatura”, afirma Kubiske, citando o apresentador da Globo William Waack.
Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.
“Outros críticos usam um argumento mais sutil, dizendo de maneira racional que o desejo do Brasil por continuidade depois de anos de progresso na verdade beneficia Serra, visto como mais provável a seguir o caminho econômico iniciado por Cardoso e seguido por Lula”, escreveu Kubiske.
Bizantino
Os relatórios enviados pela embaixada americana em Brasília sobre as eleições foram muito apreciados em Washingon. Em um telegrama de 23 de abril de 2009, Clinton agradece pelo informe “estelar” sobre o candidato do PSDB José Serra.
Em outro telegrama, datado de 24 de julho, Clinton explica que as informações sobre Dilma foram usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão do governo dos EUA, inclusive o secretário do Tesouro Timothy Geithner. Hillary finaliza agradecendo o assessor para assuntos políticos Dale Prince por esclarecer sobre o sistema político brasileiro, “frequentemente bizantino”. Natália Viana.


Do Blog da Dilma

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Desconstruindo o mito do mapa vermelho X azul



Pretendia começar este período pós-eleitoral fazendo uma avaliação da vitória de Dilma Rousseff, mas sou obrigado a dar minha pequena contribuição ao combate do mais recente mito que circula na internet e até entre analistas. Mito só não, um verdadeiro preconceito regional que desvirtua a análise de dados simples: refiro-me, claro, à idéia rapidamente difundida de que a vitória de Dilma teria sido garantida pelos nordestinos ou ao menos pelos nortistas somados aos nordestinos. O assunto mal esconde 3 pontos que muitas vezes se retroalimentam: 1) o preconceito puro e simples daqueles sul-sudestinos que, descontentes com o resultado eleitoral, dizem asquerosamente que “foi culpa do Nordeste”; 2) a idéia que vem surgindo desde 2006 de que vem havendo uma divisão política do Brasil em duas partes: uma porção sul mais tucana e outra porção norte mais lulo-petista e 3) a simplificação também preconceituosa de que a vitória de Dilma é coisa do Bolsa Família (ou seja, a preconceituosa frase do “Nordeste votou com o estômago”). Pois bem, vamos ver por que são absurdos?



1) O primeiro ponto é tão fácil de rebater que chega a parecer absurdo sequer ter que tratar disso: como é que a causa da vitória de Dilma estaria no Norte e Nordeste se 53% dos votos dela vieram do Sul e Sudeste? Posto de modo mais simples ainda: como se vê na tabela abaixo, se apagarmos do mapa todos os 26.077.771 eleitores do Nordeste, ainda assim Dilma ganharia as eleições. Se apagássemos todos os votos de Norte e Nordeste, também. E aliás, se apagássemos Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ela ainda assim teria vencido ontem. O Brasil ainda assim seria governado pela petista.





2) Tampouco é exatamente verdadeira a tal da divisão entre dois Brasis eleitorais de que se vem falando. Quando olhamos o mapa feito pelos portais pintando de azul os estados em que Serra ganhou e de vermelho aqueles em que a vitória foi de Dilma, como esse aqui do IG, dá mesmo a impressão de que o resultado foi a vitória do Brasil de cima contra o Brasil debaixo. Bobagem: quando se utiliza esse tipo de critério para “pintar um mapa” incorre-se em um erro básico: mesmo em um estado no qual um candidato João tivesse apenas 1 votinho a mais do que o candidato Pedro, esse estado seria pintado com as cores do candidato João. Mas seria possível dizer que o candidato Pedro, que perdesse ali por apenas um mísero voto, foi fraco nesse estado? Vejam o caso real deste segundo turno no estado de Goiás: ali, Serra teve 1 ponto percentual e meio a mais do que Dilma Rousseff. Pode-se dizer que esse estado não a referendou, não deu sustento a sua candidatura, não fez parte sua vitória? Uma forma de começar a mostrar para vocês o que quero dizer seria fazermos dois outros mapas. No primeiro, os estados onde a diferença entre Dilma e Serra foi de 5% ou menos, terão a cor cinza e não vermelha ou azul. No segundo, estarão em cinza os estados em que essa diferença foi de 10% ou menos.





Vejam que um mapa desse tipo, mais próximo do que se recomenda para esse tipo de análise, desfaz bastante das teorias regionalistas. Fica bem bem mais tênue a idéia da divisão. Houve uma batalha mais acirrada na maior parte do país. Na verdade, quando vamos aos detalhes dos dados, o que fica evidente é que Dilma foi bem em todos os estados, ficando abaixo dos 40% dos votos apenas em dois, pouco expressivos eleitoralmente: Acre e Roraima (no Norte, aliás). Enquanto Serra teve menos de 40% em dez estados. E chegou a ficar mesmo com menos de 30% e até menos de 25% em alguns. Ou seja, o ponto onde quero chegar é que os resultados dessas eleições não indicam um Brasil dividido: Dilma foi bem em todos os estados. Quem teve sua votação concentrada regionalmente foi Serra. Ele sim dependeu basicamente do Sul e de São Paulo para ter seu desempenho. A prova disso fica evidente quando olhamos a diferença de votos entre os candidatos por região e não por estado. No Sul, a diferença pró-Serra foi de 7,78 pontos percentuais. E no Centro-Oeste ele venceu por ainda menos, meros 1,84 pontos percentuais. Por outro lado, veja-se: no Sudeste, quem venceu foi Dilma, ainda que por diferença de 3,75 pontos. No Norte, a petista teve 14,86 pontos percentuais a mais e, no Nordeste, teve aí sim uma vitória acachapante: incríveis 41,16 pontos a mais do que Serra. Ou seja, repetindo: Dilma foi eleita em todo o país. Se há alguma divisão Norte-Sul é no apoio aos tucanos (em 2006 e 2010), não aos candidatos petistas.





