
Como já era de se esperar, só agora aparecem os oportunistas de plantão (a maioria antes estava quietinha) para dizer o óbvio ululante "eu já sabia" de sempre.
Nunca fui um admirador total do Dunga (sei que ele é um baita de um reaça e isso Felipão também era), mas não se pode negar que ele deu um espírito coletivo de que a seleção de 2006 sequer passava perto. Para refrescar a memória coloquei a foto acima (clique nela para ampliar) estampando a total falta de comprometimento do "quarteto mágico" de Parreira.
Ninguém mais do que eu (que tinha apenas 13 anos) chorou a derrota de 82 na Espanha. Só que depois cresci fui entender as causas da derrota: O futebol "faceiro" que empilha atacantes nunca chega muito longe. Parreira já parecia ter aprendido isto em 94, quando ganhou a copa com uma equipe equilibrada, mas preferiu esquecer a lição (por influência da Globo e sua trupe?) em 2006. Deu no que deu.
Agora aparece a mesma turma de sempre, para oportunisticamente falar em "Era Dunga". Pelo argumento "sublime" destes entusiastas a Argentina de Maradona deveria ser campeã. E o que se viu? Chocolate da Alemanha.
Acho que Dunga nem deve ficar. A crítica da imprensa em cima dele agora vai ser simplesmente insuportável. Mas deve ser efetivado em seu lugar um técnico que prossiga com a mesma filosofia (Mano Menezes, Felipão seriam ideais). Voltar ao passado com o futebol "oba,oba" seria um retrocesso. A foto acima que o diga.
Para completar publico a excelente crônica de
Juremir Machado da Silva:
Carta a Dunga
Caro Dunga Minha solidariedade, Dunga. Tu foste genial. Eu me tornei definitivamente teu fã. A eliminação contra a Holanda não abalará em coisa alguma a minha admiração. Tu és ingênuo, Dunga. Quiseste ganhar com base na seriedade, na lealdade e no caráter. Tiveste a coragem de dizer sempre a verdade e de enfrentar os mais poderosos. Cometeste erros, Dunga, mas isso é normal. Só os cretinos imaginam fazer tudo certo. Deixaste de fora alguns meninos talentosos, Dunga, e o velho Ronaldinho Gaúcho. Tiveste boas razões para isso. Tu havias ganhado tudo com o grupo que levaste a Copa. Desejavas valorizar os teus comandados e vencer ou perder com eles. És um capitão de navio à moda antiga. Aceitaste afundar com teu navio. Tua vitória teria sido uma revolução nos costumes. Que pena! É verdade que não apostaste na beleza. Outros, no entanto, ganharam sem beleza alguma e tampouco sem tua valentia e tua nobreza rude. A derrota foi o resultado de alguns erros que podem acontecer com qualquer um: um gol contra de Felipe Melo, uma agressão boba de Felipe Melo, que determinou sua expulsão, e a perda do controle emocional pelo time todo. O mesmo Felipe Melo, entretanto, deu o lindo passe do gol do Robinho. Estiveste a um passo da glória, Dunga. Agora, voltaste, apesar dos triunfos anteriores, a ser um desgraçado, um maldito, um desprezado. Conheço isso, Dunga. Por mais que tu venças, serás sempre um perdedor. É tua sina. Os donos do mundo não suportam a tua franqueza, que chamam de arrogância. Detestam tua simplicidade, que rotulam de grossura. Odeiam tua transparência, que os impede de conceder privilégios e de fazer negociatas na tua cara. Foste um exemplo, Dunga. O mundo, porém, não está preparado para a tua vitória. Espero que esteja para a de Maradona, técnico antagônico e completar a ti, mas não acredito. Tomara que eu me engane. Foste bravo, Dunga, impávido, colosso. Não mandaste Felipe Melo pisar no adversário. Buscaste o equilíbrio. Apostaste no talento de Kaká e Robinho. Sonhaste com a beleza. Ela não sorriu para ti. A mídia te condenou por não teres feito o jogo dela. Viste o jogo como um jogo e tudo fizeste para alcançar os teus objetivos. Não compreendeste que o jogo é também um teatro no qual alguns devem sempre figurar nos camarotes. Até o teu sotaque incomodou, Dunga, neste país onde os que debocham do teu sotaque têm sotaques tão ou mais caricaturais. Tiveste personalidade, Dunga. Isso é imperdoável. Há muita gente feliz agora. Teus inimigos podem sorrir triunfantes e sentenciar: “Eu não disse...” Nós, os ruins, os ressentidos, os malditos, os perdedores, apesar de todas as nossas vitórias, estamos contigo Dunga. Somos os teus representantes por toda parte. Tinhas razão, Dunga: boa parte da mídia estava dividida, torcendo pelo Brasil e, ao mesmo tempo, te secando. Para vencer neste mundo, Dunga, é preciso aprender a ser hipócrita. Tu nunca conseguirás. Tuas vitórias serão sempre laboriosas. Tuas derrotas te marcarão mais. Tu, ao contrário de outros, não te escondes jamais. Aceita, caro Dunga, meus cumprimentos.