O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. Bertolt Brecht
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Manuela se acha predestinada ao cargo, Fortunati faz uma gestão medíocre
domingo, 27 de maio de 2012
Para que servem os partidos políticos?

Referências
PRZEWORSKI, Adam. Capitalismo e Social-democracia. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.
WEBER, Max. Parlamento e governo na Alemanha reordenada: crítica política do funcionalismo e da natureza dos partidos. Petrópolis, Vozes, 1993.
Do blog O SER CARLINO
terça-feira, 21 de junho de 2011
Democracia: vale quanto pesa a eleição
Do Blog da profesora Rachel Nunes
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
Articulistas de ZH não aceitam que eleição acabou

Tive um impacto ao ler logo após a morte do ditador Pinochet um artigo escrito pelo renomado cirurgião José Camargo tecendo duras críticas à parte da população chilena por ter ido às ruas comemorar a morte do ditador. Naquela ocasião, visivelmente irritado passou um “pito” nos chilenos que “não entenderam a importância de Pinochet em ter livrado o Chile de seu uma nova Cuba”. De quebra ainda lançou farpas contra os admiradores de Fidel Castro. O que me deixou estupefato foi que naquele artigo a questão das torturas e violações dos direitos humanos não foi contemplada pelo articulista. Um médico competentíssimo em transplante de pulmões teceu inúmeras considerações sobre o suposto desenvolvimento econômico na era Pinochet. Talvez, por excesso de trabalho, ou por falta de tempo para revisar seu artigo, os milhares de leitores de Zero Hora não conseguiram saber a opinião de José Camargo sobre as bárbaries praticadas no regime ditadorial chileno.
Em 31 de dezembro de 2010, o renomado cirurgião volta à cena. Ao abordar o tema importantíssimo da educação em seu artigo de ZH demonstra visivel irritação com a popularidade de Lula. “Os políticos que, mandato após mandato, ignoram esta deprimente realidade, porque muitos deles precisam dessa legião de descerebrados como massa de manobra para serem reeleitos, serão implacavelmente julgados pela História. Nenhum país fez, ou fará, a escalada rumo ao desenvolvimento verdadeiro, sem educação! E nenhum governante pode se orgulhar indefinidamente de sua popularidade se a galeria dos aplausos estava ocupada, em sua maioria, pelas vítimas desse descaso constrangedor”
Ao discorrer sobre as agruras da escola pública, comete o pecado da generalização. “A escola pública decadente, com professores desvalorizados, recebe para educar os filhos indesejados de casais pobres, que trazem para este arremedo de ensino cérebros subdesenvolvidos pela fome da infância e cuja incapacidade primária se revela na observação dramática de que mais da metade deles chega à quarta série sem saber ler nem escrever.”
Parece que “filhos indesejados” só acontecem em familias pobres. Talvez o ilustre cirurgião desconheça a relidade que acontece em muitas escolas privadas de Porto Alegre, onde os professores são ofendidos e humilhados por filhos oriundos da classe média e alta. São fatos descritos em noticias de jornal.Seriam “filhos indesejados”?
A aprovação de mais 80% da população em relação ao presidente Lula causa um desconforto em determinados articulistas e colaboradores de ZH. Paulo Brossard, Flavio Tavares, Sergio da Costa Franco, Percival Pugina… A este grupo agora junta-se o cirurgião Camargo. Não se convenceram ainda que a eleição terminou. O terceiro turno só acontecerá em 2014.
Por Lupiscinio Pires
Via RS Urgente
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Dilma Rousseff, na saúde e na doença
Não foi só a saúde da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que foi alvo da curiosidade do governo americano. A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, também teve detalhes do seu estado de saúde investigados pela embaixada americana em meados do ano passado, quando sofreu de câncer linfático.
Documentos publicados hoje pelo WikiLeaks também revelam que o ex-embaixador americano em Brasília, John Danilovich, relatou que ela havia planejado três assaltos quando era integrante da organização VAR-Palmares.
Dilma Rousseff nega qualquer participação em ações armadas durante o regime militar.
Ao todo, o WikiLeaks publica hoje 9 documentos que mostram como a representação americana acompanhou de perto a trajetória de Dilma e o processo eleitoral brasileiro – que, aliás, a própria Hillary Clinton classificou de “bizantino”.
Joana D´Arc
Dilma Rousseff começou a chamar a atenção da embaixada quando tomou posse como Ministra-Chefe da Casa Civil. Um relatório especial a seu respeito foi elaborado e enviado em 22 de maio de 2005. Apesar de “não classificado”, o telegrama traz uma porção de temas sensíveis e algumas gafes. Um dos títulos é, por exemplo, “Joana D’Arc da Subversão se torna Chefe da Casa Civil” – uma referência à alcunha dada pelos agentes da repressão.
O documento afirma que ela teria planejado o “legendário” roubo ao cofre do corrupto prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, no qual a VAR-Palmares obteve 2,5 milhões de dólares.
“Integrando vários grupos clandestinos, ela organizou três assaltos a banco e depois co-fundou o grupo guerrilheiro Vanguarda de Palmares”, diz.
Dilma sempre negou qualquer participação em ações armadas.
O documento escrito pelo embaixador John Danilovich observa que ela foi presa por mais de três anos e torturada de forma “brutal” com eletrochoques.