3) Quanto à questão dos votos vindos do Bolsa Família, é claro que não se pode saber o que motivou cada voto, já que a urna não faz perguntas ;) Mas algumas pistas são suficientemente evidentes. Primeiro, o óbvio: os 56% dos votos que Dilma teve estão bem acima dos cerca de 35% de brasileiros cujas famílias recebem o benefício. E é claro, o que temos de indício para imaginar que todos esses brasileiros que recebem no Bolsa Família votaram Dilma? Nada. Pelo contrário: se a memória não me falha, pesquisas de intenção de voto ao longo desses meses indicavam que cerca de 70% dos beneficiários votavam nela, não todos. Agora vejam: 70% dos cerca de 35% de brasileiros beneficiados pelo programa é igual a 24,5%. Portanto, na melhor das hipóteses, metade dos votos de Dilma vieram de pessoas influenciadas pelo Bolsa Família. Tantos nordestinos votaram na petista porque a economia da região viveu no governo Lula uma situação de desenvolvimento inédita, crescendo a taxas chinesas e com as classes baixas tendo sua renda crescendo muito acima da renda das classes altas.


Portanto, podemos discutir muitas questões interessantes sobre os porquês da vitória de Dilma e da derrota de Serra. Mas seguramente, simplificações regionalistas não cabem. Nem aquelas derivadas de interpretações toscas dos dados, e muito menos as que derivam do mais sujo preconceito. E não custa lembrar: vitoriosos e derrotados, simpatizantes e antipatizantes, dilmistas ou serristas: preconceito tem de ser condenado a despeito de nossa coloração ou preferência. E tanto a grande imprensa quanto a internet, ao deixar de abordar abertamente o assunto para esclarecimento do público, prestam no mínimo um enorme desserviço ao país. E no máximo, uma inaceitável conivência. Nosso modo clássico de lidar com temas espinhosos não pode imperar: não falar do assunto é desleixo com meio Brasil ou conivência com a meia dúzia de preconceituosos.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Serra: vestido para vencer



Já que os discursos, as mentiras, as calúnias não estão dando certo, Serra agora achou por bem fazer o discurso mudo. Agora, vai...

Do Diário Gauche

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ato lança ofensiva pró-Dilma e denuncia: campanha sórdida e golpista pode causar ruptura política

O salão São José do Hotel Plaza San Rafael viveu um momento histórico na noite de quinta-feira. O ato de mobilização da candidatura de Dilma Rousseff (PT) reuniu mais de duas mil pessoas, contando quem conseguiu entrar no auditório e quem teve que ficar do lado de fora. Mas o tamanho do público não foi o único destaque do ato. A mesa que comandou os trabalhos mostrou uma aliança de forças políticas que há muito tempo não se via na história do Rio Grande do Sul. Lá estava, entre outros, o governador eleito do Estado, Tarso Genro (PT), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), os senadores Sérgio Zambiasi (PTB) e Paulo Paim (PT), o deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B), deputados federais e estaduais do PT, o deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB), lideranças históricas da política gaúcha como Aldo Pinto (PDT), além de dezenas de parlamentares, prefeitos, vereadores e lideranças de vários partidos, igrejas, sindicatos e outras organizações da sociedade.

Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções. A unidade política representada na mesa, reunindo tradicionais rivais políticos da história recente da política gaúcha, deixou claro qual era o cimento que a solidificava: um objetivo maior, um bem maior, a saber, o futuro do Brasil e a continuidade do atual projeto de desenvolvimento social representado pelo governo Lula. Denunciando a sordidez sem limites da campanha de baixarias, mentiras e difamações patrocinada e apoiada pela campanha de José Serra, vários oradores falaram de riscos para a democracia e lembraram a campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola em defesa do governo de João Goulart. “Eu nunca vi uma campanha tão sórdida em toda a minha vida”, desabafou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que saudou, sem esconder a emoção, seus antigos e , naquele momento, renovados, “companheiros e companheiras”.

Aldo Pinto fez um dos pronunciamentos mais veementes da noite e remexeu em feridas históricas brasileiras e nas relações conflituadas entre projetos de governo que tinha ligações fortes com o Rio Grande do Sul e as elites paulistas. “Tenho certeza que o povo gaúcho não vai escolher outra vez um paulista como governante”. Na mesma linha, o deputado federal do PMDB, Mendes Ribeiro Filho, criticou o projeto representado pelo representante da elite paulista, José Serra, conclamando uma intensa mobilização para as próximas duas semanas. Vários prefeitos do PMDB acompanharam o deputado no ato e anunciaram trabalho ininterrupto nos seus municípios nos próximos dias. Já o senador Sérgio Zambisi fez um alerta especial às mulheres: “Vocês tem uma responsabilidade especial nestas próximas duas semanas, maior que a nossa até, pois, caso Serra vença, são vocês que sofrerão mais”, disse Zambiasi.

