O quadro eleitoral do segundo turno apresenta cenários que só a literatura ficcional teria capacidade de criar. A realidade é pobre para imaginar tamanho absurdo. A direita no Brasil está isolada. O lulismo de resultados roubou-lhe todas as bandeiras, consignas, justificações, discursos e narrativas. Sobraram-lhes algumas peças rotas, desmoralizadas e arquivadas no museu de tudo do nosso esquecimento. Velhas agendas não-civilistas, extraídas do religiosismo (a religiosidade hipertrofiada) como um fim em si, foram uma a uma sendo reformadas e ostentadas como requerimento político de valor universal. O obscurantismo quer prevalecer em relação ao iluminismo. O atraso quer ser vanguarda. O passado quer abortar o futuro. O arcaico quer representar o prometido. O morto quer se traduzir como vida. O moribundo quer se encenar como salutar. O entrevado quer se anunciar como bailarino. O ovo podre acha que pode ser pinto. O decomposto quer ser tragado como água cristalina. O vampiresco quer ser vibrante colibri, pomba mensageira, profeta da Utopia.
Diário Gauche
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