A seguir, entra em detalhes pessoais ao estilo de uma revista de celebridades: “Ela tem uma filha, Paula, em Porto Alegre, onde passa os fins-de-semana. Gosta de filmes e música cássica. Perdeu peso recentemente após ter adotado a dieta do presidente Lula”.
O documento diz ainda que Dilma é vista como “cabeça-dura, uma negociadora difícil e detalhista” e revela que as empresas americanas tiveram receio quando ela se tornou ministra de Minas e Energia, mas “agora admitem que ela fez um trabalho competente”.
Rumo à eleição
O assessor da embaixada em Brasília, Phillip Chicola, relatou a Washington que Dilma Rousseff aumentou muito as suas chances de ser a candidata do PT depois da sessão no Senado em 7 de maio de 2009.
Dilma foi chamada para explicar o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e acabou tendo que explicar o escândalo do vazamento de informações dos cartões de crédito do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Logo no começo, o senador do DEM José Agripino Maia perguntou como deveriam acreditar nela, já que ela havia mentido quando interrogada pelos militares.
Nas palavras de Chicola, “a performance de Rousseff perante o comitê poderia ter prejudicado ou afundado suas chances presidenciais, se tivesse ido mal”. Mas Jose Agripino Maia “mancou feio” ao fazer a pergunta.
“Rousseff respondeu que foi brutalmente torturada pelos militares e tinha orgulho de ter mentido sob tortura porque isso salvou as vidas de outros que lutavam contra a ditadura. Com essa resposta dramática e inquestionável, Rousseff permaneceu no controle durante a maior parte da sessão”, diz o telegrama.
Câncer
Em outro relatório, enviado em 20 de julho de 2009, a diplomata Lisa Kubiske comenta o aumento de Dilma nas pesquisas apontando como consequência da sua visibilidade nas obras do PAC e da sua luta contra o câncer.
“Enquanto Rousseff continuar parecendo uma lutadora que venceu o câncer, suas chances presidenciais vão aumentar”, diz ela.
O estado de saúde de Dilma já havia sido tema de um extenso relatório enviado a Washington em 19 de junho, sob o título “Quão doente está Dilma Rouseff?”.
Nele, o embaixador Clifford Sobel relata as informações coletadas em conversas sobre a saúde da futura presidente, incluindo detalhes sobre o câncer linfático do qual ela sofria.
“Seus médicos afirmam que o câncer foi diagnosticado cedo e ela tem 90% de chance de se recuperar totalmente. Ela tinha nódulos linfáticos debaixo do braço esquerdo e começou um programa de um mês de quimioterapia em abril. Em maio, foi hospitalizada emergencialmente com dores nas pernas, o que foi atribuído à interrupção abrupta de medicamentos associados à quimioterapia. Os médicos dizem que ela vai reduzir esses remédios para evitar uma recaída”, diz o telegrama.
“No começo de junho ela havia completado três sessões de quimioterapia. Em uma reunião no dia 18 com um visitante de Washington, Rouseff parecia bem, com boa cor natural e pouca maquiagem, e um assessor disse ao embaixador que Rousseff estava respondendo tão bem à quimioterapia que suas sessões deveriam ser reduzidas de seis para quatro”.
No documento, Sobel especula sobre as consequências da doença da pré-candidata. Dilma poderia estar bem mais doente do que foi revelado publicamente, o que seria pouco provável. Outra possibilidade seria a doença piorar, inviabilizando sua candidatura. Finalmente, Dilma poderia reagir bem à quimioterapia e se recuperar do câncer. O embaixador via essa possibilidade como a mais provável – foi o que acabou acontecendo.
“Alguns analistas notaram que uma ‘vitória’ sobre o câncer jogará a seu favor e impulsionará a imagem de uma lutadora e vencedora. Mas se ela parecer fraca e derrotada, os eleitores vão minguar”.
Caso de Dilma não pudesse mais ser a candidata, Sobel faz outra uma lista de cenários possiveis.
No primeiro, o candidato do PT seria Antônio Palocci ou Gilberto Carvalho. No segundo, Aécio Neves se mudaria para o PSB ou o PV e poderia ser o candiato com apoio petista. E finalmente, Sobel reproduz especulações sobre um terceiro mandato de Lula, ouvidas em especial do deputado federal PPbista George Hilton.
“A doença de Rousseff mostrou uma vulnerabilidade do PT que não existia alguns anos atrás, quando podia indicar diversos governadores e congressistas como estrelas do partido. Essas estrelas por uma razão ou por estão apagadas e o partido adotou Dilma Rousseff, a escolhida de Lula, seu maior líder, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, conclui Sobel.
Jornalistas
A embaixada acompanhou com informes regulares a contagem regressiva para a campanha eleitoral. Em outubro de 2009, a conselheira Lisa Kubiske já arriscava palpites sobre o pleito brasileiro. Um telegrama confidencial do dia 21 alertava Washington: “fiquem ligados!’
Nele, Kubiske dizia que o resultado dependeria da capacidade de Lula de transferir sua popularidade a Dilma, “ao mesmo tempo permitindo que ela se distingua como uma figura presidencial viável”.
Kubiske aponta em diversos telegramas a “falta de carisma” de Dilma.
Em fevereiro de 2010 ela conta que Dilma encostou em Serra nas pesquisas, e descreve a opinião de diversos jornalistas consultados pela representação americana.