Coube ao governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fazer a fala mais veemente da noite. O tom dramático do discurso estava baseado na percepção de que há uma grave ameaça pairando sobre a democracia brasileira. Nunca antes na história do Brasil, um candidato adotou como plataforma política uma campanha de calúnias e difamações contra sua adversária política. Uma inédita sordidez, repetiu Tarso. “Estamos assistindo a uma campanha de golpismo político e midiático semelhante ao que ocorreu antes do golpe de 64. Mas hoje a ameaça não vem dos militares. Hoje essa ameaça é talvez mais grave, pois se trata de golpismo político com apoio de uma parte importante da grande imprensa”. Uma prática, segundo ele, que pode provocar uma ruptura política no país e coloca em risco a legitimidade do processo eleitoral. A frase mais grave e significativa da noite: A campanha de baixarias da candidatura Serra pode provocar uma ruptura política no país.

Mas Tarso e os demais não apostam no caminho da ruptura, mas sim no da superação do nível sórdido da campanha por meio de uma antiga e sempre eficiente arma do PT e dos partidos e organizações populares: a força de sua militância. Nos próximos dias, milhares de ativistas, militantes e apoiadores deverão sair às ruas do Rio Grande do Sul para fazer campanha para Dilma. “A gente ganha uma eleição pedindo voto. Nós temos que ir para a rua pedir votos”, resumiu Mendes Ribeiro, bastante aplaudido. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma. Eles esgotaram seu estoque de baixarias e já estão repetitivos”, acrescentou Tarso.

Fazendo mais uma vez referência à Campanha da Legalidade, Tarso e as demais lideranças políticas presentes no ato anunciaram que o Rio Grande do Sul pretende mobilizar todo o país em defesa de Dilma, da democracia e do projeto representado pelo governo Lula. A mensagem transmitida no ato foi em tom alto e claro, sem metáforas: as elites paulistas e seus aliados terão mais uma vez à sua frente adversários que, desde Getúlio Vargas, insistem em contrapor um projeto de desenvolvimento nacional ao suposto cosmopolitismo dessa elite que só enxerga o povo pobre como um objeto a ser usado em época de eleição e o país como um balcão de seus negócios privados.

Fotos: Caco Argemi


Do RS Urgente

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O atraso quer passar por vanguarda



O quadro eleitoral do segundo turno apresenta cenários que só a literatura ficcional teria capacidade de criar. A realidade é pobre para imaginar tamanho absurdo. A direita no Brasil está isolada. O lulismo de resultados roubou-lhe todas as bandeiras, consignas, justificações, discursos e narrativas. Sobraram-lhes algumas peças rotas, desmoralizadas e arquivadas no museu de tudo do nosso esquecimento. Velhas agendas não-civilistas, extraídas do religiosismo (a religiosidade hipertrofiada) como um fim em si, foram uma a uma sendo reformadas e ostentadas como requerimento político de valor universal. O obscurantismo quer prevalecer em relação ao iluminismo. O atraso quer ser vanguarda. O passado quer abortar o futuro. O arcaico quer representar o prometido. O morto quer se traduzir como vida. O moribundo quer se encenar como salutar. O entrevado quer se anunciar como bailarino. O ovo podre acha que pode ser pinto. O decomposto quer ser tragado como água cristalina. O vampiresco quer ser vibrante colibri, pomba mensageira, profeta da Utopia.

Diário Gauche

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Biscoito Fino e a Massa: 10 vitórias das forças políticas que apoiam Dilma em 03 de outubro

vanessa.jpg Da mesma forma em que, na avaliação dos votos marinistas, não cabe tomar as calúnias e os spams pseudo-religiosos como se fossem a identidade da candidatura verde, a avaliação do campo dilmista não pode, não deve, de jeito nenhum, deixar que a decepção pela não decisão em primeiro turno nas presidenciais obscureça um fato indiscutível das eleições à Câmara e ao Senado: a esquerda teve uma grande vitória, talvez seu mais significativo triunfo na história das legislativas da República. Este é, inclusive, um potente argumento em favor de Dilma Rousseff e contra José Serra. O Congresso que acabamos de eleger se alinha esmagadoramente com Dilma; Serra não teria mais que 25% da Câmara na base da sua coalizão. Com toda aquela “paciência” e “poder de negociação” que são típicos seus, imaginem o inferno que viveríamos nas relações do Executivo com as duas casas. Os números são cabais.

1) Câmara: Há três partidos, entre os de alguma importância, que encolheram em mais de 15% na Câmara. Quem são eles? A trinca do antilulismo: o PSDB encolheu 20%, o DEM 34% e o PPS 45,5%. É um tremendo recado das urnas. PTB e PMDB também encolheram, em 13,6% e 11,2%, respectivamente. A esquerda lulista, sem exceções, cresceu: o PT volta a ser a maior bancada da Câmara, com 88 deputados e crescimento de 6%. Seus três aliados preferenciais na esquerda tiveram ótima performance. O PSB saltou de 27 para 34 (+26%), o PDT foi de 24 para 28 (+16,7%) e o PcdoB subiu de 13 para 15 (+15,4%).

