terça-feira, 2 de novembro de 2010

Desconstruindo o mito do mapa vermelho X azul



Pretendia começar este período pós-eleitoral fazendo uma avaliação da vitória de Dilma Rousseff, mas sou obrigado a dar minha pequena contribuição ao combate do mais recente mito que circula na internet e até entre analistas. Mito só não, um verdadeiro preconceito regional que desvirtua a análise de dados simples: refiro-me, claro, à idéia rapidamente difundida de que a vitória de Dilma teria sido garantida pelos nordestinos ou ao menos pelos nortistas somados aos nordestinos. O assunto mal esconde 3 pontos que muitas vezes se retroalimentam: 1) o preconceito puro e simples daqueles sul-sudestinos que, descontentes com o resultado eleitoral, dizem asquerosamente que “foi culpa do Nordeste”; 2) a idéia que vem surgindo desde 2006 de que vem havendo uma divisão política do Brasil em duas partes: uma porção sul mais tucana e outra porção norte mais lulo-petista e 3) a simplificação também preconceituosa de que a vitória de Dilma é coisa do Bolsa Família (ou seja, a preconceituosa frase do “Nordeste votou com o estômago”). Pois bem, vamos ver por que são absurdos?



1) O primeiro ponto é tão fácil de rebater que chega a parecer absurdo sequer ter que tratar disso: como é que a causa da vitória de Dilma estaria no Norte e Nordeste se 53% dos votos dela vieram do Sul e Sudeste? Posto de modo mais simples ainda: como se vê na tabela abaixo, se apagarmos do mapa todos os 26.077.771 eleitores do Nordeste, ainda assim Dilma ganharia as eleições. Se apagássemos todos os votos de Norte e Nordeste, também. E aliás, se apagássemos Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ela ainda assim teria vencido ontem. O Brasil ainda assim seria governado pela petista.





2) Tampouco é exatamente verdadeira a tal da divisão entre dois Brasis eleitorais de que se vem falando. Quando olhamos o mapa feito pelos portais pintando de azul os estados em que Serra ganhou e de vermelho aqueles em que a vitória foi de Dilma, como esse aqui do IG, dá mesmo a impressão de que o resultado foi a vitória do Brasil de cima contra o Brasil debaixo. Bobagem: quando se utiliza esse tipo de critério para “pintar um mapa” incorre-se em um erro básico: mesmo em um estado no qual um candidato João tivesse apenas 1 votinho a mais do que o candidato Pedro, esse estado seria pintado com as cores do candidato João. Mas seria possível dizer que o candidato Pedro, que perdesse ali por apenas um mísero voto, foi fraco nesse estado? Vejam o caso real deste segundo turno no estado de Goiás: ali, Serra teve 1 ponto percentual e meio a mais do que Dilma Rousseff. Pode-se dizer que esse estado não a referendou, não deu sustento a sua candidatura, não fez parte sua vitória? Uma forma de começar a mostrar para vocês o que quero dizer seria fazermos dois outros mapas. No primeiro, os estados onde a diferença entre Dilma e Serra foi de 5% ou menos, terão a cor cinza e não vermelha ou azul. No segundo, estarão em cinza os estados em que essa diferença foi de 10% ou menos.





Vejam que um mapa desse tipo, mais próximo do que se recomenda para esse tipo de análise, desfaz bastante das teorias regionalistas. Fica bem bem mais tênue a idéia da divisão. Houve uma batalha mais acirrada na maior parte do país. Na verdade, quando vamos aos detalhes dos dados, o que fica evidente é que Dilma foi bem em todos os estados, ficando abaixo dos 40% dos votos apenas em dois, pouco expressivos eleitoralmente: Acre e Roraima (no Norte, aliás). Enquanto Serra teve menos de 40% em dez estados. E chegou a ficar mesmo com menos de 30% e até menos de 25% em alguns. Ou seja, o ponto onde quero chegar é que os resultados dessas eleições não indicam um Brasil dividido: Dilma foi bem em todos os estados. Quem teve sua votação concentrada regionalmente foi Serra. Ele sim dependeu basicamente do Sul e de São Paulo para ter seu desempenho. A prova disso fica evidente quando olhamos a diferença de votos entre os candidatos por região e não por estado. No Sul, a diferença pró-Serra foi de 7,78 pontos percentuais. E no Centro-Oeste ele venceu por ainda menos, meros 1,84 pontos percentuais. Por outro lado, veja-se: no Sudeste, quem venceu foi Dilma, ainda que por diferença de 3,75 pontos. No Norte, a petista teve 14,86 pontos percentuais a mais e, no Nordeste, teve aí sim uma vitória acachapante: incríveis 41,16 pontos a mais do que Serra. Ou seja, repetindo: Dilma foi eleita em todo o país. Se há alguma divisão Norte-Sul é no apoio aos tucanos (em 2006 e 2010), não aos candidatos petistas.





3) Quanto à questão dos votos vindos do Bolsa Família, é claro que não se pode saber o que motivou cada voto, já que a urna não faz perguntas ;) Mas algumas pistas são suficientemente evidentes. Primeiro, o óbvio: os 56% dos votos que Dilma teve estão bem acima dos cerca de 35% de brasileiros cujas famílias recebem o benefício. E é claro, o que temos de indício para imaginar que todos esses brasileiros que recebem no Bolsa Família votaram Dilma? Nada. Pelo contrário: se a memória não me falha, pesquisas de intenção de voto ao longo desses meses indicavam que cerca de 70% dos beneficiários votavam nela, não todos. Agora vejam: 70% dos cerca de 35% de brasileiros beneficiados pelo programa é igual a 24,5%. Portanto, na melhor das hipóteses, metade dos votos de Dilma vieram de pessoas influenciadas pelo Bolsa Família. Tantos nordestinos votaram na petista porque a economia da região viveu no governo Lula uma situação de desenvolvimento inédita, crescendo a taxas chinesas e com as classes baixas tendo sua renda crescendo muito acima da renda das classes altas.


Portanto, podemos discutir muitas questões interessantes sobre os porquês da vitória de Dilma e da derrota de Serra. Mas seguramente, simplificações regionalistas não cabem. Nem aquelas derivadas de interpretações toscas dos dados, e muito menos as que derivam do mais sujo preconceito. E não custa lembrar: vitoriosos e derrotados, simpatizantes e antipatizantes, dilmistas ou serristas: preconceito tem de ser condenado a despeito de nossa coloração ou preferência. E tanto a grande imprensa quanto a internet, ao deixar de abordar abertamente o assunto para esclarecimento do público, prestam no mínimo um enorme desserviço ao país. E no máximo, uma inaceitável conivência. Nosso modo clássico de lidar com temas espinhosos não pode imperar: não falar do assunto é desleixo com meio Brasil ou conivência com a meia dúzia de preconceituosos.

Um comentário:

  1. excelente texto!!!

    no começo achei interessante tais "graficos"

    mas logo notei a bobagem q escondem

    O QUE INTERESSA É:

    desde 2002 o Serra é candidato à presidente!!!

    em 2002 teve 38%
    em 2010 teve 43%

    cresceu 5% em OITO ANOS!!!!

    como diz o PHA, é um jenio

    o mais preparado!!

    o "melhor" ministro

    o "melhor" prefeito

    o "melhor" governador

    nao conquistou nem 1% ao ano de eleitorado!!!

    deve ser por isso q ele dizia q ia abaixar a taxa de juros!!!! ahsuhasuashuasha

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