“Os críticos mais ferrenhos de Rousseff frequentemente enfatizam que a campanha na TV e os comícios vão matar a sua candidatura”, afirma Kubiske, citando o apresentador da Globo William Waack.
Waak teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.
“Outros críticos usam um argumento mais sutil, dizendo de maneira racional que o desejo do Brasil por continuidade depois de anos de progresso na verdade beneficia Serra, visto como mais provável a seguir o caminho econômico iniciado por Cardoso e seguido por Lula”, escreveu Kubiske.
Bizantino
Os relatórios enviados pela embaixada americana em Brasília sobre as eleições foram muito apreciados em Washingon. Em um telegrama de 23 de abril de 2009, Clinton agradece pelo informe “estelar” sobre o candidato do PSDB José Serra.
Em outro telegrama, datado de 24 de julho, Clinton explica que as informações sobre Dilma foram usadas em reuniões de “briefing” com o alto escalão do governo dos EUA, inclusive o secretário do Tesouro Timothy Geithner. Hillary finaliza agradecendo o assessor para assuntos políticos Dale Prince por esclarecer sobre o sistema político brasileiro, “frequentemente bizantino”. Natália Viana.
Do Blog da Dilma
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Desconstruindo o mito do mapa vermelho X azul
Excelente análise do Fabricio Vasselai em seu blog Politicando
Dilma não dependeu do Norte e Nordeste, nem do Bolsa Família e não houve Norte x Sul
Dilma não dependeu do Norte e Nordeste, nem do Bolsa Família e não houve Norte x Sul
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1) O primeiro ponto é tão fácil de rebater que chega a parecer absurdo sequer ter que tratar disso: como é que a causa da vitória de Dilma estaria no Norte e Nordeste se 53% dos votos dela vieram do Sul e Sudeste? Posto de modo mais simples ainda: como se vê na tabela abaixo, se apagarmos do mapa todos os 26.077.771 eleitores do Nordeste, ainda assim Dilma ganharia as eleições. Se apagássemos todos os votos de Norte e Nordeste, também. E aliás, se apagássemos Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ela ainda assim teria vencido ontem. O Brasil ainda assim seria governado pela petista.

2) Tampouco é exatamente verdadeira a tal da divisão entre dois Brasis eleitorais de que se vem falando. Quando olhamos o mapa feito pelos portais pintando de azul os estados em que Serra ganhou e de vermelho aqueles em que a vitória foi de Dilma, como esse aqui do IG, dá mesmo a impressão de que o resultado foi a vitória do Brasil de cima contra o Brasil debaixo. Bobagem: quando se utiliza esse tipo de critério para “pintar um mapa” incorre-se em um erro básico: mesmo em um estado no qual um candidato João tivesse apenas 1 votinho a mais do que o candidato Pedro, esse estado seria pintado com as cores do candidato João. Mas seria possível dizer que o candidato Pedro, que perdesse ali por apenas um mísero voto, foi fraco nesse estado? Vejam o caso real deste segundo turno no estado de Goiás: ali, Serra teve 1 ponto percentual e meio a mais do que Dilma Rousseff. Pode-se dizer que esse estado não a referendou, não deu sustento a sua candidatura, não fez parte sua vitória? Uma forma de começar a mostrar para vocês o que quero dizer seria fazermos dois outros mapas. No primeiro, os estados onde a diferença entre Dilma e Serra foi de 5% ou menos, terão a cor cinza e não vermelha ou azul. No segundo, estarão em cinza os estados em que essa diferença foi de 10% ou menos.

Vejam que um mapa desse tipo, mais próximo do que se recomenda para esse tipo de análise, desfaz bastante das teorias regionalistas. Fica bem bem mais tênue a idéia da divisão. Houve uma batalha mais acirrada na maior parte do país. Na verdade, quando vamos aos detalhes dos dados, o que fica evidente é que Dilma foi bem em todos os estados, ficando abaixo dos 40% dos votos apenas em dois, pouco expressivos eleitoralmente: Acre e Roraima (no Norte, aliás). Enquanto Serra teve menos de 40% em dez estados. E chegou a ficar mesmo com menos de 30% e até menos de 25% em alguns. Ou seja, o ponto onde quero chegar é que os resultados dessas eleições não indicam um Brasil dividido: Dilma foi bem em todos os estados. Quem teve sua votação concentrada regionalmente foi Serra. Ele sim dependeu basicamente do Sul e de São Paulo para ter seu desempenho. A prova disso fica evidente quando olhamos a diferença de votos entre os candidatos por região e não por estado. No Sul, a diferença pró-Serra foi de 7,78 pontos percentuais. E no Centro-Oeste ele venceu por ainda menos, meros 1,84 pontos percentuais. Por outro lado, veja-se: no Sudeste, quem venceu foi Dilma, ainda que por diferença de 3,75 pontos. No Norte, a petista teve 14,86 pontos percentuais a mais e, no Nordeste, teve aí sim uma vitória acachapante: incríveis 41,16 pontos a mais do que Serra. Ou seja, repetindo: Dilma foi eleita em todo o país. Se há alguma divisão Norte-Sul é no apoio aos tucanos (em 2006 e 2010), não aos candidatos petistas.