O campo dilmista deve saber desses números, tê-los na ponta da língua e usá-los como potente argumento nestes 25 dias: o Congresso que elegemos está alinhado com Dilma, não com Serra. O ex-governador de São Paulo não é conhecido por sua maleabilidade e capacidade negociadora. É eleger Dilma ou tornar um inferno as relações entre o Executivo e Legislativo brasileiros.

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Senado da República

2010 foi o ano em que o PSOL elegeu o mesmo número de senadores que o DEM. O signatário deste blog acredita que as mudanças descritas abaixo, em particular, farão do Senado da República um lugar mais comprometido com a realidade da maioria do povo. Com a exceção do revés parcial em São Paulo, onde as pesquisas indicavam dobradinha lulista, mas só uma senadora do lado governista se elegeu-- e felizmente foi Marta Suplicy--, todas as outras expectativas principais e batalhas chave se resolveram a contento para a esquerda. A eleição da própria Marta, claro, conta como uma das vitórias significativas, dado o contexto e o perigo. É a primeira da minha lista para o Senado, segunda vitória importante, então, das legislativas.

3) Amazonas: Foi a mãe de todas as batalhas no terreno alegórico: o mais estridente, arrogante, histriônico, histérico e parlapatão Senador da República, Arthur “dou surra em Lula” Virgílio, foi a nocaute, obra de mulher, jovem e comunista, Vanessa Grazziotin. Este blog apostou na corrida desde o primeiro momento como seu objeto de desejo. Na época, Vanessa ainda estava dois dígitos atrás. Sempre acreditei nessa mui especial vitória, e o vídeo em que declarei apoio à Senadora Grazziotin contém minhas razões. gleisi.jpg

4) Piauí. O Brasil é um lugar mais respirável, tolerante e bonito para se viver sem a figura de Heráclito Fortes no Senado. Perguntem ao Daniel. Ainda por cima, caiu o Mão Santa também. Apostamos na corrente pra trás do Heráclito desde o começo e celebramos esse belo golpe desferido sobre o atraso coronélico. Wellington Dias, do PT, se elegeu, e o outro Senador, Ciro Nogueira (PP), é da base de apoio a Dilma.

5) Ceará. Seria chamado de louco quem dissesse, há uma década, que Tasso Jereissati se candidataria ao Senado, num ano em que há duas vagas em disputa, e não conseguiria se reeleger. As vitórias de Eunício e Pimentel na corrida ao Senado são, talvez, o golpe mais violento sofrido pelo PSDB nestas eleições, junto com o sacode-Iaiá comunista do Amazonas. Talvez não seja ruim para o partido, inclusive, na medida em que pode favorecer o surgimento de lideranças mais propositivas do que Tasso tem sido.

6) Bahia. Duas vagas para o Senado em disputa na Bahia, e o carlismo não levou nenhuma. Esse fato, por si só, também teria sido impensável até pouco tempo atrás. Ocorreu uma baita renovação, com as eleições de Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB). Ambas, especialmente ela, já são figuras históricas na cidade de Salvador. Em contraste com a redução (pequena, mas real) da bancada feminina na Câmara, Lídice é parte de uma significativa vitória das mulheres de esquerda nestas eleições para o Senado, e foi parte de um barba-cabelo-bigode na Bahia, que incluiu a reeleição do governador Jaques Wagner em primeiro turno.

paulo%20paim%201.jpg 7) Paraná. Também aqui o lulismo levou ambas as vagas, e a renovação inclui outra mulher de esquerda: Gleisi Hoffman foi uma grande aposta para o Senado em chapa com Roberto Requião. Ela terminou em primeiro, cheia de moral, e Requião se elegeu em segundo. Hoffman faz do Senado um lugar mais inteligente e receptivo à sociedade. Requião, além de trazer sua perspectiva nacionalista, com certeza não contribuirá para tornar o Senado um lugar mais monótono.

8) Rio Grande do Sul: Um líder histórico dos trabalhadores, Paulo Paim, enfrentou o que parecia, ao princípio, uma briga de foice com três cabeças, mas chegou em primeiro lugar com folga, também cheio de moral. O Senado brasileiro continua tendo um líder negro, continua contando a dignidade de Paulo Paim. Para completar a dobrada, Tarso Genro se elegeu governador no primeiro turno. Os petistas guascas de novo mostraram como se faz a coisa bem feita. O PMDB gaúcho, como o pernambucano, escolheu o antilulismo e sofreu pesada derrota, perdendo a vaga no Senado e não disputando sequer segundo turno contra o PT na briga pelo Piratini.

