sábado, 30 de abril de 2011

Um diagnóstico das doenças de formação da mídia

Texto publicado originalmente no Canal VMTV.

Destruir é preciso. Com a constituição de mídia que temos hoje, navegar é impossível. Se navegar é preciso, destruir é preciso para navegar. Não há voz, não há sequer corda vocal, apenas uma grande quantidade de gargantas virgens de gritos. É necessário, então, rasgar essas cordas que prendem as vozes, é necessário destruí-las. Mas é também imprescindível que, concomitante ao processo de destruição, alternativas sejam construídas. Aí está o grande desafio histórico da esquerda mundial, e, especificamente, da mídia de esquerda.
Com a atuação conjunta dos dois elementos que abordei nas minhas duas colunas anteriores no Canal VMTV (ditadura do capital aplicada à comunicação e falsa neutralidade pregada pelos conglomerados de mídia) fica dificultada a tarefa da esquerda de criar uma nova lógica na comunicação (ou uma “outra comunicação”, como preferiu o Fórum da Igualdade).
Temos atualmente, no Brasil, a configuração de três setores midiáticos: a mídia dominante, aliada aos grandes grupos empresarias e à direita nacional e internacional; a mídia oficial, ligada direta ou indiretamente aos governos nacional e estadual do PT; e a mídia contra-hegemônica, ou alternativa. Na primeira está o controle momentâneo de quase toda a informação que circula no país. A segunda é uma dissidência da antiga mídia independente, que, ao ver se partido chegar ao poder, grudou-se a ele, tornando-se orgânica e, substancialmente, acrítica. A terceira, por fim, como única fonte de mídia realmente independente – ainda que o termo seja impreciso – costuma cair no erro de querer ser tão alternativa a ponto de apequenar-se.
Caminhamos para mais do mesmo. A parcela dos comunicadores que eram independentes e se tornaram mais fortemente vinculados ao PT reproduz o que tínhamos nas origens do jornalismo brasileiro, com jornais financiados por partidos políticos e a eles subordinados, objetiva ou subjetivamente. A era da imparcialidade marcha para o fim, mas a alternativa que emerge não é animadora: é o passado travestido em futuro próximo.
Por outro lado, temos uma mídia alternativa que resiste em tornar-se verdadeiramente contra-hegemônica. Não basta ficar à margem, isso é apequenar-se e conformar-se com o estado das coisas. Não é subversão, mal é um espectro de rebeldia. A contra-hegemonia sim, é a tentativa de criação de alternativas, e o embate entre essas alternativas e as lógicas que hegemonizam a comunicação.
Está aí a grande dificuldade do que restou da imprensa independente, esteja ela constituída na internet, em rádios comunitárias ou piratas, ou em veículos impressos. Para além da crítica e do desmonte da lógica dominante, precisamos criar. Criar pautas, criar espaços, criar conteúdos. É preciso destruir, mas é preciso ir além da destruição. É preciso construir. Navegar é preciso, mas em outros mares.
Mas é claro que muitos obstáculos se impõem nesse caminho. As dificuldades financeiras são o primeiro e maior entrave à produção, por exemplo, de reportagens. O que sobra, então? Sobra o esforço colaborativo. Aí está o gigantesco mar onde podemos navegar. É na colaboração que a mídia contra-hegemônica pode produzir alternativas e forçar o embate. Assunto a ser ainda muito debatido, e aprofundado em uma próxima coluna.
Postado por Alexandre Haubrich
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2 comentários:

  1. Muito bom, inteligente, lúcido e uma visão prática e real sobre esse fogo moderno de nossa caverna platônia, a mídia (segundo Donaldo Shuler, é claro!). Abraço!!!

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  2. Vocês deveriam protestar é contra esse medievalismo que ocorre no Brasil e que sempre foi usada como propaganda das ditaduras: a Voz do Brasil.

    E navego pela chamada "mídia alternativa" e o que se vê: críticas ao Obama por ter matado Osama. Por isso a chamada "midia alternativa" tem a credibilidade reduzida a quase zero.

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