3) Quanto à questão dos votos vindos do Bolsa Família, é claro que não se pode saber o que motivou cada voto, já que a urna não faz perguntas

Portanto, podemos discutir muitas questões interessantes sobre os porquês da vitória de Dilma e da derrota de Serra. Mas seguramente, simplificações regionalistas não cabem. Nem aquelas derivadas de interpretações toscas dos dados, e muito menos as que derivam do mais sujo preconceito. E não custa lembrar: vitoriosos e derrotados, simpatizantes e antipatizantes, dilmistas ou serristas: preconceito tem de ser condenado a despeito de nossa coloração ou preferência. E tanto a grande imprensa quanto a internet, ao deixar de abordar abertamente o assunto para esclarecimento do público, prestam no mínimo um enorme desserviço ao país. E no máximo, uma inaceitável conivência. Nosso modo clássico de lidar com temas espinhosos não pode imperar: não falar do assunto é desleixo com meio Brasil ou conivência com a meia dúzia de preconceituosos.
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
Serra: vestido para vencer
Do Diário Gauche
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Ato lança ofensiva pró-Dilma e denuncia: campanha sórdida e golpista pode causar ruptura política

O salão São José do Hotel Plaza San Rafael viveu um momento histórico na noite de quinta-feira. O ato de mobilização da candidatura de Dilma Rousseff (PT) reuniu mais de duas mil pessoas, contando quem conseguiu entrar no auditório e quem teve que ficar do lado de fora. Mas o tamanho do público não foi o único destaque do ato. A mesa que comandou os trabalhos mostrou uma aliança de forças políticas que há muito tempo não se via na história do Rio Grande do Sul. Lá estava, entre outros, o governador eleito do Estado, Tarso Genro (PT), o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), os senadores Sérgio Zambiasi (PTB) e Paulo Paim (PT), o deputado federal Mendes Ribeiro Filho (PMDB), o deputado federal Beto Albuquerque (PSB), a deputada federal Manuela D’Ávila (PC do B), deputados federais e estaduais do PT, o deputado estadual Luis Augusto Lara (PTB), lideranças históricas da política gaúcha como Aldo Pinto (PDT), além de dezenas de parlamentares, prefeitos, vereadores e lideranças de vários partidos, igrejas, sindicatos e outras organizações da sociedade.
Um tom de urgência, gravidade e intensa mobilização marcou praticamente todas as intervenções. A unidade política representada na mesa, reunindo tradicionais rivais políticos da história recente da política gaúcha, deixou claro qual era o cimento que a solidificava: um objetivo maior, um bem maior, a saber, o futuro do Brasil e a continuidade do atual projeto de desenvolvimento social representado pelo governo Lula. Denunciando a sordidez sem limites da campanha de baixarias, mentiras e difamações patrocinada e apoiada pela campanha de José Serra, vários oradores falaram de riscos para a democracia e lembraram a campanha da Legalidade, liderada por Leonel Brizola em defesa do governo de João Goulart. “Eu nunca vi uma campanha tão sórdida em toda a minha vida”, desabafou o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, que saudou, sem esconder a emoção, seus antigos e , naquele momento, renovados, “companheiros e companheiras”.
Aldo Pinto fez um dos pronunciamentos mais veementes da noite e remexeu em feridas históricas brasileiras e nas relações conflituadas entre projetos de governo que tinha ligações fortes com o Rio Grande do Sul e as elites paulistas. “Tenho certeza que o povo gaúcho não vai escolher outra vez um paulista como governante”. Na mesma linha, o deputado federal do PMDB, Mendes Ribeiro Filho, criticou o projeto representado pelo representante da elite paulista, José Serra, conclamando uma intensa mobilização para as próximas duas semanas. Vários prefeitos do PMDB acompanharam o deputado no ato e anunciaram trabalho ininterrupto nos seus municípios nos próximos dias. Já o senador Sérgio Zambisi fez um alerta especial às mulheres: “Vocês tem uma responsabilidade especial nestas próximas duas semanas, maior que a nossa até, pois, caso Serra vença, são vocês que sofrerão mais”, disse Zambiasi.
Coube ao governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fazer a fala mais veemente da noite. O tom dramático do discurso estava baseado na percepção de que há uma grave ameaça pairando sobre a democracia brasileira. Nunca antes na história do Brasil, um candidato adotou como plataforma política uma campanha de calúnias e difamações contra sua adversária política. Uma inédita sordidez, repetiu Tarso. “Estamos assistindo a uma campanha de golpismo político e midiático semelhante ao que ocorreu antes do golpe de 64. Mas hoje a ameaça não vem dos militares. Hoje essa ameaça é talvez mais grave, pois se trata de golpismo político com apoio de uma parte importante da grande imprensa”. Uma prática, segundo ele, que pode provocar uma ruptura política no país e coloca em risco a legitimidade do processo eleitoral. A frase mais grave e significativa da noite: A campanha de baixarias da candidatura Serra pode provocar uma ruptura política no país.
Mas Tarso e os demais não apostam no caminho da ruptura, mas sim no da superação do nível sórdido da campanha por meio de uma antiga e sempre eficiente arma do PT e dos partidos e organizações populares: a força de sua militância. Nos próximos dias, milhares de ativistas, militantes e apoiadores deverão sair às ruas do Rio Grande do Sul para fazer campanha para Dilma. “A gente ganha uma eleição pedindo voto. Nós temos que ir para a rua pedir votos”, resumiu Mendes Ribeiro, bastante aplaudido. “A militância vai fazer a diferença e eleger Dilma. Eles esgotaram seu estoque de baixarias e já estão repetitivos”, acrescentou Tarso.