9) Pernambuco: Pela primeira vez em quarenta anos, Marco Maciel perdeu uma eleição. Desde a época de Telê Santana no comando da seleção, Brasília não terá o esguio líder do DEM como Ministro, Vice-Presidente ou Senador. Em reconhecimento à sua elegância, o blog não tripudiará. Mas considero, sim, a queda de Maciel uma grande vitória para a esquerda e para a democracia em geral. Elegeu-se a dobradinha lulista: Humberto Costa, do PT, redimiu-se de injustiças sofridas com acusações pouco fundamentadas (por denunciar um esquema de faturamento de ambulâncias que ocorreu sob José Serra, em governo tucano) e Armando Monteiro, do PTB, ligado à indústria, e que traz uma visão mais arejada que Maciel. Obrigado pelos serviços prestados, Senador. Mas já era hora. Raul Jungmann, do PPS, passou longe, muito longe de competir por uma vaga.

10) Rio de Janeiro: Elegeu-se Senador um jovem petista, Lindberg Farias, e César Maia ficou fora. Não se conta Crivella como parte de uma bancada de "esquerda", mas ele foi um Senador fiel a Lula, é bem avaliado pelo Transparência Brasil e teve boa atuação legislativa, sem nada que o desabonasse. É uma enorme vitória da esquerda bater César Maia de forma tão categórica, relegando-o a um quarto lugar e negando-lhe qualquer possibilidade de protagonismo como liderança nacional.

São maiúsculas vitórias que devem ser mencionadas, estudadas e trazidas à baila nestes 25 dias de campanha de Dilma Rousseff.

PS: Em especial, saudamos as eleições de Dr. Rosinha, Alessandro Molon e Jô Moraes, endossados pelo blog, respectivamente, em eleições para a Câmara no Paraná, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, assim como a eleição de Raul Pont, também endossado aqui, para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

PS 2: Basta aparecer uma pessoa que sabe fazer algumas continhas básicas e morre um meme do jornalismo brasileiro.


Do blog O Biscoito fino e a Massa

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Geografia do voto

Desempenho dos candidatos nas eleições 2010, município por município. Compare com os mapas de 2006. Passe o mouse para ver os detalhes.
By: Estadão

O mapa da eleição presidencial mostra que a petista Dilma Rousseff teve desempenho melhor nas cidades pequenas e médias. Marina Silva (PV) colheu os resultados mais favoráveis em grandes colégios eleitorais, enquanto Serra teve votação mais homogênea nos municípios de diferentes tamanhos.
Das 126 cidades onde foram contabilizados mais de 100 mil votos válidos saíram 63% dos eleitores da candidata do PV. No caso de Serra, 44% de seus votos são oriundos desses grandes municípios, e 39% no caso de Dilma.
Isso significa que a batalha pela conquista do eleitorado de Marina no segundo turno será travada, principalmente, nas grandes cidades do País.
Dilma ganhou em 78 das 126 maiores cidades (62%, porcentual inferior à média do total de cidades onde a candidata ficou à frente). Serra venceu em outras 44 e Marina, em 4.
De 3.529 municípios com menos de 10 mil votos válidos para presidente, Dilma extraiu 20% de sua votação, contra 16% de Serra e 8% de Marina. Essas cidades representam 17% dos votos válidos, na média. Dilma foi a mais votada em 77% deles (acima de sua média).
Já dos 1.508 municípios com entre 10 mil e 100 mil votos válidos (responsáveis por 38% dos votos válidos para presidente), Dilma e Serra extraíram praticamente o mesmo porcentual de suas respectivas votações: 41% e 40%, respectivamente, contra 29% de Marina. Dilma venceu em 69% dessas cidades médias.
As contas foram feitas pelo Estado quando havia dados disponíveis sobre a votação em 5.164 dos 5.565 municípios do Brasil (93% do total).
Avanço do PT. A comparação do mapa atual com o da eleição de 2006 mostra que Dilma venceu em mais municípios que Luiz Inácio Lula da Silva quando disputou a reeleição. Na época, no primeiro turno, o petista ficou à frente de seu adversário do PSDB, Geraldo Alckmin, em 3.103 cidades, o equivalente a cerca de 56% do total.
A candidata do PT ganhou em pelo menos 3.833 (74% das cidades com votos contados). O número aumentará quando forem levados em conta os 7% de municípios para os quais o Tribunal Superior Eleitoral não havia divulgado dados no momento da tabulação feita pelo Estado.
Serra, por sua vez, não atingirá o placar obtido por Alckmin em 2006 – vitória em 2.462 cidades. Neste ano, o candidato tucano superou os adversários em 1.318 municípios (25,5% do total analisado).
A terceira colocada na eleição presidencial de 2006, Heloísa Helena (PSOL), não conseguiu vencer Lula e Alckmin em nenhum dos municípios brasileiros. A terceira força de 2010, Marina Silva, ganhou em pelo menos dez cidades, entre elas duas capitais de Estados (Belo Horizonte, em Minas Gerais, e Vitória, no Espírito Santo), além da capital federal, Brasília.
Outra vitórias da candidata do PV ocorreram em municípios grandes como Vila Velha (ES) – que tem mais eleitores que Vitória -, Nova Lima (MG), Sabará (MG) e Niterói (RJ).
Votação proporcional. Os mapas do desempenho dos candidatos, publicados nesta página, mostram que Marina teve votação acima da média em cidades próximas da capital mineira e em quase todo o Rio de Janeiro. No Estado, além de Niterói, ela venceu em Volta Redonda e em cidades da chamada Região dos Lagos e arredores – Cabo Frio, Araruama, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras e São Pedro da Aldeia.
O mapa de Marina também mostra concentração de votos em algumas áreas da Região Norte, embora ela não tenha vencido em nenhuma cidade lá – em Rio Branco (AC), sua base eleitoral, ficou atrás de Serra.
A votação de Dilma ficou acima de sua média nacional nas Regiões Norte e Nordeste, além do norte de Minas Gerais, do sul do Tocantins e de uma pequena área no centro do Rio Grande do Sul.
Em quase todo o Nordeste, Dilma obteve mais de 65% dos votos válidos. Em diversas cidades de Pernambuco, Ceará, Bahia, Alagoas, Piauí, Paraíba e Maranhão ela chegou a 80% de votos válidos. Em Catumbi (PE), alcançou quase 95%.
Serra, por sua vez, teve votação acima de 65% dos válidos em áreas pequenas e descontínuas do mapa eleitoral, no Pará, em Mato Grosso e em São Paulo. A cidade em que recebeu a melhor votação proporcional foi Marcelândia (75%).
Capitais. Das 26 capitais de Estados, Dilma venceu em 13, Serra em 11 e Marina em duas.
A candidata do PT triunfou em todas as capitais do Nordeste, com exceção de Aracaju (SE) e Maceió (AL), onde Serra ficou à frente.
O candidato do PSDB venceu nas três capitais da Região Sul – Porto Alegre (RS), Florianópolis (SC) e Curitiba (PR). No Norte, ele ganhou em Boa Vista e em Rio Branco.
Em São Paulo, maior cidade do País, teve vantagem de apenas dois pontos porcentuais (40,3% contra 38,1% contra Dilma).
Marina, além de vencer em Belo Horizonte e Vitória, conseguiu chegar à segunda colocação em capitais como Palmas (TO), Salvador (BA), Florianópolis, Recife (PE), Fortaleza (CE) e João Pessoa (PB).
José Roberto de Toledo

