quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A súbita e novíssima intimidade do tucanato com a moralidade pública


Falsa intimidade
A moralidade é uma virtude disputada. Mesmo aqueles que dela conhecem apenas o nome gostam de falar sobre virtudes morais como se fossem íntimos de longa data.
Em época eleitoral, por exemplo, somos obrigados a acompanhar o espetáculo lamentável de moralistas de última hora, que parecem acreditar no pendor infinito da população ao esquecimento e à indignação seletiva.
Melhor seria que eles se abstivessem de falar de moral antes de meditar profundamente a respeito da passagem do Evangelho que exorta a primeiro tirar a trave no seu próprio olho antes de retirar o cisco no olho do próximo.
Por exemplo, o Brasil vive um momento importante com o corajoso julgamento do chamado mensalão. Espera-se, com justiça, que daí nasça uma nova jurisprudência para crimes de corrupção eleitoral. Espera-se também que ninguém saia impune desse caso vergonhoso.
No entanto é tentar resvalar a moralidade à condição de discurso da aparência e da esperteza ver políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Prefeitura de São Paulo tentarem utilizar a justa indignação popular em benefício eleitoral próprio.
Caso eles realmente amem os usos das virtudes morais em política, melhor seria se começassem por fazer uma profunda autocrítica sobre o papel de seu partido na criação do próprio mensalão, da acusação de compra de voto na emenda da reeleição, assim como fornecer uma resposta que não fira a inteligência quando membros de seu partido - como Marconi Perillo, Yeda Crusius e Cássio Cunha Lima - aparecem envolvidos até a medula em casos de corrupção.
Seria bom também que eles explicassem por que apoiam incondicionalmente um prefeito que chegou a ter seus bens apreendidos pela Justiça no ano passado devido ao caráter da contratação da empresa Controlar, e por que a Justiça suíça e a francesa investigam propinas que a empresa Alstom teria pago a políticos do governo paulista em troca de contratos com a Eletropaulo.
Por fim, seria uma boa demonstração de respeito aos eleitores que o candidato Serra se defendesse, de preferência sem impropérios, a respeito das acusações sobre o processo de privatização de empresas federais no período FHC.
Sem isso, toda essa pantomima lembrará uma velha piada francesa sobre um sujeito que dizia a todos em sua pequena cidade ser amigo de Charles de Gaulle. Eis que um dia, De Gaulle aparece na cidade. Para não ser desmascarado, o sujeito resolve chegar perto do presidente e, com um tom de cumplicidade, perguntar: "E aí, Charles, o que há de novo?". "De novo", respondeu De Gaulle,"só mesmo essa intimidade".
Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP.

5 comentários:

  1. Um panaca representante do PSDB comentou o artigo do Safatle na Folha de São Paulo e, ao invés de tocar as questõs centrais do artigo, ou na central, que é o falso moralismo mui seletivo do partido, passou a criticar a postura do autor e sua ligação com a candidatura Haddad, em falácia argumentativa típica da aus~encia completa de argumentos, e pura desfaçatez: ele simplesmente ignora a prática corrupta corrente do PSDB e tenta desqualificar o artigo, somo sempre, como "coisa de petista", como se isso por si só já desqualifique o emitente. Tal escrotice oferece um quadro de quais são os critérios norteadores do PSDB.

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  2. A prática corrupta corrente no Brasil não é só no PSDB, é também no PT. É interessante, os Blogs petistas não comentam absolutamente nada sobre esse importante julgamento da história Preferem criticar quem está morto e sepultado, o pessoal do PSDB. O STF está mostrando ao Brasil que o governo do PT também é corrupto, também faz tudo para permanecer no poder, também faz jogo sujo, manipulação, tal como fizeram os tucanos, os pemedebistas, o pessoal da Arena. O PT é igualzinho aos outros, só não enxerga quem não quer.

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  3. Fui critico do governo Yeda e sua total incapacidade de se relacionar politicamente. Mas o Safatle está mal informado sobre a Yeda, contra ela, pessoalmente, não existe nenhum processo. Ela foi inserida numa ação civil pública, mas os Tribunais entenderam que ela é parte ilegítima, porque não participou.

    Houve corrupção em seu governo? Sim, houve no Detran, R$ 40 milhões teriam sido desviados por políticos indicados por ela e por Rigotto, mas esse valor é uma titiquinha perto do mensalão petista.

    O mensalão tucano em MG desviou R$ 5,3 milhões.

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  4. Maia,

    Apesar de concordar quando dizes que o PT é igual aos outros - é o que digo há tempos - tenho uma ressalva a fazer.

    Os simpatizantes petistas são só isso. Simpatizantes. São torcedores que não se importam se o time ganha com um gol impedido, de mão, aos 48 do segundo tempo.

    Eles não são o problema.

    O que dizes pode ser revertido tranquilamente - há sites anti-petistas por aí (por exemplo, o Tio Rei, o Augusto Nunes, o Implicante, pra pegar uns do teu blogroll) que insistem em dizer que o problema da corrupção no país se deve ao PT.

    Também são torcedores, simpatizantes. Mas insistem em se travestir de jornalistas.

    Pode-se dizer que nestes sites também há cegueira quando a oposição atual aparece enrolada em corrupção.

    E tudo isso acho bem normal. É uma discussão de política que envolve pouca razão e muita emoção. Faz parte, mas acho que debate político com tanta emoção fica vazio, como está o debate hoje no país, graças a uma oposição incompetentíssima.

    O problema do país, atualmente, é que a grande imprensa tomou para si o papel de oposição. Isso é grave. Jornal não é partido político, e não pode agir como um. Essa é uma falta grave na nossa democracia.

    Com o episódio do Cachoeira, ficou evidente que a imprensa (a Veja, no caso) pouco se importa com a denúncia da corrupção - não o fez no caso do Cachoeira, e usou de seus serviços com impunidade. Ficou escancarado que a Veja assumiu um lado, e hoje está no vale-tudo contra o PT.

    Repito, a Veja não é partido, e não deve agir como um.

    Podes dizer que sem a denúncia de Veja não haveria o julgamento do mensalão - é possível. Mas aí te pergunto: e as outras denúncias? E o mensalão tucano, por exemplo? E as denúncias eleitoreiras, vazias, sem provas, mesmo depois de investigação?

    Será que vale a pena termos uma imprensa demonizando um partido político exaustivamente em prol de outros que têm os mesmos exatos defeitos?

    Ou seja, a Veja e seus assemelhados está no mesmo nível dos blogueiros petistas - torcendo, com toda "burrice, ingenuidade, cegueira ou teimosia".

    Esse é o outro lado da moeda, e ele é bem ruim para o país.

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  5. Guimas, Veja no Brasil e Clarin na Argentina ( e estive lá faz 15 dias) são fundamentais. Sim, eles não são partidos políticos, mas podem ter opinião e não são poucos e não são burros os que compartilham a opinião dessa grande mídia. Falam por ai que as estatais brasileiras não deveriam dar dinheiro para a Veja, mas quem consome Veja também tem conta no Banco do Brasil, CEF, bota gasolina na Petrobrás e, além de tudo isso, forma opinião. O governo Cristina K é impopular exatamente por isso, porque alimenta o radicalismo,. atira pobres contra ricos e nenhum país do mundo se desenvolveu socialmente alimentando antagonismos sociais. Isso tá provado e comprovado, basta ler a história da humanidade.

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