Fazendo mais uma vez referência à Campanha da Legalidade, Tarso e as demais lideranças políticas presentes no ato anunciaram que o Rio Grande do Sul pretende mobilizar todo o país em defesa de Dilma, da democracia e do projeto representado pelo governo Lula. A mensagem transmitida no ato foi em tom alto e claro, sem metáforas: as elites paulistas e seus aliados terão mais uma vez à sua frente adversários que, desde Getúlio Vargas, insistem em contrapor um projeto de desenvolvimento nacional ao suposto cosmopolitismo dessa elite que só enxerga o povo pobre como um objeto a ser usado em época de eleição e o país como um balcão de seus negócios privados.
Fotos: Caco Argemi
Do RS Urgente
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
O atraso quer passar por vanguarda
Diário Gauche
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O Biscoito Fino e a Massa: 10 vitórias das forças políticas que apoiam Dilma em 03 de outubro
Da mesma forma em que, na avaliação dos votos marinistas, não cabe tomar as calúnias e os spams pseudo-religiosos como se fossem a identidade da candidatura verde, a avaliação do campo dilmista não pode, não deve, de jeito nenhum, deixar que a decepção pela não decisão em primeiro turno nas presidenciais obscureça um fato indiscutível das eleições à Câmara e ao Senado: a esquerda teve uma grande vitória, talvez seu mais significativo triunfo na história das legislativas da República. Este é, inclusive, um potente argumento em favor de Dilma Rousseff e contra José Serra. O Congresso que acabamos de eleger se alinha esmagadoramente com Dilma; Serra não teria mais que 25% da Câmara na base da sua coalizão. Com toda aquela “paciência” e “poder de negociação” que são típicos seus, imaginem o inferno que viveríamos nas relações do Executivo com as duas casas. Os números são cabais.
1) Câmara: Há três partidos, entre os de alguma importância, que encolheram em mais de 15% na Câmara. Quem são eles? A trinca do antilulismo: o PSDB encolheu 20%, o DEM 34% e o PPS 45,5%. É um tremendo recado das urnas. PTB e PMDB também encolheram, em 13,6% e 11,2%, respectivamente. A esquerda lulista, sem exceções, cresceu: o PT volta a ser a maior bancada da Câmara, com 88 deputados e crescimento de 6%. Seus três aliados preferenciais na esquerda tiveram ótima performance. O PSB saltou de 27 para 34 (+26%), o PDT foi de 24 para 28 (+16,7%) e o PcdoB subiu de 13 para 15 (+15,4%).
O campo dilmista deve saber desses números, tê-los na ponta da língua e usá-los como potente argumento nestes 25 dias: o Congresso que elegemos está alinhado com Dilma, não com Serra. O ex-governador de São Paulo não é conhecido por sua maleabilidade e capacidade negociadora. É eleger Dilma ou tornar um inferno as relações entre o Executivo e Legislativo brasileiros.
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Senado da República
2010 foi o ano em que o PSOL elegeu o mesmo número de senadores que o DEM. O signatário deste blog acredita que as mudanças descritas abaixo, em particular, farão do Senado da República um lugar mais comprometido com a realidade da maioria do povo. Com a exceção do revés parcial em São Paulo, onde as pesquisas indicavam dobradinha lulista, mas só uma senadora do lado governista se elegeu-- e felizmente foi Marta Suplicy--, todas as outras expectativas principais e batalhas chave se resolveram a contento para a esquerda. A eleição da própria Marta, claro, conta como uma das vitórias significativas, dado o contexto e o perigo. É a primeira da minha lista para o Senado, segunda vitória importante, então, das legislativas.
3) Amazonas: Foi a mãe de todas as batalhas no terreno alegórico: o mais estridente, arrogante, histriônico, histérico e parlapatão Senador da República, Arthur “dou surra em Lula” Virgílio, foi a nocaute, obra de mulher, jovem e comunista, Vanessa Grazziotin. Este blog apostou na corrida desde o primeiro momento como seu objeto de desejo. Na época, Vanessa ainda estava dois dígitos atrás. Sempre acreditei nessa mui especial vitória, e o vídeo em que declarei apoio à Senadora Grazziotin contém minhas razões.
4) Piauí. O Brasil é um lugar mais respirável, tolerante e bonito para se viver sem a figura de Heráclito Fortes no Senado. Perguntem ao Daniel. Ainda por cima, caiu o Mão Santa também. Apostamos na corrente pra trás do Heráclito desde o começo e celebramos esse belo golpe desferido sobre o atraso coronélico. Wellington Dias, do PT, se elegeu, e o outro Senador, Ciro Nogueira (PP), é da base de apoio a Dilma.
5) Ceará. Seria chamado de louco quem dissesse, há uma década, que Tasso Jereissati se candidataria ao Senado, num ano em que há duas vagas em disputa, e não conseguiria se reeleger. As vitórias de Eunício e Pimentel na corrida ao Senado são, talvez, o golpe mais violento sofrido pelo PSDB nestas eleições, junto com o sacode-Iaiá comunista do Amazonas. Talvez não seja ruim para o partido, inclusive, na medida em que pode favorecer o surgimento de lideranças mais propositivas do que Tasso tem sido.