O que dizem os votos de Marina e como conquistá-los

Você pode discutir qual é o peso relativo dos três (não dois) grandes blocos de votos que contribuíram para os surpreendentes 20% de Marina Silva: 1) o voto estritamente marinista, verde, ecológico, que é crítico de algo maior que o PT, ou seja, de todo um paradigma desenvolvimentista que, ironia das ironias, o PT veio a representar melhor que ninguém; 2) o voto "ético"-jovem-universitário-profissional-liberal-urbano, uma parte dele (a maior, me parece) composta por desiludidos com erros ou presepadas do PT, e a outra parte (menor, me parece) composta por eleitores movidos pelo episódio Erenice; 3) o voto evangélico que, por sua vez, tampouco é homogêneo, posto que formado de uma parcela—menor, creio—de votantes que já estavam com Marina e outra parcela—maior, creio—que foi mobilizada em termos anti-Dilma às vésperas da eleição. Num debate que teria, de preferência, que se realizar com atenção aos mapas relevantes, poder-se-ia discutir à exaustão qual é a contribuição de cada um desses segmentos para o resultado final.

O que me parece indiscutível é que somente este último, o voto evangélico, chega como irrupção e acontecimento. Foi ele o grosso do voto não computado nas pesquisas. Isso me parece verdadeiro, mas não se pode pular daí para a afirmação de que foi o atraso quem impediu a vitória dilmista no primeiro turno. Essa linha de análise é sempre muito rasa.

Para a campanha de Dilma, a tarefa é dupla. Por um lado, há que se entender os recados dados por todos os segmentos que votaram em Marina, para que a partir daí ocorra a negociação e o convencimento desse eleitorado. Esses recados têm densidade, têm conteúdo, aludem a fatos reais e não se limitam, de forma nenhuma, a uma suposta “Marina no colo da direita”. Jogar por aí é não entender o jogo. Por outro lado, há que se analisar quais foram os erros de campanha de Dilma que ajudaram a impedir a esperada vitória no primeiro turno. Fazer as duas coisas já não é fácil. Fazê-las simultaneamente é mais difícil ainda, pois a primeira—ouvir realmente os eleitores de Marina—exige humildade, proximidade e empatia. A segunda tarefa—fazer a autocrítica da campanha—exige inteligência, desprendimento, distância. São duas tarefas aparentemente contraditórias, que demandam posturas e capacidades opostas, mas elas são simultâneas e complementares.

O fascinante do resultado de domingo é que todo mundo errou. Se alguém aí previu que Marina venceria em Belo Horizonte, Maceió, Distrito Federal, Nova Lima, Volta Redonda, Vitória, Vila Velha e Niterói, além de praticamente empatar com Dilma em Natal e superá-la em Campina Grande, levante a mão, mostre um link com data anterior a 03 de outubro, que eu visto uma camisa do Flamengo ou do Cruzeiro aqui, a gosto do freguês. Todo mundo errou nas previsões, inclusive o vitorioso de domingo na eleição presidencial, que foi claramente o campo marinista. Por isso o futebol, na sua imponderabilidade, é o esporte que mais tem a ver com a política democrática. Sim, trata-se do velho clichê da caixinha de surpresas, mas também do dado menos óbvio de que o futebol é o menos contábil dos esportes, e se há uma mensagem relevante que a campanha de Marina tentou transmitir é a crítica à redução do mundo a uma lógica contábil. Quando gente como Ricardo Paes de Barros, José Miguel Wisnik, Alexandre Nodari e Eduardo Viveiros de Castro coincidem numa candidatura que não é a sua, ou que não é a que você esperava que eles apoiassem, só um sectário muito desprovido de sensibilidade passaria à desqualificação sem uma escuta detida.

