Por Montserrat Martins*
Se o Brasil não se desorganizou em 2008, como a Espanha agora,
não foi por acaso. Uma geração de governantes havia sido forjada numa
visão econômica coerente e um dos responsáveis por isso foi Paul Singer,
autor de vários livros sobre Economia para leigos, principalmente nos
anos 80 (também não por acaso, suponho, seu filho André Singer veio a
ser porta-voz do Presidente). Neste início de século XXI quem vem
desempenhando esse papel é José Eli da Veiga, autor de “Mundo em
Transe”, sobre a transição para a economia de baixo carbono. Livros
assim não são atraentes apenas para intelectuais, prendem a atenção de
quaisquer pessoas interessadas em compreender as crises sociais
contemporâneas. É o caso de “Quiénes son los mercados y cómo nos
gobiernan”, de Bibiana Medialdea García e colegas, professores de
Economia da Universidad Complutense de Madrid.
Na Espanha em crise, surgem agora Bibiana e seus colegas economistas
dispostos a fazer esse papel, compartilhando seu saber com lideranças
emergentes (leia-se M15, movimento 15 de maio), capazes de gerar o
“caldo de cultura” para uma verdadeira mudança social, no futuro.
Intelectuais realmente brilhantes são os capazes de transmitir
conhecimentos aos leigos, em contraste com aqueles que falam apenas para
si próprios (hermeticamente, escolhendo palavras difíceis para cultivar
pretensa imagem de conhecimento profundo). Mais que instruir
lideranças, são eles que facilitam o progresso social ao permitir que
gerações inteiras se apropriem de conhecimentos fundamentais para a
compreensão de realidades complexas. Devemos a Paul Singer, por exemplo,
desfazer alguns mitos paralisantes para a evolução da nossa sociedade,
tal como debates sobre capitalismo ou socialismo que “enquadravam” a
realidade em teorias, ao invés de adequar as teorias à própria
realidade. Foi o primeiro a dizer com todas as letras, há três décadas,
que o modelo da China é de um capitalismo de Estado.
O livro espanhol citado é de excelência didática, desvendando o
mercado financeiro global. Mostra (ou relembra aos que já sabiam) que na
origem os bancos tinham papel fundamental no financiamento da
produção, sendo fator de aumento da produtividade. Foi com a evolução e
os desdobramentos das práticas capitalistas que surgiram os “produtos
financeiros” desvinculados da produção, quer dizer, que passaram a
assumir caráter especulativo. O mercado financeiro, assim, faz as vezes
de um “cassino” que recebe apostas de todos, onde alguns ganham mas a
vantagem sempre é da “banca” – ou bancos, no caso. Uma questão chave
para governos que tenham compromisso com a nação e seu povo é
desenvolver a habilidade de conviver com os ‘mercados’ (e seus
movimentos especulativos) de modo a que estes não abandonem os
investimentos no país, mas que ao mesmo tempo sejam induzidos a
aplicá-los nos setores produtivos. Ou seja, tarefas nada simples mas que
merecem ser conhecidas, pelos leigos, para que tenhamos capacidade de
acompanhar os esforços dos governos – e avaliar a seriedade dos mesmos.
*Montserrat Martins é médico e tem formação multidisciplinar que inclui ciências jurídicas e sociais, comunicação e cinema.
Via Sul 21
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