6) Bahia. Duas vagas para o Senado em disputa na Bahia, e o carlismo não levou nenhuma. Esse fato, por si só, também teria sido impensável até pouco tempo atrás. Ocorreu uma baita renovação, com as eleições de Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB). Ambas, especialmente ela, já são figuras históricas na cidade de Salvador. Em contraste com a redução (pequena, mas real) da bancada feminina na Câmara, Lídice é parte de uma significativa vitória das mulheres de esquerda nestas eleições para o Senado, e foi parte de um barba-cabelo-bigode na Bahia, que incluiu a reeleição do governador Jaques Wagner em primeiro turno.
7) Paraná. Também aqui o lulismo levou ambas as vagas, e a renovação inclui outra mulher de esquerda: Gleisi Hoffman foi uma grande aposta para o Senado em chapa com Roberto Requião. Ela terminou em primeiro, cheia de moral, e Requião se elegeu em segundo. Hoffman faz do Senado um lugar mais inteligente e receptivo à sociedade. Requião, além de trazer sua perspectiva nacionalista, com certeza não contribuirá para tornar o Senado um lugar mais monótono.
8) Rio Grande do Sul: Um líder histórico dos trabalhadores, Paulo Paim, enfrentou o que parecia, ao princípio, uma briga de foice com três cabeças, mas chegou em primeiro lugar com folga, também cheio de moral. O Senado brasileiro continua tendo um líder negro, continua contando a dignidade de Paulo Paim. Para completar a dobrada, Tarso Genro se elegeu governador no primeiro turno. Os petistas guascas de novo mostraram como se faz a coisa bem feita. O PMDB gaúcho, como o pernambucano, escolheu o antilulismo e sofreu pesada derrota, perdendo a vaga no Senado e não disputando sequer segundo turno contra o PT na briga pelo Piratini.
9) Pernambuco: Pela primeira vez em quarenta anos, Marco Maciel perdeu uma eleição. Desde a época de Telê Santana no comando da seleção, Brasília não terá o esguio líder do DEM como Ministro, Vice-Presidente ou Senador. Em reconhecimento à sua elegância, o blog não tripudiará. Mas considero, sim, a queda de Maciel uma grande vitória para a esquerda e para a democracia em geral. Elegeu-se a dobradinha lulista: Humberto Costa, do PT, redimiu-se de injustiças sofridas com acusações pouco fundamentadas (por denunciar um esquema de faturamento de ambulâncias que ocorreu sob José Serra, em governo tucano) e Armando Monteiro, do PTB, ligado à indústria, e que traz uma visão mais arejada que Maciel. Obrigado pelos serviços prestados, Senador. Mas já era hora. Raul Jungmann, do PPS, passou longe, muito longe de competir por uma vaga.
10) Rio de Janeiro: Elegeu-se Senador um jovem petista, Lindberg Farias, e César Maia ficou fora. Não se conta Crivella como parte de uma bancada de "esquerda", mas ele foi um Senador fiel a Lula, é bem avaliado pelo Transparência Brasil e teve boa atuação legislativa, sem nada que o desabonasse. É uma enorme vitória da esquerda bater César Maia de forma tão categórica, relegando-o a um quarto lugar e negando-lhe qualquer possibilidade de protagonismo como liderança nacional.
São maiúsculas vitórias que devem ser mencionadas, estudadas e trazidas à baila nestes 25 dias de campanha de Dilma Rousseff.
PS: Em especial, saudamos as eleições de Dr. Rosinha, Alessandro Molon e Jô Moraes, endossados pelo blog, respectivamente, em eleições para a Câmara no Paraná, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, assim como a eleição de Raul Pont, também endossado aqui, para a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
PS 2: Basta aparecer uma pessoa que sabe fazer algumas continhas básicas e morre um meme do jornalismo brasileiro.
Do blog O Biscoito fino e a Massa
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Geografia do voto
O que dizem os votos de Marina e como conquistá-los
O que me parece indiscutível é que somente este último, o voto evangélico, chega como irrupção e acontecimento. Foi ele o grosso do voto não computado nas pesquisas. Isso me parece verdadeiro, mas não se pode pular daí para a afirmação de que foi o atraso quem impediu a vitória dilmista no primeiro turno. Essa linha de análise é sempre muito rasa.
Para a campanha de Dilma, a tarefa é dupla. Por um lado, há que se entender os recados dados por todos os segmentos que votaram em Marina, para que a partir daí ocorra a negociação e o convencimento desse eleitorado. Esses recados têm densidade, têm conteúdo, aludem a fatos reais e não se limitam, de forma nenhuma, a uma suposta “Marina no colo da direita”. Jogar por aí é não entender o jogo. Por outro lado, há que se analisar quais foram os erros de campanha de Dilma que ajudaram a impedir a esperada vitória no primeiro turno. Fazer as duas coisas já não é fácil. Fazê-las simultaneamente é mais difícil ainda, pois a primeira—ouvir realmente os eleitores de Marina—exige humildade, proximidade e empatia. A segunda tarefa—fazer a autocrítica da campanha—exige inteligência, desprendimento, distância. São duas tarefas aparentemente contraditórias, que demandam posturas e capacidades opostas, mas elas são simultâneas e complementares.