No campo dos erros, há que se destacar os estruturais, mais antigos, e os conjunturais, que se manifestaram de uma forma especialmente maluca nesta campanha. Os erros estruturais são parte do recado das urnas marinistas e não podem ser ignorados. O caso de Belo Horizonte é emblemático. Há exatos dois anos, o PT concluía 16 anos de governo de uma coalizão sua na cidade, com um prefeito que deixava o cargo com noventa por cento de aprovação. Esse prefeito, Fernando Pimentel, é diretamente associado a Dilma e é parte da cúpula de sua campanha. A cidade não tem qualquer tradição de antipetismo raivoso como aquele encontrado em partes de São Paulo e Porto Alegre. Como é possível que o resultado aqui tenha sido Marina Silva 39,9%, Dilma Rousseff 30,9% e José Serra 27,7%, num contexto de grande vitória da esquerda nas legislativas?

Essa parte me parece relativamente simples. As urnas disseram: “não gostamos das lambanças do PT-BH nas eleições de 2008 e do PT-MG em 2010, apesar de o PT ter governado bem a cidade. Votaremos em alguém que é suficientemente próxima aos ideais da bem sucedida prefeitura de 1992-2008, mas que se afastou do campo petista, em parte, por lambanças como essa”. Junte-se a esse recado mais estrutural a avalanche de desinformação e propaganda pra cima dos evangélicos nos últimos dias--essa avalanche realmente existiu—e você tem os ingredientes dos números que deixaram todos os junkies políticos belo-horizontinos de queixo caído. Os mesmos ingredientes se combinam em outras latitudes, como o Acre, um estado onde o PT tem fortíssimas raízes, elegeu o Governador e um Senador, mas no qual Dilma ficou empatada com Marina e bem longe de Serra. Se você é petista e não vê aí um recado além do “Marina está no colo da direita” ou do “Marina é a falência do movimento ecológico” (sim, isso foi escrito), sinto muito, você precisa ler a Flávia Cera.

É sabido que, por volta de dois meses atrás, um grupo de lideranças evangélicas procurou a campanha de Dilma, preocupadas com a disseminação de boatos e emails falsos. A campanha fez a “Carta ao Povo de Deus” e ficou por isso mesmo. Os programas de João Santana—excelentes, belíssimos, inovadores—não dedicaram um só minuto, no entanto, à refutação da pilha de spam religioso anti-Dilma disseminada para púlpitos e fiéis. A coordenação de internet não ofereceu respostas a isso. Preferiu brincar de Twitter e #ondavermelha. A campanha online foi feita à base do cada um por si, sem que se aproveitasse de forma coordenada a enorme base de recursos humanos da esquerda brasileira na rede.

Quando os evangélicos voltaram a procurar a campanha de Dilma, em setembro, o nível da loucura havia piorado sensivelmente. Algumas lideranças religiosas gravaram depoimentos de apoio à candidata petista, mas não houve uma resposta sólida e consistente da campanha. Os marqueteiros não são lá grandes fãs do potencial da rede e, por sua vez, a coordenação de internet de Dilma era pobre e fraca de ideias. É importante reconhecer isso sem que esse reconhecimento nos ensurdeça para o recado real das urnas marinistas, que transcende em muito o spam do ódio.

É evidente que temos que explicar que Michel Temer não é satanista. Aliás, podemos inclusive esclarecer que ele já fez pactos com o DEM mas, pelo que nos consta, com Satã nunca aconteceu. Mas é preciso fazer isso sem desmerecer ou desqualificar o recado dado pelas urnas marinistas em sua totalidade, sem reduzir o voto de Marina a qualquer um de seus blocos, muito menos o evangélico, justamente aquele que é mais conjuntural (apesar que não necessariamente menos numeroso) na constituição da identidade da sua candidatura.

Não há motivo para pânico. Marina tem muito mais a ver com Dilma que com Serra, e isso é o próprio Serra quem diz. Para nós, faltam 3 pontinhos. Para Serra, faltam quase 18. Marina sabe que coloca seu capital político em maus lençóis se apoiar alguém como Serra. Também sabe que não lhe interessa entregar nada de graça a Dilma agora, e há que se entender isso. É da política. Um petista reclamando que Marina não está agindo de forma a facilitar as coisas pra nós é como um lateral queixando-se de que um ponta o engana, fingindo que vai abrir o jogo para depois cortar para o meio. Ora, você tem que aprender a marcar. O jogo é jogado.

Ainda estamos bem, mas é preciso jogar com inteligência, humildade e decência e, acima de tudo, não deixar que nenhuma dessas qualidades atrapalhe as outras duas.


