quinta-feira, 21 de junho de 2012

Com asilo a Assange, Rafael Correa pode calar críticos na imprensa



São Paulo – O pedido de asilo político que o criador do WikiLeaks, Julian Assange, fez oficialmente ontem (19) à embaixada do Equador em Londres, no Reino Unido, não é exatamente uma novidade. Em 2010, o então vice-chanceler equatoriano Kintto Lucas ventilou a possibilidade de receber o ativista australiano – que já começava a sofrer ameaças e perseguições. Lucas é jornalista, e gostaria que Assange desenvolvesse seu trabalho livremente.

Poucos dias depois, os dois chefes de Lucas – Rafael Correa, presidente do Equador, e Ricardo Patiño, ministro de Relações Exteriores – desautorizaram o vice-chanceler. “Nenhum proposta formal foi feita ao diretor do WikiLeaks”, garantiu o chefe de Estado na época. “Foi uma declaração pessoal do vice-chanceler, que não teve minha autorização.” Rafael Correa aproveitou para cutucar os Estados Unidos, dizendo que o país estava cometendo um erro ao perseguir Julian Assange, mas frisou que jamais apoiaria atividades que ferissem a lei de outras nações.

Até ontem, Julian Assange se encontrava em prisão domiciliar no Reino Unido, onde espera que a Corte britânica julgue sua extradição à Suécia. Duas mulheres suecas acusam o criador do WikiLeaks por crimes sexuais, e a Justiça do país nórdico deseja tê-lo em Estocolmo para investigar as denúncias e, se for o caso, julgá-lo. Como foi um dos grandes responsáveis pelo vazamento de 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos, Julian Assange teme que sua extradição à Suécia seja apenas uma escala rumo à Washington, onde crimes de espionagem podem levar à pena de morte.

De 2010 pra cá, a relação entre o criador do WikiLeaks e o presidente equatoriano parece ter melhorado. Assange entrevistou Rafael Correa em seu talk show The World Tomorrow, e os dois trocaram risadas e conselhos sobre a segurança um do outro. “Bem-vindo ao clube dos perseguidos”, brincou o presidente. O ativista não deixou por menos: “Não vá ser assassinado”, recomendou.

Receber Julian Assange no Equador pode ser uma jogada política de Rafael Correa para calar seus opositores. O presidente tem sido sistematicamente denunciado pelos grandes meios de comunicação do país, pela Sociedade Interamericana de Imprensa e pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos como cerceador da liberdade de expressão. Oferecer asilo ao homem que levou essa liberdade ao extremo – e, por isso, vem sendo perseguido pelos Estados mais democráticos do mundo – poderia ajudá-lo a calar quaisquer críticas adicionais.

“Estamos dispostos a defender princípios, e não interesses mesquinhos”, escreveu o chanceler Ricardo Patiño em sua conta no Twitter. “A liberdade de expressão agora se discute no mais alto nível. Não tememos estar com a batata quente nas mãos. Iremos enfrentar o que seja necessário.”


Publicado por Rede Brasil Atual
Via Correio Progressista

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