O fascinante do resultado de domingo é que todo mundo errou. Se alguém aí previu que Marina venceria em Belo Horizonte, Maceió, Distrito Federal, Nova Lima, Volta Redonda, Vitória, Vila Velha e Niterói, além de praticamente empatar com Dilma em Natal e superá-la em Campina Grande, levante a mão, mostre um link com data anterior a 03 de outubro, que eu visto uma camisa do Flamengo ou do Cruzeiro aqui, a gosto do freguês. Todo mundo errou nas previsões, inclusive o vitorioso de domingo na eleição presidencial, que foi claramente o campo marinista. Por isso o futebol, na sua imponderabilidade, é o esporte que mais tem a ver com a política democrática. Sim, trata-se do velho clichê da caixinha de surpresas, mas também do dado menos óbvio de que o futebol é o menos contábil dos esportes, e se há uma mensagem relevante que a campanha de Marina tentou transmitir é a crítica à redução do mundo a uma lógica contábil. Quando gente como Ricardo Paes de Barros, José Miguel Wisnik, Alexandre Nodari e Eduardo Viveiros de Castro coincidem numa candidatura que não é a sua, ou que não é a que você esperava que eles apoiassem, só um sectário muito desprovido de sensibilidade passaria à desqualificação sem uma escuta detida.
No campo dos erros, há que se destacar os estruturais, mais antigos, e os conjunturais, que se manifestaram de uma forma especialmente maluca nesta campanha. Os erros estruturais são parte do recado das urnas marinistas e não podem ser ignorados. O caso de Belo Horizonte é emblemático. Há exatos dois anos, o PT concluía 16 anos de governo de uma coalizão sua na cidade, com um prefeito que deixava o cargo com noventa por cento de aprovação. Esse prefeito, Fernando Pimentel, é diretamente associado a Dilma e é parte da cúpula de sua campanha. A cidade não tem qualquer tradição de antipetismo raivoso como aquele encontrado em partes de São Paulo e Porto Alegre. Como é possível que o resultado aqui tenha sido Marina Silva 39,9%, Dilma Rousseff 30,9% e José Serra 27,7%, num contexto de grande vitória da esquerda nas legislativas?
Essa parte me parece relativamente simples. As urnas disseram: “não gostamos das lambanças do PT-BH nas eleições de 2008 e do PT-MG em 2010, apesar de o PT ter governado bem a cidade. Votaremos em alguém que é suficientemente próxima aos ideais da bem sucedida prefeitura de 1992-2008, mas que se afastou do campo petista, em parte, por lambanças como essa”. Junte-se a esse recado mais estrutural a avalanche de desinformação e propaganda pra cima dos evangélicos nos últimos dias--essa avalanche realmente existiu—e você tem os ingredientes dos números que deixaram todos os junkies políticos belo-horizontinos de queixo caído. Os mesmos ingredientes se combinam em outras latitudes, como o Acre, um estado onde o PT tem fortíssimas raízes, elegeu o Governador e um Senador, mas no qual Dilma ficou empatada com Marina e bem longe de Serra. Se você é petista e não vê aí um recado além do “Marina está no colo da direita” ou do “Marina é a falência do movimento ecológico” (sim, isso foi escrito), sinto muito, você precisa ler a Flávia Cera.
É sabido que, por volta de dois meses atrás, um grupo de lideranças evangélicas procurou a campanha de Dilma, preocupadas com a disseminação de boatos e emails falsos. A campanha fez a “Carta ao Povo de Deus” e ficou por isso mesmo. Os programas de João Santana—excelentes, belíssimos, inovadores—não dedicaram um só minuto, no entanto, à refutação da pilha de spam religioso anti-Dilma disseminada para púlpitos e fiéis. A coordenação de internet não ofereceu respostas a isso. Preferiu brincar de Twitter e #ondavermelha. A campanha online foi feita à base do cada um por si, sem que se aproveitasse de forma coordenada a enorme base de recursos humanos da esquerda brasileira na rede.
Quando os evangélicos voltaram a procurar a campanha de Dilma, em setembro, o nível da loucura havia piorado sensivelmente. Algumas lideranças religiosas gravaram depoimentos de apoio à candidata petista, mas não houve uma resposta sólida e consistente da campanha. Os marqueteiros não são lá grandes fãs do potencial da rede e, por sua vez, a coordenação de internet de Dilma era pobre e fraca de ideias. É importante reconhecer isso sem que esse reconhecimento nos ensurdeça para o recado real das urnas marinistas, que transcende em muito o spam do ódio.
É evidente que temos que explicar que Michel Temer não é satanista. Aliás, podemos inclusive esclarecer que ele já fez pactos com o DEM mas, pelo que nos consta, com Satã nunca aconteceu. Mas é preciso fazer isso sem desmerecer ou desqualificar o recado dado pelas urnas marinistas em sua totalidade, sem reduzir o voto de Marina a qualquer um de seus blocos, muito menos o evangélico, justamente aquele que é mais conjuntural (apesar que não necessariamente menos numeroso) na constituição da identidade da sua candidatura.
