quinta-feira, 9 de julho de 2009

A governadora lúmpen do Piratini

Via Rs Urgente


Para o seu filho entender (no consagrado estilo retardo-zero-horioso, sorry, periferia!)

A direita do Rio Grande do Sul conseguiu eleger para o governo do Estado uma deputada federal chamada Yeda Rorato Crusius ou YRC, filiada ao PSDB. Foi no ano de 2006. Quem então governava o Estado era o senhor Germano Rigotto, filiado ao PMDB. Este também era candidato, mas foi rejeitado, já no primeiro turno. YRC adotou o discurso da renovação, com o slogan publicitário “um novo jeito de governar”. No segundo turno da eleição de 2006, YRC disputou com o candidato petista Olívio Dutra.

A direita fez um esforço muito grande para derrotar o ex-governador Olívio, porque via nele uma impossibilidade de contar com o aparelho estatal para obter êxito nos seus negócios, sejam os negócios lícitos, sejam os negócios que precisam de meios menos visíveis para prosperar.

A parte mais sensível do corpo da direita é o bolso. Se a direita vê que o fluxo de dinheiro no seu bolso não será abastecido, ela afasta-se do objeto ou pessoa como o diabo da cruz. Por isso, a direita rejeitou o ex-governador Olívio. E escolheu YRC para governadora do nosso Estado.

YRC foi professora de economia na Universidade. A reputação dela como mestra é muito fraca. Não tem e nunca teve nenhum estudo publicado. Foi uma professora apagada. Projetou-se na vida pública porque trabalhou na RBS TV. No tempo da inflação, ela explicava aos telespectadores porque o preço dos legumes subia diariamente. Ficou conhecida e depois se elegeu deputada federal sem nunca ter qualquer experiência ou militância política. Durante o governo do vice do presidente Collor de Mello, aquele que renunciou para não sofrer um impeachment, por corrupção e irregularidades variadas, YRC chegou a ser ministra durante 72 breves dias. Mas no Brasil, ninguém se lembra disso, porque não foi notada.

Durante o governo FHC, seu companheiro de partido, continuou apagada, mesmo quando – já no governo Lula – foi à tribuna da Câmara pedir o impeachment de Lula, por motivos que ela sequer conseguiu sustentar no próprio discurso.

Depois de ser eleita governadora, YRC foi correndo comprar uma casa nova. Alegou a época que uma governadora não podia morar num local sem apresentação. Muitos perguntaram: “mas como deputada, ela morava antes em que local, numa cabeça-de-porco?”

Comprou uma casa localizada em bairro chique de Porto Alegre. O local de fato tem boa apresentação, mas ela ainda não apresentou as condições do negócio que realizou. Ninguém sabe quanto custou a sua atual casa, quem pagou, e como foram os pagamentos. Não está claro até hoje, trinta e poucos meses depois, a origem dos recursos da família Crusius para adquirir aquele imóvel.

Antes de assumir, YRC quis promover um aumento geral de impostos, contrariando o que havia prometido na campanha eleitoral. Foi derrota pelos deputados da Assembléia. No dia da posse, apareceu no balcão do Palácio Piratini com a bandeira do Estado virada. Mau presságio. A partir daí tudo virou de ponta cabeça em nosso Estado e sobretudo em seu governo. Nada mais deu certo.

YRC foi a um programa de entrevistas em São Paulo e afirmou alguns absurdos sobre a cultura e os costumes do Rio Grande do Sul. Chegou a dizer que a pantalha faz parte da indumentária dos sul-rio-grandenses. Quando se sabe que pantalha é um abajur, um quebra-luz doméstico. Trocar o sentido de palavras e o seu uso adequado tem sido uma constante na fala de YRC. Uma vez ela disse que a barra de Rio Grande precisava ser “assoreada” para melhor trânsito das embarcações que lá aportam. Às continuadas crises que abalam semanalmente seu governo, YRC deu o criativo eufemismo de “bebê japonês que colocaram no meu colo”.

YRC aspira ser bem dotada culturalmente, mesmo quando afirma que adora filme brega de terror, quando diz que lê os piores best-sellers indicados pela Veja, e sobretudo quando escreve cartas lamuriosas a um septuagenário colunista de amenidades do jornal Zero Hora.

O governo de YRC abriga as piores práticas públicas. Quem afirmou isso foi um dos seus secretários de Estado, senhor Cesar Busatto, em diálgo com o vice governador, senhor Paulo Feijó. Na ocasião, Busatto foi saído do governo, e o resto do secretariado permaneceu como estava, ou seja, exercitando as piores práticas públicas.

Em novembro de 2007 foi iniciada a Operação Rodin que reunia agentes da Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público Federal, e apurou crimes de formação de quadrilha, fraude a licitações, tráfico de influência, sonegação fiscal, estelionato, peculato e corrupção ativa e passiva. A autoria destes crimes foi atribuída a agentes públicos do governo de YRC, líderes partidários da aliança eleitoral que a apoiou, e a militantes das legendas que a sustentam politicamente. Ao todo, mais de 40 pessoas foram indiciadas pela PF e são réus da Justiça Federal de Santa Maria, por responsabilidade no desvio de recursos públicos do Detran/RS estimados em mais de 44 milhões de reais.

Pode-se afirmar que o governo YRC é um consórcio lúmpen montado para predar e depredar o Estado do Rio Grande do Sul. A administração está paralisada, a educação está sendo desmontada, a saúde pública é vegetativa, vivendo de repasses, programas e verbas federais. A segurança pública encontra-se igualmente sucateada, desprestigiada e seus agentes sem meios de trabalhar. A política ambiental é ditada pelos interesses dos investidores em papel e celulose, o Estado simplesmente homologa a melhor decisão do setor privado. A essa renúncia do poder público em governar e manter investimentos nas áreas sociais a governadora dá o nome de déficit zero.

A paralisia do Estado tem um nome: déficit zero. Disso o governo tucano tem feito cavalo de batalha. Se vangloria de feitos e omissões que em outra parte se chamaria de irresponsabilidade social, incúria administrativa, inaptidão gerencial, e incapacidade política.

YRC representa a parte visível do que há de pior no Estado. Ela mobiliza e consegue chamar a atenção para um lado perverso da sociedade sulina. O subterrâneo lúmpen, marginal mesmo, de uma camada da classe dominante está no poder – através da liderança de YRC.

A crise na produção e na repartição dos ganhos do capital, agravado pela falência dos valores morais gerados na revolução burguesa regional de 1893-1930, bem como a predominância econômica (e a consequente hegemonia político-cultural) de um setor primário atrasado, associado e dependente têm propiciado uma dominação eleitoral da fração mais conservadora, reacionária e, por vezes, criminosa no Rio Grande do Sul. Com o pequeno interregno do quadriênio de Olívio Dutra (1999-2003).

O que está acontecendo no Estado não é por acaso ou pela má vontade dos deuses com o Rio Grande do Sul. Há um caldo de cultura que faz crescer e prosperar as ervas daninhas, os animais predadores, a criminalidade como expressão deformada das relações políticas e – por conseguinte – o governo lúmpen de Yeda Rorato Crusius. YRC agora é a soberana do pântano guasca, a imperatriz lúmpen e a voz desafinada do submundo pré-político. Viva o mundo guasca – churriado de vergonha e lama, da nuca até o garrão – como diria o grande poeta chucro, Jaime Caetano Braun.

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