Do blog O Biscoito Fino e a Massa

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Óia – Novas denúncias contra Dilma sacodem o país

A Óia desta semana está imperdível, prometendo uma verdadeira BOMBA VIRA-ELEIÇÃO. Veja as estarrecedoras manchetes!

Clique na imagem para ver melhor

Do Milton Ribeiro

domingo, 12 de setembro de 2010

FALTAM TRÊS SEMANAS

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Editorial da Carta Maior
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Serra já tentou todas as máscaras; de neo-lulista a sucessor de Alvaro Uribe no comando da direita latino-americana. Fez-se passar por vítima e depois caluniou com sofreguidão. Não parou de cair nas pesquisas mas, sobretudo, algo que os isentos comentaristas fingem não ver, a forma arestosa como faz política, encharcada de falsidade quase colegial, inspira cada vez mais repulsa, mesmo entre seus pares. Serra tem 32% de rejeição, contra 27% de apoio nos levantamentos do complacente instituto de pesquisas da família Frias, cuja aderência à campanha demotucana não é mais objeto de discussão. Serra vai receber a extrema-unção política dia 3 de outubro ou em seguida, no 2º turno. O conservadorismo nativo sabe que ele é um fósforo queimado. Jamais será cogitado novamente como um líder aglutinador. A exemplo de certos colunistas e veículos, porta-vozes da direita e da extrema-direita nativa, Serra sabe que perdeu o bonde da história e quer vingança. Eles já teriam disparado a bala de prata se ela existisse. Não conseguiram uma. Resta-lhes o método da saturação. Expelir diariamente acusações, calúnias, falsas denúncias, insinuações, preconceitos, mentiras. Requentar velhos temas, criar uma nuvem de ilações descabidas. Recriar, enfim, o artifício udenista de um mar de lama em torno do governo, do PT, de Lula e Dilma na esperança de que, ao menos, sua derrota seja também uma derrota da democracia. Quem sabe capaz de reproduzir no país uma classe média de vocação golpista, a exemplo do que a direita conseguiu na Venezuela. Serra, os petizes da Veja, os aliados espalhados na mídia demotucana em geral, não têm o talento de um Carlos Lacerda. Nem a coragem dos golpistas que íam às ruas apregoar abertamente a derrubada de governos. O que eles possuem de mais perigoso no momento é a consciência de que não têm mais nada a perder. Derrotados, pior que isso, desmoralizados como incompetentes entre seus próprios pares, atingiram aquele ponto em que são capazes de qualquer coisa. Faltam três semanas para as eleições. A barragem de fogo vai se intensificar. Contra o jogral da mídia pró-Serra, o Presidente Lula terá que usar todo o peso de sua liderança popular para consumar a vitória das forças democráticas contra uma direita disposta a se transformar em carniça para incomodar até depois de morta.

Via Cloaca News

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pesquisas polêmicas

Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão/dia? Que crescesse 9 pontos numa semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?

Marcos Coimbra (*)

Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.

Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elas atrapalham o raciocínio. É melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las.

Ao contrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem se baseia nelas, embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os pés pelas mãos.

Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos de mercado, dá para imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa se baseia em uma pesquisa discutível na hora de fazer um investimento, o custo em que incorre?

Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais nas eleições, onde o tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros a que elas conduzem.

Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseada em pesquisas de qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse o candidato, por melhores que fossem suas propostas, uma candidatura mal posicionada não iria a lugar nenhum. Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.

E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essas pesquisas são danosas. Ao endossá-las, os veículos ficam em posição delicada.

Neste fim de semana, a Folha de São Paulo divulgou a pesquisa mais recente do Datafolha. Os problemas começaram na manchete, que se utilizava de uma expressão que os bons jornais aposentaram faz tempo: “Dilma dispara…”. “Dispara..”, “afunda…” são exemplos do que não se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas, sensacionalistas.

Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeira página. O que dizer de um resultado como aquele, senão que mostraria uma “disparada”? Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que crescesse nove pontos em uma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?

O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilma cresceu esses nove pontos pelo “efeito televisão”. Três dias de propaganda eleitoral (nos quais a campanha Dilma teve dois programas e cinco inserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse impacto, por tudo que conhecemos da história política brasileira. Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial de crescimento entre quem não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: a explicação fornecida pelo jornal não explica a “disparada” e ele não sabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa para o instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.

É impossível explicar a “disparada” pela simples razão que ela não aconteceu. Dilma só deu saltos espetaculares para quem não tinha conseguido perceber que sua candidatura já havia crescido. Ela já estava bem na frente antes de começar a televisão.

Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejam explicações inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizar preconceitos e estereótipos sobre o país que somos e o eleitorado que temos.

Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere uma volubilidade dos eleitores que só existe para quem acha que 12,5 milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão, ao vê-la alguns minutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opção depois de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que se deve respeitar. Que supõe que elas não sabiam o que fazer até aqueles dias e foram tocadas por uma varinha de condão.

Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurar legitimá-las, a emenda fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir que fossem apenas ruins.

(*) Artigo publicado originalmente no Correio Braziliense

Via RS Urgente