Não há motivo para pânico. Marina tem muito mais a ver com Dilma que com Serra, e isso é o próprio Serra quem diz. Para nós, faltam 3 pontinhos. Para Serra, faltam quase 18. Marina sabe que coloca seu capital político em maus lençóis se apoiar alguém como Serra. Também sabe que não lhe interessa entregar nada de graça a Dilma agora, e há que se entender isso. É da política. Um petista reclamando que Marina não está agindo de forma a facilitar as coisas pra nós é como um lateral queixando-se de que um ponta o engana, fingindo que vai abrir o jogo para depois cortar para o meio. Ora, você tem que aprender a marcar. O jogo é jogado.
Ainda estamos bem, mas é preciso jogar com inteligência, humildade e decência e, acima de tudo, não deixar que nenhuma dessas qualidades atrapalhe as outras duas.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Óia – Novas denúncias contra Dilma sacodem o país
Do Milton Ribeiro
domingo, 12 de setembro de 2010
FALTAM TRÊS SEMANAS
Editorial da Carta Maior
Via Cloaca News
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Pesquisas polêmicas

Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão/dia? Que crescesse 9 pontos numa semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?
Marcos Coimbra (*)
Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.
Pesquisas nas quais não se pode confiar são um problema. Elas atrapalham o raciocínio. É melhor não ter pesquisa nenhuma que tê-las.
Ao contrário de elucidar e ajudar a tomada de decisões, confundem. Quem se baseia nelas, embora ache que faz a coisa certa, costuma meter os pés pelas mãos.
Isso acontece em todas as áreas em que são usadas. Nos estudos de mercado, dá para imaginar o prejuízo que causam? Se uma empresa se baseia em uma pesquisa discutível na hora de fazer um investimento, o custo em que incorre?
Na aplicação das pesquisas na política, temos o mesmo. Ainda mais nas eleições, onde o tempo corre depressa. Não dá para reparar os erros a que elas conduzem.
Pense-se o que seria a formulação de uma estratégia de campanha baseada em pesquisas de qualidade duvidosa. Por mais competente que fosse o candidato, por melhores que fossem suas propostas, uma candidatura mal posicionada não iria a lugar nenhum. Com a comunicação é igual. Boas pesquisas são um insumo para a definição de linhas de comunicação que aumentam a percepção dos pontos fortes de uma candidatura e que explicam suas deficiências. As incertas podem fazer que um bom candidato se torne um perdedor.
E na imprensa? Nela, talvez mais que em qualquer outra área, essas pesquisas são danosas. Ao endossá-las, os veículos ficam em posição delicada.
Neste fim de semana, a Folha de São Paulo divulgou a pesquisa mais recente do Datafolha. Os problemas começaram na manchete, que se utilizava de uma expressão que os bons jornais aposentaram faz tempo: “Dilma dispara…”. “Dispara..”, “afunda…” são exemplos do que não se deve dizer na publicação de pesquisas. São expressões antigas, sensacionalistas.
Compreende-se, no entanto, a dificuldade do responsável pela primeira página. O que dizer de um resultado como aquele, senão que mostraria uma “disparada”? Como explicar que Dilma tivesse crescido 18 pontos em 27 dias, saindo de uma desvantagem para Serra de um ponto, em 23 de julho, para 17 pontos de frente, em 20 de agosto? Que ganhasse 24 milhões de eleitores no período, à taxa de quase um milhão ao dia? Que crescesse nove pontos em uma semana, entre 12 e 20 de agosto, apenas nela conquistando 12,5 milhões de novos eleitores?
O jornal explicou a “disparada” com uma hipótese fantasiosa: Dilma cresceu esses nove pontos pelo “efeito televisão”. Três dias de propaganda eleitoral (nos quais a campanha Dilma teve dois programas e cinco inserções de 30 segundos em horário nobre), nunca teriam esse impacto, por tudo que conhecemos da história política brasileira. Aliás, a própria pesquisa mostrou que Dilma tem mais potencial de crescimento entre quem não vê a propaganda eleitoral. Ou seja: a explicação fornecida pelo jornal não explica a “disparada” e ele não sabe a que atribuí-la. Usou a palavra preparando uma saída honrosa para o instituto, absolvendo-o com ela: foi tudo uma “disparada”.
É impossível explicar a “disparada” pela simples razão que ela não aconteceu. Dilma só deu saltos espetaculares para quem não tinha conseguido perceber que sua candidatura já havia crescido. Ela já estava bem na frente antes de começar a televisão.
Mas as pesquisas problemáticas não são danosas apenas por que ensejam explicações inverossímeis. O pior é que elas podem ajudar a cristalizar preconceitos e estereótipos sobre o país que somos e o eleitorado que temos.
Ao afirmar que houve uma “disparada”, a pesquisa sugere uma volubilidade dos eleitores que só existe para quem acha que 12,5 milhões de pessoas decidiram votar em Dilma de supetão, ao vê-la alguns minutos na televisão. Que não acredita que elas chegaram a essa opção depois de um raciocínio adulto, do qual se pode discordar, mas que se deve respeitar. Que supõe que elas não sabiam o que fazer até aqueles dias e foram tocadas por uma varinha de condão.
Pesquisas controversas são inconvenientes até por isso: ao procurar legitimá-las, a emenda fica pior que o soneto. Mais fácil é admitir que fossem apenas ruins.
(*) Artigo publicado originalmente no Correio Braziliense
Via RS Urgente