quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Mensalão - Mostrar o elefante


Há várias maneiras de esconder um elefante. Uma delas é apresentando suas partes em separado. Em um dia, aparece a pata. No dia seguinte, você mostra a tromba. Passa um tempo e vem a cauda. No fim, não se mostra o elefante, mas uma sequência de partes desconectadas.
Desde o início, o mensalão foi apresentado pela grande maioria dos veículos da imprensa nacional dessa maneira. Vários se deleitaram em mostrá-lo como um caso de corrupção que deixaria evidente a maneira com que o PT, até então paladino da ética, havia assegurado maioria parlamentar na base da compra de votos e da corrupção. No entanto o mensalão era muito mais do que isso.
Na verdade, ele mostrava como a democracia brasileira só funcionava com uma grande parte de seus processos ocultados pelas sombras. O jogo ilícito de financiamento de campanha e de uso das benesses do Estado deixava evidente como nossa democracia caminhava para ser uma plutocracia, independentemente dos partidos no poder.
Como a Folha mostrou em uma entrevista antológica, o então presidente do maior partido da oposição, o senador Eduardo Azeredo, havia sido um dos idealizadores desse esquema, que, como ele mesmo afirmou, não foi usado apenas para sua campanha estadual, mas para arrecadar fundos para a campanha presidencial de seu partido.
Não por acaso, o operador chave do esquema, o publicitário Marcos Valério, já tinha várias contas de publicidade no governo FHC. Ninguém acredita que foi graças à sua competência profissional.
Ou seja, a partir do mensalão, ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes partidos.
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (como financiamento público de campanha, reformas que permitissem ao partido vencedor constituir mais facilmente maiorias no Congresso, proibição de contratos do Estado com agências de publicidade etc.), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do “maior caso de corrupção do pais”.
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!
Desta forma, o povo brasileiro poderia ver o elefante inteiro. Com o elefante, o verdadeiro problema apareceria e a indignação com a corrupção, enfim, teria alguma utilidade concreta.
Via Aldeia Gaulesa

Um comentário:

  1. O julgamento deve ser jurídico e não político. Mas os fatos estão na mesa: R$ 100 milhões de reais foram movimentados, tudo praticamente em dinheiro vivo, em cash, porque essas quantias não podiam aparecer. Houve empréstimos simulados entre Marcos Valério e o PT. A versão é que o PT estava sem grana, mas havia elegido o presidente Lula, era o partido do poder -- e continua sendo. José Dirceu era o homem forte, que negociava com os partidos aliados. Havia dificuldade em aprovar os projetos impopulares, como a reforma da previdência. Estão a dizer que não houve mensalão, mas recursos foram movimentados nas vésperas das votações. Esses são os fatos jurídicos. Cumpre ao STF aplicar os fatos à lei. Infelizmente, a partir da indicação do Ministro Nelson Jobim, o STF, aos poucos, vem se tornando um tribunal político. As indicações de Lewandowski, ligado ao Lula e de Dias Toffoli, advogado do PT, são demonstrações cabais disso. Espero apenas que o nosso STF não se transforme num tribunal bolivariano que sempre obedece as ordens do dono do poder.

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