quarta-feira, 20 de junho de 2012

Assange pede asilo no Equador, Jornal Nacional ataca Rafael Correa



Nesta terça-feira, o revolucionário da comunicação, Julian Assange, criador do Wikileaks, pediu asilo político no Equador. Assange é um perseguido político graças à sua iniciativa de revelar, através da internet, milhares de documentos secretos que desnudam a política externa estadunidense e seus desrespeitos à soberania nacional dos povos, sempre com o apoio das elites nacionais.
Após o início da revelação dos documentos – ainda restam muitos a serem tornados públicos – Assange foi acusado de estupro na Suécia, em uma tentativa de detê-lo no país e, segundo ele explica, enviá-lo aos EUA, onde poderia ser julgado pela divulgação dos documentos e condenado até mesmo à pena de morte. Em prisão domiciliar na Inglaterra, Assange teve seu último recurso no país negado, e estava na iminência de ser extraditado para a Suécia quando, nesta terça, fugiu para a embaixada equatoriana.
O tratamento da emissora ao jornalista tem oscilado, desde sua aparição, entre ataques por conta das revelações do Wikileaks (que envolveram, inclusive, jornalistas da própria Rede Globo) e saudações à liberdade de imprensa representada pelo vazamento dos documentos. Depois que revelações sobre o Brasil começaram a ser feitas, e depois que o cerco do governo estadunidense e de grandes empresas internacionais – Visa e Mastercard, por exemplo – foi apertado ao redor de Assange, as revelações do Wikileaks desapareceram da TV Globo (assim como desapareceram dos principais jornais do país). Na matéria apresentada pelo Jornal Nacional, a carta enviada por Assange ao presidente do Equador, Rafael Correa, sequer é citada. Diz a carta: ”A perseguição da qual sou alvo em diversos países deriva não só de minhas ideias e ações, mas de meu trabalho ao publicar informações que comprometem os poderosos, de publicar a verdade e, com isso, desmascarar corrupção e graves abusos aos direitos humanos ao redor do mundo”.
Se Julian Assange pede asilo no Equador, isso não acontece por acaso. Ele que a condução da política externa de alguns governos latino-americanos não tem sido de alinhamento automático com as pretensões estadunidenses. É o caso do governo de Rafael Correa, como também acontece na Venezuela ou na Bolívia, por exemplo. Estes governos, assim como Cristina Kirchner, na Argentina, vêm atacando o controle da comunicação em seus países por grandes grupos de comunicação, vinculados a gigantes econômicos, ao capital internacional e à direita entreguista/neoliberal de cada um desses países. Dessa forma, Correa, Chávez, Morales e Cristina agem em defesa da verdadeira liberdade de expressão, a que inclui toda a população – ou grande parte dela –, não deixando a liberdade como direito apenas de um ou outro grupo econômico.
É contra esse tipo de política, é contra os governos progressistas e anti-imperialistas da América Latina, que a Rede Globo fala – e fala como empresa com espírito monopolista e como empresa que cresceu à sombra de uma Ditadura Militar que abriu as portas do país à invasão econômica estadunidense – quando, pela voz do repórter Marcos Losekann, correspondente em Londres, ataca Correa usando a ironia e o sarcasmo travestidos como recurso de propaganda política – ainda que alegue fazer jornalismo.
Diz Losekann: “O curioso é que o presidente do Equador, Rafael Correa, não é exatamente um defensor da liberdade de imprensa, ao contrário de Assange. O presidente equatoriano vive dizendo que a imprensa está a serviço de grandes grupos empresariais que só querem desestabilizar as instituições”. Esquece de dizer que a imprensa a que Correa se refere quando diz que está a serviço de grandes grupos empresariais e que só querem desestabilizar as instituições, não é toda a imprensa, mas apenas alguns setores da mídia que, no Brasil, são representados fundamentalmente pela própria Globo. A reportagem do Jornal Nacional e a forma com que foi descrito Rafael Correa são apenas mais uma demonstração de que o presidente equatoriano tem razão no que diz.

Um comentário:

  1. Completamente Paradoxal, todos os governos sul americanos elogiados fazem exatamente aquilo que Assange mais critica: o controle do estado sob os meios de comunicação ou como se gosta de dizer por aqui: o controle social da mídia, que só existe em países de governos muquiranas.

    E mais, o país que está a exigir a extradição de Assenge não é nada muquirana, um dos países mais igualitários e democráticos do mundo: a Suécia.

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