Os
protestos de ontem em Feira de Santana contra a ativista Yoani Sánchez
foram certamente exagerados, assim como foi antidemocrático não terem
deixado o cineasta Dado Galvão — membro do Instituto Millenium — mostrar
seu filme. Tais atitudes dão motivos aos comentários que nós todos já
estamos lendo e não devem receber elogios de nossa trincheira. É burrice
pressionar a moça desta forma. Ela deve estar se sentindo uma tremenda
celebridade e uma incomodação para quaisquer
regimes-que-não-respeitam-a-liberdade, isto é, as esquerdas. Acho que um
pouco de reflexão sobre a marionete cubana não fará mal a ninguém.
Yoani Sánchez é um produto barato e nada
camuflado. Ela não nega receber dinheiro dos EUA, do El Pais, da CNN,
da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) e do Instituto Millenium,
do Brasil, do qual é “especialista”. Do ponto de vista material, vive
muito bem em Cuba. Apesar de ter tentado sair 20 vezes do país,
estranhamente viveu na Suíça e voltou para onde era mais útil e
lucrativa para todos os envolvidos. A moça está bem assessorada e agora
que seu passe vale menos a partir das novas facilidades sair e entrar do
país, promove — quem promove mesmo? — uma tournée mundial… É óbvio que a direita está amando a ideia do périplo de Yoani.
Disse que o produto é barato e é mesmo.
Paga-se uma blogueira e recebe-se enorme repercussão. Estas são de todo
gênero, algumas mais inteligentes, outras bem burras. O plano de
construção de Yoani é velhinho e de inspiração soviética: basta pensar
em Alexander Soljenítsin e Andrei Sakharov. A CIA deve ter pensado: se
estes soviéticos nasceram e viveram dentro do país, recebendo toda a
cobertura (e peninha) da imprensa ocidental durante a Guerra Fria, por
que não criar uma dissidência controlada e paga por nós? Sim, porque nem
sempre os modelos dos russos funcionaram direito. Soljenítsin, por
exemplo, revelou-se foi um fiasco: imaginem que o homem foi expulso para
o Ocidente e logo passou a propor um estado religioso na Rússia. Depois
fez muito pior. Escreveu sobre o absoluto protagonismo dos judeus
russos no Partido Comunista e na polícia secreta soviética, e acabou
tachado de antissemita e desmoralizado nos EUA. Morreu no anonimato.
Então, para se livrar de modelos incontroláveis, melhor pagar logo
alguém que trabalha sob nossa orientação.
Agora que pode sair de Cuba, a tentativa
é de que a moça se torne uma mensageira da liberdade. Talvez receba um
Nobel da Paz. Ela é uma figura a favor de Cuba, não será de direita nem
de esquerda — depois que o Muro caiu não fazem mais sentido a direita e a
esquerda, certo? — e carregará um pensamento político perfeitamente
rarefeito, sempre defendendo a democracia no estilo norte-americano.
Mas, sabem?, na verdade, Yoani não me
interessa. A presença dela aqui se assemelha a uma visita do Papa. O
pior é que se tornará uma autoridade. Vai opinar sobre tudo, um
saco. Acho o tema e a Yoani muito chatos e apenas gostaria de saber qual
terá sido o parceiro que criou sua atual tour mundial.
Pois, em vez de trazerem o David Bowie, trazem um troço desses…
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